22 de ago. de 2011

PRIMEIRO, SER JUSTOS


Por Francisco fernández carvajal

I. A LEI DE MOISÉS prescrevia que se pagasse o dízimo1: devia‑se entregar para a sustentação do Templo a décima parte do produto dos frutos mais comuns do campo, como os cereais, o vinho e o azeite. Os fariseus pagavam, além disso, o dízimo da hortelã e do cominho, plantas aromáticas que se cultivavam nos jardins das casas e que serviam para condimentar a comida. Era por parte deles uma manifestação equívoca de generosidade para com Deus, porque ao mesmo tempo deixavam de cumprir outros graves mandamentos em relação ao próximo. Por essa hipocrisia, o Senhor dir‑lhes‑ia: Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e desprezais os pontos mais graves da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Eram estas as coisas que devíeis praticar, sem omitir aquelas2.

O Senhor não despreza o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, que poderia ter sido uma verdadeira expressão de amor: como quem presenteia umas flores a uma pessoa que ama, ou ao Senhor no Sacrário; o que Jesus rejeita é a hipocrisia que esse falso zelo ocultava, pois com isso justificavam‑se em relação à omissão dos outros deveres essenciais: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Não devemos nunca cair numa hipocrisia semelhante à desses homens: as nossas oferendas voluntárias são gratas a Deus quando cumprimos as obrigatórias e necessárias, determinadas pela justiça, que é uma virtude pela qual damos a cada um o que é seu: Eram estas as coisas que devíeis praticar, sem omitir aquelas.

A virtude da justiça fundamenta‑se na intocável dignidade da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus e destinada a uma felicidade eterna. E se considerarmos o respeito que todo o homem merece “à luz das verdades reveladas por Deus, devemos avaliar necessariamente em maior grau esta dignidade, já que os homens foram redimidos pelo sangue de Jesus Cristo, feitos filhos e amigos de Deus pela graça sobrenatural e constituídos herdeiros da glória eterna”3.

O respeito aos direitos das pessoas começa por um justo ordenamento das leis civis, para o qual os cristãos devem contribuir, como cidadãos exemplares, com todas as suas forças. É doloroso verificar como o espírito humano, na sua auto‑suficiência e rebeldia aos planos divinos, persiste em querer derrubar os princípios da dignidade da natureza humana, afirmados há séculos e constantemente confirmados pela doutrina da Igreja. Tem‑se visto como aos poucos – muitas vezes por plebiscito, como se a verdade pudesse depender do que pensa ou é levada a pensar a maioria numa determinada sociedade e num determinado momento histórico – se vão implantando leis que permitem pôr termo à vida do ser humano a partir da sua concepção, como se degrada o mistério da reprodução da vida humana, fechando os olhos a experiências que a nivelam pela dos animais, como se destrói a coesão e a solidez da família, autorizando o divórcio até mesmo por mútuo consentimento, como se deixam desprotegidos os menores diante da onda de pornografia e violência que domina os meios de comunicação, e assim por diante.

Persistem os fautores das leis iníquas, e calam‑se muitos cristãos, por julgarem que não podem ou não lhes compete fazer nada. Não é o momento de pensarmos, no silêncio fecundo da oração, que o pouco que achamos estar ao nosso alcance deve ser feito? Que não é uma faculdade, mas uma obrigação em consciência?

II. PARA VIVER A JUSTIÇA, não basta simplesmente lamentar‑se diante das situações de injustiça; as queixas e as lamentações são estéreis se não se traduzem em mais oração e em obras para remediar essas situações. Cada cristão deve pensar em como vive a justiça nas circunstâncias normais da sua vida: na família, no trabalho profissional, nas relações sociais...

Viver a justiça com aqueles com quem nos relacionamos habitualmente significa, entre outros deveres, respeitar‑lhes o direito à fama, à intimidade... “Estas exigências não devem limitar‑se unicamente à ordem econômica [...]; a vida e a moral cristã têm exigências mais amplas. O respeito à vida, à fidelidade, à verdade, a responsabilidade e a boa preparação, a laboriosidade e a honestidade, o repúdio à menor fraude, o sentido social e mesmo a generosidade devem sempre inspirar o cristão no exercício das suas atividades profissionais e trabalhistas”4.

