3 de nov. de 2010

Por que o Papa não pode falar?

"Toda unanimidade é burra". Nelson Rodrigues.


As palavras do Papa pesaram. E pesaram porque são as palavras de Cristo. E assim como Cristo mesmo disse que não veio trazer paz à Terra, logo, as palavras do Papa criaram uma enorme divisão. Os petralhas, por exemplo, vestiram a camisa da infâmia. Divulgaram em seus sites, blogs e twitters diversos slongans alá "pátria ou morte" contra o Papa. "Vamos detoná-lo nas urnas votando em Dilma". "A Igreja Católica nos persegue. Vamos combatê-la". Fora aqueles que são mais tolos e partem pros xingamentos por pura falta de argumentação. Teve até Bispo usando o discurso do Papa em favor de Dilma, mas não apareceu nenhum pelo Tucano. E olha que o que eu ouvi de gente me dizendo que a Igreja Católica fazia terrorismo contra o PT nestas eleições não está no gibi. Mas o engraçado é que o Papa, em seu pronunciamento, não citou, em nenhum momento, o nome Dilma, PT, patifaria, corrupção, jogo sujo, eleições com uso de dinheiro público... Nadica de nada. Apenas instruiu o seu povo que observasse nestas eleições se os interesses de seus candidatos eram ou não convergentes com a fé que professam. Só isso. Porém, como diz minha sabida mãe, se a carapuça serviu... Vê-los fazendo média é natural. Na cabeça deles só há um lema: "Ou tá comigo, ou tá perdido".

Não é novidade vê-los ameaçando Deus e o mundo por causa de meias palavras. Nem me causaria espanto se resolvessem fazer uma caravana até o Vaticano pra dizer ao Papa que ele foi detonado nas urnas por eles (como se o Papa fosse perder o sono por isso). Mas é óbvio que não vão. Contra Pedro, ninguém brinca. Pedro não é assistido pelo deus-Lula, e sim, pelo Espírito Santo. Eles sabem que sairiam de sua presença detonados. Então ficam aí, igual crianças birrentas, querendo se aparecer. Sem contar que o Papa, para os que não sabem, é Chefe de Estado. É... pois é! Ele não mora no Vaticano apenas para ler zilhares de coisas por dia, não. Lá é a sede da nossa Igreja, a Matriz cuja as Filiais espalham-se pelo mundo. O Vaticano tem seu próprio hino, língua oficial (que é o Latim), sua Política de Estado e até um time de futebol (que eu soube que não vai tão bem assim nos campeonatos, mas tudo bem...). E como em todo Estado Legítimo, há um povo. Portanto o Papa não fala só pros "chegados" que moram com ele. Ele fala para todos os "chegados" que moram no mundo: eu, você, aquele padre que você odeia, aquela tia chata que não sai da Missa, mas desce a lenha em todo mundo... Logo, o Papa não feriu nenhum preceito. Fez o que devia ter feito, quer gostem ou não.

Agora, o que me deixou atônita foi uma garota lançar em seu blog pessoal um texto onde pede sua excomunhão ao Papa. E o pior: um monte de gente dizendo que ela foi um máximo e seguiria seu exemplo. O por quê de eu ter ficado atônita? A sandice. Explico.

Ninguém é obrigado a concordar com o Papa, com o Lula, o Obama, a Xuxa ou a Bruxa Keka. Todos nós discursamos o discurso dos outros, ou seja, daqueles que pensam igual a gente (quando na verdade é a gente que pensa como eles, entendeu?). Ninguém cria o seu próprio discurso. A gente pode até acrescentar algo novo, mas fala daquilo já foi dito. E esse "aquilo" que me representa e que aparece em meu discurso chama-se Ideologia. Não tão piegas poética como a cantada pelo Cazuza, mas algo que verdadeiramente diz quem sou, aquilo que me representa. Portanto, é inadmissível a um homem dizer-se Católico e Socialista justamente porque a ideologia católica não tem nada a ver com a ideologia socialista. Um é parmera e outro é curínthia, saca? E é aí onde entra a citação de Nelson Rodrigues. Se na Igreja, por exemplo, não tivesse existido Pedro e Paulo, que rumo teríamos tomado? E se Santa Catarina de Senna, uma analfabeta funcional, não tivesse mudado os rumos da Igreja de sua época? E uma Santa Tereza de Ávila? Santo Agostinho? Santo Tomás? E se não tivesse existido os Concílios? Por que eu os cito? Porque todos eles foram importantes para a Igreja. Até a Teologia da Libertação, fruto do psiquismo mórbido de alguns, é importante para a Igreja continuar em pé. Não porque a TL seja fruto do Espírito Santo, mas porque, olhando a sua "misturança ideológica", podemos continuar firmes nas verdades evangélicas que nos são transmitidas há séculos. Podemos olhar pra TL e dizer: "Senhor, obrigada por não me deixar cair nessa. A verdade está aqui. Valeu!"

Só que a ideologia que quer imperar hoje e fazer calar todas as outras parece até algo religioso. Chama-se Laicismo, que muitos carinhosamente a chamam de Estado Laico. Veja: em um Estado Laico TODAS as ideologias, todas as crenças, todas as filosofias, convivem harmoniosamente entre si. Não interessa para este estado destacar uma da outra. Interessa, apenas, propiciar que elas existam. Já o laicismo, não. Ele quer privilegiar tudo o que não tenha valor religioso. Isso é nocivo, além de preconceituoso e discriminatório.

