Prof. Hermes Rodrigues Nery
Duas imagens recentes
nos chocaram por estampar uma realidade atual de aguda degradação moral e
de um pragmatismo utilitário levado às últimas conseqüências, a tornar
ainda mais perigoso o campo político em que se movem os tomadores de
decisões do nosso País, no momento.
A primeira, de algumas
semanas atrás,
com a presidente Dilma Roussef (ventríloco de Lula) a abraçar Dom Paulo
Evaristo Arns, que a recebeu de braços abertos, de modo efusivo.
Dilma Rousseff e o cardeal vermelho Evaristo Arns |
Quanto joio foi
espalhado por aquele
imenso território arquidiocesano, e que o PT hoje faz de tudo por
conquistar,
como um último ato a preceder a dominação total no cenário nacional.
Por isso o afã de Lula
em eleger Haddad
prefeito da maior cidade do Brasil, e para isso não recusou protagonizar
a
segunda imagem impactante reproduzida pela imprensa em 19 de junho, do
aperto
de mão de Lula com Maluf, tendo Haddad ao meio, feito uma salsicha num
sanduíche mal temperado, que poderá provocar uma má digestão, de graves
consequências ao combalido sistema político instrumentalizado pelo PT
para
impor a sua ditadura.
Lula, Haddad e Maluf, em Sao Paulo |
Na época FHC
escandalizou com a sua
frase "esqueçam o que escrevi". Aquilo foi café pequeno perto do que
vemos hoje: Lula na casa de Maluf, no Jardim Europa, em São Paulo,
apertando as
mãos do anfitrião. Mais café pequeno ainda foi o que aconteceu com Celso
Pitta
(prefeito de São Paulo apadrinhado por Maluf), que não se cansou de
repetir nos
programas eleitorais para que o povo não votasse mais nele se Pitta
fosse uma
decepção.
Todos sabem o que
aconteceu com Pitta,
como ele terminou seus dias, depois de ser moído pelas moiras
malufistas. Na
realidade, quem mais ganhou neste acordo até então inimaginável, foi o
próprio
Maluf, pois quem sabe dão agora uma trégua a ele, depois de incomodá-lo
tanto
com os seus feitos passados. E Lula se mostra com tudo isso, ser também
um
títere de forças mais poderosas que estão manejando-o (de fora, do
exterior)
para acentuar ainda mais a revolução cultural em curso, cujas diretrizes
estão
explícitas no Plano Nacional de Direitos Humanos.
A subversão dos anos 70-80 fez de Lula um monstro político
Em 1981, em entrevista
à Interview, FHC explicou a Oswaldo
Martins: "A esquerda toda aqui em São Paulo tem votação nos bairros de
classe
média e classe média alta. Eu verifiquei os dados e descobri que os
deputados mais
combativos tem a grande votação aí, não na grande periferia" (1). E
falando com Judith Patarra, o mesmo FHC foi bombástico em declarar que
ser
intelectual é "ser subservivo" (2). Tanto FHC quanto Lula
vieram, portanto, do mesmo substrato ideológico: a subversão.
Fernando Henrique e Lula em 1978, panfletando juntos em Sao Bernardo do Campo |
E naquele contexto
(início do processo
de redemocratização), investimentos foram feitos para transformar Lula
no
monstro político que é hoje. O que esteve em jogo nas greves do ABC,
onde
despontou Lula no cenário brasileiro, foram os primeiros experimentos do
amálgama de forças para subverter o Brasil e chegar ao caleidoscópio que
primeiro
iludiu, e depois absorveu e fez a substância pastosa que hoje
transformou a
política num jogo de frankesteins.
De "estranhos morais"
que se
chocaram naqueles tempos sedutores, chegamos à amoralidade perigosa,
preparando
terreno para uma ditadura muito mais corrosiva, porque sem rosto, que
age por
dentro do sistema, manipulando, enganando, destruindo almas,
despessoalizando e
tornando a sociedade palco de um show bizarro, como indivíduos sem vida
dançam
narcotizados, os embalos de thriller.