Também a calúnia, a maledicência, a murmuração... constituem uma verdadeira e flagrante injustiça, pois “entre os bens temporais, a boa reputação parece ser o mais valioso de todos eles, e pela sua perda o homem fica privado de realizar muitas coisas boas”5. O Apóstolo Tiago diz da língua que é um mundo inteiro de maldade6: pode servir para louvar a Deus, para falar com Ele, para comunicar‑se..., ou pode causar um mal enorme, se não há um empenho decidido em não falar nunca mal de ninguém.

Faltar à justiça através da palavra não é coisa pouco freqüente. Por isso o Senhor nos pede que não nos deixemos guiar pelos rumores e juízos precipitados que se difundem em alguns meios de comunicação social, que nunca emitamos um juízo negativo sobre pessoas ou instituições, que não sejamos inquisidores nem verdugos das vidas alheias. E se alguém tem o dever de julgar, deve empenhar‑se em colher todas as informações possíveis, ouvindo as duas partes, matizando os seus juízos e ressalvando sempre a intenção das pessoas, que somente Deus conhece.

Devemos viver os deveres de justiça com aqueles que o Senhor colocou sob os nossos cuidados, colaborando na formação de todos, tratando com mais esmero aqueles que, por doença, idade ou condições particulares, mais precisam de ser acompanhados. Sabemos bem que não viveria esta virtude, por exemplo, o pai ou a mãe que tivesse tempo para as suas distrações e gostos, e não dedicasse o tempo necessário à educação dos filhos; ou que se dedicasse ao trabalho profissional de uma maneira incompatível com a permanência diária no lar, à disposição da mulher e dos filhos, por várias horas além das do sono.

III. A ECONOMIA TEM as suas próprias leis e mecanismos, mas essas leis não são suficientes nem supremas, nem esses mecanismos intocáveis. Não se pode conceber a ordem econômica – insiste o Magistério da Igreja – como uma ordem independente e soberana, pois deve estar submetida aos princípios superiores da justiça social, de modo a que se possam corrigir os seus defeitos e deficiências e se tenha em conta a dignidade da pessoa7.

A justiça social exige que não se deixe o trabalhador à mercê das leis da concorrência, como se o seu trabalho fosse uma simples mercadoria8; e uma das principais preocupações do Estado e dos empresários “deve ser esta: a de dar trabalho a todos”9, como disse João Paulo II em São Paulo. O desemprego forçoso é um dos maiores males de um país e causa de muitos outros nas pessoas, nas famílias e na própria sociedade.

Podem dar‑se circunstâncias em que, cumprindo aquilo que é estritamente legal, aquilo que está estabelecido, se falte à justiça com esse mínimo estipulado: pode acontecer que se despeçam empregados de acordo com a lei, mas que com isso se cometa uma enorme injustiça; ou que se paguem ou se atualizem salários de acordo com as leis, mas com isso se ofenda a dignidade da pessoa...: “A justiça – diz o Fundador do Opus Dei – não se manifesta exclusivamente no respeito exato dos direitos e deveres, à semelhança dos problemas aritméticos, que se resolvem fazendo somas e subtrações”10.

Por sua vez, quem trabalha numa oficina, na Universidade, numa empresa, não viveria a justiça se não cumprisse com esmero a sua tarefa, com competência profissional, aproveitando o tempo, cuidando dos instrumentos de trabalho que são propriedade da fábrica, da biblioteca, do hospital, do escritório, do lar em que se ajuda a dona de casa nas tarefas do lar.

Os estudantes faltariam à justiça com a sociedade, com a família, e às vezes gravemente, se não aproveitassem intensamente o tempo dedicado ao estudo. De modo geral, as qualificações obtidas podem ser matéria para um bom exame de consciência. Quantas vezes o nível medíocre dos conhecimentos adquiridos na Faculdade não é a causa de que não se consiga ser um bom profissional no dia de amanhã, faltando‑se assim à justiça com a empresa em que se trabalha! São pontos que devemos examinar com freqüência, para vivermos delicadamente, diante de Deus e dos homens, os deveres com relação ao próximo: a justiça, a misericórdia e a fidelidade nos pactos e promessas.

