"Trabalhai na vossa salvação com temor e tremor" (Fil 2,12)
Amigos,
O texto abaixo traz uma excelente reflexão de Santa Teresa de Ávila a respeito da existência do Inferno. Foi feita a partir de uma experiência que ela teve. É de suma importância a leitura e a meditação de todos, principalmente nestes tempos quaresmais.
Havia muito tempo que o Senhor me fazia muitas graças, já referidas, e outras ainda maiores, quando um dia, estando em oração, achei-me subitamente, ao que me parecia, metida de corpo e alma no Inferno.
Entendi que o Senhor queria fazer-me ver o lugar que os demônios aí me haviam preparado, e eu merecera por meus pecados. Durou brevíssimo tempo; contudo, ainda que vivesse muitos anos, acho impossível esquecê-lo.
A entrada pareceu-me um túnel longo e estreito, semelhante a um forno muito baixo, escuro e apertado. O chão tinha aparência de lama, ou antes, de lodo sujíssimo e de odor pestilencial, cheio de répteis venenosos.
No fundo, havia uma concavidade aberta na parede, como um armário, onde me vi encerrada de maneira muito apertada.
2. O tormento interior é tal, que não há palavras para o definir, nem se entende como é realmente. Na alma, senti tal fogo, que não tenho capacidade para o descrever. No corpo, eram incomparáveis as dores! Tenho passado nesta vida dores gravíssimas, e, no dizer dos médicos, são as maiores que se podem suportar; como, por exemplo, quando se encolheram todos os meus nervos, ao ponto de ficar tolhida. Já não falo de outras muitas dores de diversos gêneros, e até algumas causadas (diretamente) pelo Demônio. No entanto, posso afirmar que tudo isso foi nada, em comparação do que ali experimentei. E o pior era saber que isto seria sem fim, sem jamais cessar!
Sim, repito, tudo o mais pode chamar-se nada, em relação ao agonizar da alma.
É um aperto, um afogamento, uma aflição tão intensa, e acompanhada duma tristeza tão desesperada e pungente, que não sei como posso explicar semelhante estado! Compará-lo à sensação de que nos estão sempre a arrancar a alma, é pouco, pois, em tal caso, seria como se alguém nos acabasse com a vida.
Aqui (no Inferno), é a própria alma que se despedaça.
O fato é que não sei como descrever aquele fogo interior e aquele desespero, que se sobrepõem a tão grandes tormentos! Eu não via quem os provocava, mas sentia-me queimar e retalhar. Piores, repito, são aquele fogo e aquele desespero que me consumiam interiormente!
Em lugar tão pestilencial, sem esperar consolo, é impossível sentar-se, ou deitar-se, nem há espaço para tal. Puseram-me numa espécie de fenda cavada na muralha. As próprias paredes, espantosas à vista, oprimem, e tudo ali sufoca. Por toda a parte, trevas escuríssimas; não há luz. Não entendo como, sem claridade, se enxerga tudo, causando dor nos olhos... Nesta ocasião, o Senhor não quis que eu visse mais de tudo aquilo que há no Inferno.
3. Noutra visão, vi coisas horripilantes acerca do castigo de alguns vícios. Pareceram-me muito mais horrorosas à vista! Como não sentia tais penas, não me causaram tanto temor como na primeira visão, na qual o Senhor quis que eu verdadeiramente sentisse aquelas torturas e aquela aflição de espírito, como se o corpo as estivesse padecendo. Como foi isso, não sei, mas bem entendi ser grande graça do Senhor querer que eu visse, com os meus olhos, aquilo que a Sua Misericórdia me havia livrado.
Verdadeiramente, é nada ouvir discorrer, ou ainda meditar, sobre a diversidade dos tormentos, como eu doutras vezes havia feito, embora raramente. A feição da minha alma não é ser levada pelo temor. Lia que os demónios atenazam as almas e lhes infligem outros suplícios. Tudo isso é nada, comparado com as verdadeiras penas, que são muito diferentes. Numa palavra, são tão diferentes (para pior) quanto o esboço é diferente da realidade.
Queimar-se aqui na Terra é sofrimento muito leve, em comparação com aquele fogo do Inferno.
4. Fiquei tão aterrorizada, e ainda agora o estou enquanto escrevo, apesar de terem decorrido já quase seis anos! De tanto temor, tenho a impressão de ficar gelada.
Desde então, ao que me recordo, cada vez que tenho sofrimentos ou dores, tudo o que se pode passar na Terra me parece nada. Penso que, em parte, nos queixamos sem motivo.
Foi esta, repito, uma das maiores graças que o Senhor me fez.
Valeu-me imensamente, quer para perder o medo quanto às tribulações e contradições desta vida, quer para me esforçar a padecê-las, e para dar graças ao Senhor por me ter livrado, ao que agora me parece, de males tão perpétuos e terríveis!
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