
Todo  o pontífice eleito dentre os homens é estabelecido a favor dos homens,  para desempenhar as funções do culto divino, e oferecer dons e  sacrifícios em expiação dos pecados. Oferecer sacrifícios, eis pois o  fim para que Deus colocou o padre na sua Igreja; é propriamente a função  dos sacerdotes da lei da graça, aos quais foi dado o poder de oferecer o  grande sacrifício do Corpo e Sangue do próprio Filho de Deus;  sacrifício supremo e perfeito, infinitamente acima dos sacrifícios  antigos, que outro mérito não tinha outrora senão o de serem desse a  sombra e figura. As vítimas que então se imolavam eram novilhos e bodes;  hoje a nossa Vítima é o Verbo eterno feito homem.
Por  isso mesmo, os sacrifícios da lei antiga não tinham poder algum; também  o apóstolo os chama observâncias defeituosas e incapazes; o nosso, ao  contrário, tem o poder de operar a remissão das penas temporais devidas  ao pecado, e além disso — ao menos mediatamente, — de aumentar a graça e  obter socorros mais abundantes àqueles por quem é oferecido.
O  padre que não está compenetrado da grandeza do sacrifício da missa,  jamais o oferecerá como deve. Nada fez de maior na terra Jesus Cristo. É  a missa a ação mais santa e mais agradável a Deus que se pode realizar,  tanto em razão da Vítima oferecida, que é Jesus Cristo, Vítima duma  dignidade infinita, como em razão do sacrificador principal, que é o  mesmo Jesus Cristo, a oferecer-se pela mão dos sacerdotes, como no-lo  ensina o Concílio de Trento. E S. João Crisóstomo diz paralelamente:  Quando virdes o sacerdote a oferecer o sacrifício, não penseis no padre,  representai-vos antes a mão de Jesus Cristo que obra de um modo  invisível.
Todas  as honras que têm prestado a Deus os anjos com as suas homenagens, e os  homens com as suas virtudes, austeridades, martírios e santas obras,  não podem render a Deus tanta glória como uma só missa; porque todas as  homenagens das criaturas são finitas, ao passo que a que se presta a  Deus com o sacrifício dos nossos altares, é de um valor infinito, por lhe  ser prestada por uma pessoa divina. Necessário é pois reconhecer com o  Concílio de Trento que a missa é de toda as obras a mais santa e divina.
É  pois o sacrifício da missa a obra mais santa e agradável a Deus, como  acabamos de ver; é a obra mais capaz de aplacar a cólera de Deus contra  os pecadores e abater as forças do inferno; é a obra que obtém graças  mais abundantes para os homens na terra, e maior alívio para as almas do  Purgatório; é finalmente a obra a que está ligada a salvação do mundo  inteiro, segundo o pensamento de Sto. Odon, abade de Cluni. E Timóteo de  Jerusalém diz que é à missa que a terra deve a sua conservação; a não  ser ela, os pecados dos homens a teriam há muito aniquilado.
Segundo  S. Boaventura, em cada missa faz o Senhor ao gênero humano um benefício  não inferior ao que lhes dispensou, fazendo-se homem. O que é conforme  com a célebre exclamação de Sto. Agostinho: Ó dignidade venerável a dos  sacerdotes, entre cujas mãos o Filho de Deus encarna, como encarnou no  seio da Virgem! De mais, não sendo o sacrifício do altar senão a  aplicação e renovação do sacrifício da cruz, Sto. Tomás ensina que, para  o bem e salvação dos homens, tem cada missa toda a eficácia do  sacrifício da cruz. E S. João Crisóstomo escreveu: A celebração da missa  tem o mesmo valor que a morte de Jesus Cristo na cruz. A Igreja  plenamente confirma esta verdade, quando diz nas suas orações: Cada vez  que se celebra no altar a memória deste sacrifício, renova-se a obra da  nossa redenção. De fato, ajunta o Concílio de Trento, o mesmo Redentor,  que se ofereceu por nós na cruz, é quem se oferece no altar por  ministério dos sacerdotes.
Numa  palavra, segundo a expressão do profeta Zacarias, é a missa o que há de  mais excelente e belo na Igreja: Que há de bom, que há de belo, senão o  pão dos escolhidos e o vinho que gera virgens? No sacrifício da missa,  dá-se Jesus Cristo a nós, mediante o sacramento do altar, que é o fim e  consumação de todos os outros sacramentos, como ensina o Doutor  angélico. Razão tem pois S. Boaventura em chamar à missa o resumo de  todo o amor divino e de todos os benefícios de que o Senhor há cumulado  os homens. Eis por que o demônio sempre se tem esforçado por arrebatar  ao mundo a santa missa por meio dos hereges, como por tantos outros  precursores do Anticristo que, antes de tudo, cuidará de abolir e de  fato abolirá, em punição dos pecados dos homens, o sacrifício do altar,  segundo esta profecia de Daniel: Por causa dos pecados, ser-lhe-á dada  força contra o sacrifício perpétuo. Grande razão tem pois o Concílio de  Trento para exigir que os padres ponham todo o seu cuidado, em celebrar a  missa com a máxima devoção e pureza de coração que seja possível. 
Como  não menos razão adverte no mesmo lugar, que é precisamente sobre os  padres, que celebram com negligência e sem devoção, que recai a maldição  anunciada por Jeremias: Maldito o que faz indignamente a obra do  Senhor! Segundo S. Boaventura, celebra-se ou comunga-se indignamente,  quando se chega ao altar com pouco respeito e consideração. Assim, para  evitarmos essa maldição, examinemos o que deve fazer o padre antes,  durante e depois da celebração da missa: preparação, antes de celebrar;  respeito e devoção, enquanto celebra; ação de graças, depois de  celebrar. São obrigações indispensáveis para o sacerdote. Segundo o  pensamento de um servo de Deus, deveria a vida de um padre ser apenas uma  preparação para a missa e uma ação de graças.
Fonte: A Selva – Sto Afonso de Ligório – págs: 62-63
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