Peçamos à Santíssima Virgem essa retidão de consciência necessária para que, no que está ao nosso alcance – que nunca é pouco e tem aspectos diversos –, a sociedade seja sempre ou venha a ser em breve prazo um remanso de convivência digno dos filhos de Deus.

(1) Lev 27, 30‑33; Deut 14, 22 e segs.; (2) Mt 23, 23; (3) João XXIII, Enc. Pacem in terris, 11‑IV‑1963, 10; (4) Conferência Episcopal Espanhola, Instr. Past. Os católicos na vida pública, 22‑IV‑1986, ns. 113‑114; (5) São Tomás, Suma Teológica, II‑II, q. 73, a. 2; (6) Ti 3, 6; (7) cfr. Pio XI, Enc. Quadragesimo anno, 15‑VI‑1931, 37; (8) João Paulo II, Enc. Sollicitudo rei socialis, 30‑XII‑1987, 34; (9) idem, Alocução no estádio do Morumbi, São Paulo, 3‑VII‑1980; (10) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 168.

Fonte: http://www.hablarcondios.org/pt/meditacaodiaria.asp

50.000 acessos no "youtube".


O testemunho do Anderson Reis chegou à incrível marca de 50 mil acessos no “youtube”, dezenas de milhares de pessoas do Brasil e de várias partes do mundo puderam conhecer esta maravilhosa história de Amor.

O tremendo é que Deus usa do testemunho para comunicar a grandeza do seu amor na vida de outras pessoas, e isso aconteceu de fato com a história do Anderson. Depois deste testemunho dado ao Dunga no PHN às portas missionárias se abriram amplamente, o mundo quis ver e ouvir de perto este pregador ousado, ancorado na verdade e resgatado da morte para um autentico profetismo. E assim se consolidou a vida missionária do Anderson, consolidou com os frutos e com o "mar" de conversões em encontros pregados.

Hoje sua agenda é lotada, todos os finais de semana esta em algum canto do Brasil pregando, ano passado esteve na Europa e já tem convites para várias cidades americanas para o ano que vem.

Amigos leitores, não temas em leva este profetismo para sua terra, organize um evento na sua cidade ou no seu país e leve este missionário. Um homem que vive da providencia, que não é destes “pregadores estrelas” que cobra uma fortuna para pregar e muito menos destes pregadores vaidosos que exigem tudo “5 estrelas” na missão. O Anderson é um cara que nasceu para ser um missionário fiel e corresponde a isto de forma irrepreensível.

Bom, esta postagem era só para registrar os 50 mil acessos, mas fica ai o meu prestigio por você Anderson e sobretudo minha suplica a todos os leitores que reze por este ministério abençoado.

Salve Maria!

China mascara passado de crimes em história oficial do comunismo


Luis Dufaur

Causou espanto o livro oficial sobre a “História do Partido Comunista Chinês, 1949-1978”, publicado por ocasião dos 90 anos do partido.

A causa do estarrecimento foi o silêncio deliberado sobre as dezenas de milhões de pessoas mortas para a implantação da utopia socialista.

“Não menos do que 60 milhões”, disse Frank Dikötter, historiador da Universidade de Hong Kong que está escrevendo um livro sobre os primeiros anos da República do Povo.

A já contestada história oficial forma um volume de 1.074 páginas que visa ludibriar os 82 milhões de membros do partido e os ingênuos ou amigos do Ocidente.

Os historiadores apontam como exemplo o modo de se apresentar a Campanha Anti-Direitista de 1957.

Esta é mencionada num só parágrafo, que se refere superficialmente a protestos, greves e saques.

Na realidade os cidadãos morriam de fome aos milhões, em decorrência da reforma agrária e de políticas industriais coletivistas.

Nessa campanha, mais de 550 mil intelectuais foram tachados de “direitistas”, demitidos de seus empregos, torturados e enviados para campos de trabalho onde muitos morreram.

Cinicamente, uma nota de rodapé reconhece que “98%” das vítimas da campanha foram acusadas “equivocadamente”.

Porém, a história oficial elogia os morticínios e a eliminação fatal dos “direitistas”, dizendo que foi “necessária e correta” para implantar o socialismo.

Os crimes de massa continuam sendo um método aprovado pela China que hoje finge cortejar o capitalismo.

