O bispo
auxiliar de Manágua, dom
Silvio Báez, reiterou nesta terça-feira (22) a posição da Igreja a
respeito de um projeto que pretende incluir no novo Código da Família a
possibilidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Em
encontro com diretores de meios de comunicação e jornalistas, o bispo
auxiliar da capital da Nicarágua afirmou claramente que o colégio
episcopal não tem uma posição oficial, mas estabeleceu a
visão de que Deus criou o ser humano como homem e mulher, à sua imagem e
semelhança, e confiou a ambos a reprodução para garantir a continuidade
da humanidade e a educação dos filhos.
Dom
Silvio Báez precisou que, para a Igreja, a família é vista como um
patrimônio da humanidade não por norma, e sim como uma boa nova. “Nem
tudo o que é legalizado é bom em si mesmo, assim como nem tudo o que é
bom moralmente precisa estar refletido na lei”, disse o prelado, em
alusão à lei em debate na Assembleia Nacional. Báez acrescentou que,
quando se aprova uma lei que tem a ver com a família, acredita-se que
tudo poderia ser feito e que tudo poderia ser considerado como bom para o
ser humano.
O bispo
assegurou que a Igreja está atenta à discussão de um código que toca em
valores essenciais para a convivência humana em família. Afirmou que os
bispos não se pronunciaram oficialmente para não dar maior importância
aos grupos que se manifestaram nas ruas a favor da diversidade sexual e
do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Estes grupos chegaram
a chantagear deputados ameaçando divulgar as suas preferências sexuais
caso não aprovassem as suas exigências.
De
acordo com Báez, os pastores têm profundo respeito pelas pessoas de
orientação sexual diferente daquela em que a família se baseia.
“Respeitamos essas pessoas, as amamos e elas também têm lugar na Igreja,
mas não podemos aceitar o fato como tal, nem propô-lo como uma via
aceitável”.
O bispo
defendeu esta posição como uma postura de fé, do evangelho e da tradição
da Igreja, que viveu e interpretou a palavra de Deus. Perguntado sobre a
posição do procurador de Direitos Humanos, Omar Cabezas, defensor do
casamento entre homossexuais, dom Báez disse que os bispos respeitam as
opiniões alheias “e não estão em confronto com ninguém”. “Achamos anormal que um Procurador de
Direitos Humanos se posicione a favor de um determinado grupo, quando
deveria respeitar o direito humano de todas as pessoas. Mas é a posição
dele e não entramos em confronto. Acreditamos que, num sistema
democrático, todos têm o direito de expressar a sua opinião”.
O bispo
auxiliar de Manágua considera o problema complexo, com várias causas, e
que cada caso deve ser considerado particularmente, com acompanhamento
pastoral e atenção à pessoa. “Não há uma causa única nem uma receita
dogmática”.
Ao
considerar que muitas pessoas sofrem com esta situação, Báez disse que a
Igreja procura levar as pessoas a alcançarem o que Jesus chama de
“alegria plena e completa”. Mas destacou que, “qualquer que seja a orientação sexual de um ser humano, todos
somos chamado a ser donos do nosso próprio corpo e a orientar o nosso
corpo, a nossa sexualidade e os nossos sentimentos de acordo com os
nossos valores, com o bem dos outros e com a dignidade da pessoa”.
A Igreja
Católica sustenta que a sociedade tem o direito de considerar os
aspectos éticos e morais da vida de um indivíduo e que há outros
elementos na vida humana além da legalidade, como é o caso da ética e da
moralidade.
Por sua
vez, o bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, disse que a Igreja
católica local não substituirá os partidos políticos do país. Os bispos
da Conferência Episcopal da Nicarágua iniciaram nesta quarta-feira (23),
na cidade de Ocotal, um encontro ordinário para analisar diversos
temas, entre eles as próximas eleições municipais de novembro, já
convocadas oficialmente pelo Conselho Supremo Eleitoral.
Dom
Álvarez disse, a respeito das eleições municipais, que os bispos da Nicarágua continuarão
iluminando as consciências do povo com opinião crítica diante das
situações do país. “Em nenhum momento nós somos uma opção
política, nem pretendemos ser. Acreditamos que todo tipo de namoro com o
poder, seja econômico, político ou de qualquer tipo, nos empobreceria
como pastores. A nossa força está em Deus e na fé da nossa gente. Não
precisamos de mais forças do que estas duas”.
O
prelado enfatizou que a Igreja manterá uma palavra profética, de fé e
esperança. Disse que durante a reunião em Ocotal os bispos refletiriam
sobre as eleições municipais com o fim de adotar uma postura que ainda
não está oficializada. “Divulgaremos a posição oficial colegiada de toda
a Conferência Episcopal sobre as eleições. A Igreja vai se pronunciar
pastoralmente quando for o momento”.