Naquele período, a
Igreja Católica começou
então a ser instrumentalizada, e muitos contribuíram para isso. Talvez
daí a importância do abraço de Dilma Roussef no Cardeal Arns, justamente
no
período pré-eleitoral, de uma disputa em São Paulo, onde o PT quer
fincar de
vez lá, no território governado Dom Paulo, nos anos estratégicos da
ascensão de
Lula. FHC relembra dizendo que foi "no ABC, e especialmente em São
Bernardo" (3), que se deu "o nascimento do espírito da comunitas de
modo muito vivo." E acrescenta: "e é isso que dá à presença da Igreja
o fulgor inegável". Então, a eleição do candidato do PT ou do PSDB
representa apenas dois lados de uma mesma moeda.
Mas, de novo,
enganam-se os que pensam
que o bispo instiga e o cardeal comanda. A Igreja Católica fornece
apenas a
moldura; dentro desta o espírito que frutifica é o da igualdade mística
num nós
coletivo que dissolve momentaneamente hierarquias" (4). O fato é que,
desde aqueles tempos em que FHC e Lula panfletavam juntos nas ruas, a
Igreja no
Brasil foi instrumentalizada para viabilizar um projeto político que
tanto FHC
quanto Lula estiveram comprometidos desde o início, e que agora a adesão
a
Maluf significa o passo decisivo "para fortalecer o projeto político,
que
está dando certo", conforme afirmou Haddad em entrevista coletiva nos
jardins da mansão de Maluf (5). O que antes era perspectiva, hoje é
projeto
político que está dando certo.
A influência vem de fora
Numa conversa que tive
com Fernando
Henrique, em sua casa, em 1988, ele me disse que trabalhou nos Estados
Unidos
"num local chamado Institute for Advanced Study (Instituto de Estudos
Avançados)". E explicou: "Este instituto foi criado na década de 30
para Albert Einstein, por ocasião de sua estada lá, e hoje é um grande
instituto de estudos avançados (...) com uma pequena seção de Ciências
Humanas,
cujo estimulador naquela época era o professor Albert Goldsmidt, que é
muito
amigo meu, e o José Serra (que trabalhava conosco).
Prof. Hermes Nery e FHC |
Foi assim que FHC foi
recrutado por
um think bank, para gestar a
subversão que anos depois ajudaria a promover, primeiramente via CEBRAP
(que
"começou fazendo pesquisas sobre a população" (7), depois como
senador, ministro e, enfim, presidente da República, até entregar muito
satisfatoriamente o poder ao presidente-operário, transformado em raposa
das
raposas, em lobo blindado pela imprensa. E, aos poucos, o lobo foi
engolindo,
um a um, as víboras da arena política, até chegar aonde está hoje, como
uma
(ainda faminta por mais poder) ratazana de esgoto.
Hoje, às vésperas do
julgamento do
mensalão, a ratazana se move pelos esgotos escuros da política
moralmente
nocauteada, que ele ajudou a obscurecer até chegar ao câncer de um
gangsterismo
que toma conta assustadoramente, sem que saibam os como conter ou mesmo
erradicar. Sem desmerecer a ameaça do candidato do PSDB, que não é menos
esquerdista, a eleição de Haddad é favorecer ainda mais este
gangsterismo, de
que Lula é hoje o chefe. É um títere de forças internacionais, mas como
um
cabeça de um esquema que a muitos favorece. Resta apenas conquistar São
Paulo,
para tornar de vez a política no Brasil, inteiramente amoral e
instrumento de
uma barbárie de conseqüências imprevisíveis.
Hermes Rodrigues Nery é especialista em
bioética, pós-graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, professor, escritor e jornalista, coordenador do Movimento
Legislação e Vida, da Diocese de Taubaté.
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