Opiniões divergentes são importantes. Elas nos ajudam a repensar sobre o que cremos. Por isso a Filosofia é tão necessária. É bom quando conseguimos ver que vários autores conseguem criar várias possibilidades de pensamento sobre uma coisa. Contudo, eu não preciso (e nem devo) aderir a todos estes pensamentos. Conhecê-los pode me fazer crer que aquele pensamento que escolhi para mim é de fato real. Eu, por exemplo, quanto mais converso com ateus, quanto mais leio sobre o ateísmo, mais adoro ser católica e me convenço que Cristo é a coisa mais importante que conheci. Isso não abala a minha fé, porque a fé é fruto da razão. Não dá pra crer apenas com sentimentos. É necessário fundamentar a fé. E só a Razão pode fazer isso.

Por que eu falei tudo isso? Porque a moçoila que pediu excomunhão ao Papa o fez por achar um absurdo o mesmo pronunciar-se sobre as eleições brasileiras. Pode??? É verdade. Ela disse que isso foi a gota d'água. Mas que petulância, não? Então quer dizer que ela pode vir a público e dizer isto, mas o Papa não? Então quer dizer que todo mundo pode vir a público e falar asneiras pautadas no "eu acho que", mas a Igreja, não? E ainda dizem que preconceituosa é a Igreja. Sei...

O fato é que a moça conseguiu o que queria. Seu texto estava alá "Filma eu, Galvão". Pena que no auge de sua ignorância ela não saiba que o batismo é algo indelével, logo, não dá pra ser "desbatizado". E como apóstata que publicamente se apresenta, ela já está desligada. Se soubesse disso, não teria me incomodado a escrever tais linhas.

Friso que respeito a liberdade da tal moça e de todos os que, deliberadamente, resolverem agir assim ou como bem querem. A liberdade é um bem supremo dado por Deus àqueles que ama, mesmo que não se interessem por Ele. Mas por favor, não venham vetar a liberdade dos outros. Cuidem de suas vidas e deixem os outros falarem o que quiserem em paz. Inclusive o Papa.

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PS: Não pus o blog da moça aqui porque seria propaganda demais.
Quem quiser ler o que ela escreveu, que use o Google.
Pax.

Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo.





Hoje Deus nos fala liturgicamente no Evangelho de São Lucas 14 v. 25 a 33, na minha opnião a frase chave se encontra no vercículo 27: Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo. Neste contexto de nova era, em que a palavra sacrífico foi extinguida do vocabulario dos pregadores, deixo um texto para que o leitor faça uma meditação sobre a Cruz.


DA IMITAÇÃO DE CRISTO:

1. Jesus: Quanto mais saíres de ti mesmo, tanto mais poderás chegar-te a mim. Assim como o não desejar coisa alguma exterior produz paz interior, assim o desprendimento interior de si mesmo causa a união com Deus. Quero que aprendas a perfeita abnegação de ti mesmo, submetendo-te, sem resistência e sem queixa, à minha vontade. Segue-me, eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6). Sem caminho não se anda, sem verdade não se conhece, sem vida não se vive. Eu sou o caminho que deves seguir, a verdade que deves crer, a vida que deves esperar. Eu sou o caminho seguro, a verdade infalível, a vida interminável. Eu sou o caminho direito, a verdade suprema, a vida verdadeira, a vida ditosa, a vida incriada. Se perseverares no meu caminho, conhecerás a verdade, e a verdade te livrará (Jo 8,32), e alcançarás a vida eterna.

2. Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos (Mt 19,17). Se queres conhecer a verdade, crê em mim. Se queres ser perfeito, vende tudo (Mt 19,21). Se queres ser meu discípulo, renuncia a ti mesmo. Se queres possuir a vida bemaventurada, despreza a presente. Se queres ser exaltado no céu, humilha-te na terra. Se queres reinar comigo, carrega comigo a cruz, porque só os servos da cruz acham o caminho da bem-aventurança e da luz verdadeira.

3. A alma: Senhor, Jesus Cristo! Porque vossa vida foi tão oprimida e desprezada no mundo, concedei-me o imitar-vos com o desprezo do mundo. Pois o servo não é maior que seu senhor, nem o discípulo mais do que o mestre (Mt 10,24). Trabalhe vosso servo por conformar-me à vossa vida, porque nela está a minha salvação e a verdadeira santidade. Tudo quanto fora dela leio ou ouço não me pode recrear ou deleitar plenamente.

4. Jesus: Filho, pois que sabes e lês todas estas coisas, bem-aventurado serás se as puseres em prática. Quem conhece os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; também eu o amarei e me manifestarei a ele (Jo 14,21), e o farei assentar comigo no reino de meu Pai.

5. A alma: Senhor Jesus! Faça-se em mim segundo vossa palavra e promessa, e seja-me dado merecê-lo. Recebi a cruz, da vossa mão a recebi; hei de carregá-la, carregar até à morte, como vós ma impusestes. Na verdade, a vida do bom religioso é uma cruz, mas o conduz ao Paraíso. O começo está feito; não posso voltar atrás sem desistir.

6. Eia, irmãos! Marchemos unidos, Jesus está conosco, por Jesus abraçamos a cruz, por Jesus queremos nela perseverar. Ele, que é nosso chefe e guia, será também nosso auxílio. Eis o nosso Rei, que marcha à nossa frente, Ele por nós combaterá. Varonilmente queremos segui-lo, ninguém se espante; estejamos prontos para morrer, com denodo, no combate, e não manchemos nossa glória, desertando da cruz.

Fonte: Imitação de Cristo, Livro terceiro,Capítulo 56.


Salve Maria!