Dom
Silvio Báez afirmou que a
Igreja não tem propostas ideológicas ou políticas concretas, nem propõe
qualquer sistema político em particular. Tampouco deseja usurpar o papel
do estado ou dos partidos políticos. “A Igreja age em outros níveis,
como a educação da consciência, dos valores”, especificou,
agregando que a missão da Igreja vem do evangelho de liberdade e vida de
Jesus Cristo, destinado a iluminar a inteligência com a verdade e a
estimular a vontade das pessoas para praticarem a justiça e o bem
conforme as exigências do presente. “A Igreja não tem soluções técnicas
nem é uma terceira via diante das questões políticas”, concluiu.
***
BOLÍVIA: IGREJA REJEITA PROJETO DE
LEI SOBRE O CASAMENTO HOMOSSEXUALLa Paz, 23 de maio de 2012
A
Conferência Episcopal Boliviana emitiu nesta quarta-feira (23) um
comunicado expressando a sua posição perante o projeto de lei “União de
convivência entre casais do mesmo sexo”, apresentado recentemente à
Assembleia Legislativa Plurinacional.
Publicamos a seguir o texto do
comunicado.
Às
vésperas do VII Encontro Mundial da Família, que abordará o tema
“Família, trabalho e festa”, patrimônio de todos e instituição que
humaniza a nossa existência, nós, bispos da Bolívia, reunidos em nossa
93ª Assembleia Plenária, refletimos sobre a importância capital da
família em nossa sociedade e sobre as ameaças que se lançam sobre ela.
A
respeito do projeto de lei “União de convivência entre casais do mesmo
sexo”, apresentado recentemente à Assembleia Legislativa Plurinacional, expressamos a nossa rejeição, por
considerá-lo como uma grave ameaça à família, tal como entendida pela
sabedoria dos povos originários, pela tradição cultural da nossa
sociedade e pelo pensamento cristão.
Ao se observar a natureza e o
comportamento humano, pode-se deduzir que o matrimônio é uma relação única entre um homem e uma mulher. O
que define esta relação é o fato de se tratar de uma instituição social
baseada na complementaridade sexual. Esta torna possível a realização
dos dois fins equivalentes do matrimônio: o amor mútuo entre os esposos e
a procriação dos filhos.
Para
nós, cristãos, maioria da população boliviana, este princípio é
reafirmado por Deus com o testemunho da Sagrada Escritura: “E Deus fez o
homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, varão e mulher os criou. E
os abençoou com estas palavras: sede fecundos e multiplicai-vos” (Gn
1,27-28). É esta união de homem e de mulher que foi elevada por Cristo à
categoria de sacramento (Mc 10,9), como sinal do seu amor pela Igreja
(cfr. Ef 5,22-33).
A partir
destas considerações, ratificamos que nenhuma outra relação humana pode
se arrogar a riqueza da complementaridade do matrimônio, nem pode
fundar uma família.
Dado que
o matrimônio é uma estrutura social fundamental e insubstituível, baseada na natureza humana, nem a Igreja nem o Estado podem mudá-la
no que lhe é fundamental. Neste sentido, o Estado tem a
obrigação de preservar este bem por causa da sua insubstituível
importância social, como, de fato, é afirmado em nossa Constituição
Política de Estado, que reconhece o matrimônio unicamente como a união
entre uma mulher e um homem (art. 63).
A união homossexual e o matrimônio
não são formas igualmente relevantes para o bem comum, dada a
incapacidade da união homossexual em si mesma de gerar a vida, de
assegurar o desenvolvimento pleno dos filhos e de garantir a
continuidade da sociedade. A convivência ou a permanência de
crianças no seio de tais uniões põe em perigo o seu normal
desenvolvimento psicossocial e atenta contra os seus direitos.
O fato
de que à convivência homossexual não seja reconhecida a categoria de matrimônio não implica a
marginalização nem a exclusão dessas pessoas. Os direitos civis dos homossexuais
devem ser regulados pelo direito comum, como os de qualquer cidadão. Todo
ser humano, por ser filho de Deus, merece ser reconhecido e respeitado
em sua dignidade e em seus direitos fundamentais.
Exortamos
toda a população boliviana a defender os princípios e os valores do
matrimônio e da família como instituições que, através da convivência
harmônica e da procriação e educação dos filhos, favorecem a verdadeira
felicidade humana e contribuem para a estabilidade e para a continuidade
da sociedade.
Que a
Família de Nazaré seja o modelo das nossas famílias, na sua comunhão de
amor, na sua beleza simples e austera e no seu caráter sagrado e
inviolável.
Secretaria Geral da Conferência
Episcopal Boliviana
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