25 de jul. de 2011

"Era apenas uma questão de tempo"

Conforme noticiou 'O Estadão', a mãe da cantora Amy Winehouse, Janis Winehouse, afirmou que sua filha não andava bem. "Parecia que ela estava fora de si", disse. Por fim, afirmou: "Sua morte era apenas uma questão de tempo".
Pis de Amy Winehouse choram a morte da filha
Fonte: O Estadão

Palavras duras, não? Ouvir uma mãe dizer isso pesa. E pesa muito. Lembrou-me até as palavras de Eclesiástico: A bênção do pai consolida a casa dos filhos, mas a maldição da mãe arranca até os seus alicerces (3, 9). Não creio que em algum momento essa mãe tenha amaldiçoado a filha. Ao contrário: creio muito que ela sofreu e ainda sofre; sofreu em ver o estado a que a filha se encontrou, e sofre em ver que o fim foi trágico. O que me marcou foi sua frase dolorosa: "Sua morte era apenas uma questão de tempo".

Se há algo certo em relação aos pais e aos filhos é que os pais sempre idealizam algo bom aos seus filhos. Por pior que sejamos, queremos tudo o que há de melhor para eles. E damos um duro danado para tanto. Deixamos de realizar os nossos sonhos para realizarmos os deles; deixamos nossa vida para que vivam a sua. Às vezes os filhos retribuem, às vezes desprezam.

E porquê lutamos pelos nossos filhos, jamais imaginamos vê-los numa situação tão subumana como a de um viciado. Pai algum sonha em ver seu filho sem identidade, algo que as drogas retiram. Algo que a própria cantora provou. Em menos de seis anos, Amy Winehouse foi do céu ao inferno; provou a glória e a depravação. Ganhou prêmios e ganhou destaques sórdidos. Provou o que há de melhor e de pior da fama.Tudo beneficiado por um vício incontrolável.

As drogas realmente acabam com quem as usa. É um vício triste, traiçoeiro. Engole o usuário, que fica sem controle de si mesmo. O que faz alguém buscar a isso são motivos mil: da carência ao excesso de carinho; da falta de domínio próprio; da ausência de Deus, da falta de autoridade por parte dos pais, do mundo fácil...

Dizer que "era apenas uma questão de tempo" me faz entender que esta mãe, apesar de todo amor devotado a esta filha, previa seu fim trágico. Não quero imaginar que ela estava conformada esperando a morte buscar sua menina, mas que lá no fundo sabia que a luta era árdua e que, talvez, perdesse. Estas palavras soam-me como a de uma mãe impotente frente aos 'monstros' que engoliram sua cria, ou como aquela mãe que vê seu filho morrendo aos poucos e, por mais que faça tudo quanto possível, nada faz com que seu filho sobreviva.

Como mãe, posso dizer que me compadeço da mãe desta cantora que agora precisa ver a filha nesta situação. Imagino seus lamentos, imagino suas lembranças, desde o carregar no ventre, as primeiras palavras, os prêmios, as derrotas, as drogas, o fim. Imagino sua dor, o vazio que sente no peito.

Jamais irei culpá-la. Nem a ela, nem a Amy. Também não quero tecer uma avaliação 'psico-histórico-espiritual' da cantora. Só Deus sabe das perturbações do coração desta menina. O que posso dizer é que lamento por ambas. Lamento por uma menina sair de cena tão cedo, e lamento por uma mãe ter que enterrar uma filha em condições tão terríveis.

Que Deus tenha misericórdia de todas.

Sobre ídolos e vidas fúteis...


Por Dom Henrique Soares.

Estava meditando no Livro da Sabedoria e dei com estas palavras: “Nenhum homem pode modelar um deus à sua semelhança: porque, sendo mortal, forja com suas mãos iníquas um morto! De fato, ele é melhor do que aqueles aos quais cultua, porquanto pelo menos vive, mesmo sendo mortal, ao passo que aqueles nunca viverão!” (Sb 15,16b-17).

São palavras contra a idolatria. No sentido bíblico mais profundo a idolatria consiste em o homem endeusar, divinizar e idolatrar a criatura ao invés do Criador e a obra de suas mãos, como se fosse um deus que lhe pudesse dar a vida...

É de pensar, a situação do mundo atual... A humanidade tem modelado tantos deuses: a tecnologia, as ciências tão avançadas, o divertimento, o culto do corpo e do bem estar, do sucesso e da fama, o prazer em todas as formas possíveis e imagináveis... E tem colocado em tudo isso a sua esperança de uma vida feliz, de realizar sua existência...

Mas, é uma ilusão, uma armadilha, uma mentira: essas coisas não salvam, não dão o sentido, não podem servir de fundamento válido e duradouro para a existência! Elas não são Deus!

Aliás, como adverte o texto sagrado, o homem mortal – pó que o vento leva – não pode modelar um Deus imortal! Tudo quanto modelam os filhos de Adão não passa de pó e não pode servir para dar sustento à nossa existência.

Veja bem, meu caro Leitor: a humanidade nunca foi tão iludida e enganada, tão superficial como nestes nossos tempos! Como diz ainda o texto santo, este homem de agora “ignora aquele que o plasmou, que nele inspirou uma alma ativa e nele insuflou o espírito que faz viver. Chega a considerar nossa vida um jogo e nossas atividades como voltadas para o lucro; por isso diz que deve tirar proveito de tudo, até do mal” (Sb 15,11-12).

Penso que um dos grandes desafios e uma das maiores responsabilidades nossas, que cremos, é viver de tal modo e colocarmo-nos no mundo de tal maneira que apareça claramente que vivemos na consciência profunda e convicta de que aqui estamos de passagem, de que “não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da que está para vir” (Hb 13,14). Crer é viver à luz do Absoluto, é ter como alicerce da vida a convicção de que não somos a fonte nem o fim de nossa própria vida e nossos poucos dias neste mundo não encontram sentido neles próprios nem em nada como possamos fabricar com nossa inteligência. Se pensarmos bem, veremos claramente que o homem é uma seta que indica um Outro, uma Origem e um Destino; o homem é um grito irrefreável chamando e clamando pelo Sentido, pela Finalidade pelo Fundamento de tudo, a começar pela sua própria vida pessoal.

Para nós, valem ainda as palavras do Autor sagrado: “Tu, ó nosso Deus, és bom e verdadeiro, és paciente e tudo governas com misericórdia. Mesmo pecando, somos teus, pois acatamos o teu poder; mas não pecaremos, sabendo que somos contados como teus. Conhecer-te é a justiça perfeita, e acatar teu poder é a raiz da imortalidade” (Sb 15,1-3).

Fonte: http://costa_hs.blog.uol.com.br/index.html