Sobre o Grande Salto Adiante de 1958-62, de Mao Tsé Tung, a campanha de coletivização e industrialização que causou um dos maiores morticínios culposos de massa da História da humanidade, o livro constata apenas estatisticamente que a população da China caiu em 10 milhões de 1959 a 1960.

Entre dois e três milhões de pessoas foram mortas em 1949-51 pelo fato de serem proprietárias de terras ou “contra-revolucionárias”, denunciadas falsamente como bandidos ou espiões do Kuomintang.

Mas a história oficial não menciona sequer um número, embora elogie a reforma agrária e outras campanhas contra os proprietários urbanos e industriais que morreram chacinados.

O livro faz de Mao apenas uma restrição: ele teria cometido erros “esquerdistas”, como a Revolução Cultural. Porém, diz maquiavelicamente que os mesmos foram “necessários” e põe a culpa em etéreas “expansões” equivocadas.

Em última análise, ninguém teve culpa pelo extermínio de dezenas de milhões de chineses proprietários, fazendeiros, intelectuais, nobres e simples populares sacrificados no altar fanático do socialismo de Estado.

“É uma espécie de ilusão mostrar que eles estão fazendo um esforço para contar a verdade, quando sabemos que eles não estão”, disse a historiadora Zhou Zun, da Universidade de Hong Kong.

O presidente Hu Jintao apadrinhou uma equipe de pesquisadores encarregada de suprimir fatos ou interpretações indesejáveis da história.

Assim saiu a atual história, que o governo comemora como “um esforço coletivo”, disse Frank Dikötter.

O passado imediato da China não é tão passado assim. Ele vive acalentado nos espíritos da dirigência socialista atual.


Fonte: http://www.ipco.org.br

Porque alguns matrimônios fracassam?


Por Padre Cormac Burke

O casamento é, obviamente, uma das tendências mais naturais da natureza humana. Ora, se é assim, parece difícil imaginar que, em circunstâncias normais, seja natural que o casamento fracasse. Se tantos casamentos fracassam hoje em dia, talvez seja porque as circunstâncias que cercam o matrimônio já não são normais. Ao invés de o casamento estar fracassando para o homem, não será o homem que vem fracassando em relação ao casamento? Não será que o erro, ao invés de residir no casamento, reside no homem moderno, e mais especialmente no modo como ele encara o casamento? Inclino-me a pensar que sim, porque me parece que há pelo menos três pontos principais em que o homem encara mal o casamento:

1. a) o homem moderno tende a “deificar” o amor humano, esperando dele o que – como qualquer cristão sabe – só Deus pode dar;

1. b) tende também a inverter a ordem de prioridades quanto aos fins do casamento, ou seja, pensa que o casamento existe em primeiro lugar para exprimir o amor e desfrutar dele, e só em segundo lugar (quando muito) para ter filhos.

1. c) tende ainda a encontrar oposição entre esses dois fins, em lugar de vê-los como complementares.

Examinemos cada um destes pontos mais de perto.

O QUE SÓ DEUS PODE DAR

A principal esperança do homem é ser feliz. O ser humano foi feito para a felicidade e procura-a necessariamente. Mas somente encontrará frustração se procurar a felicidade onde ela não estiver…; ou se procurar uma felicidade ilimitada onde não houver senão felicidade limitada…; ou se procurar a felicidade onde ela se encontra, mas não do modo como se pode encontrá-la…

A felicidade pode ser encontrada no casamento, mas não de um modo ilimitado; pedir ao casamento uma felicidade perfeita é pedir demais. Contudo, o homem foi feito com a capacidade e a sede de uma felicidade ilimitada. É por isso que se pôde dizer com tanto acerto que “a mulher promete ao homem o que só Deus pode dar”. Qualquer pessoa de fé sabe que a felicidade perfeita só pode ser encontrada de modo real e permanente em Deus; e sabe também que essa felicidade não é possível nem duradoura nesta terra, mas somente no Céu. O ateu ou semi-ateu esquece-se deste dado. E quando o homem começa a esquecer Deus e perde a esperança na vida eterna, o seu coração polariza-se nas coisas terrenas e procura satisfazer nelas a sua sede de felicidade. Não o conseguirá.

Nem mesmo o casamento, que dentre todas as coisas humanas é a que promete mais felicidade e é capaz de dá-la, conseguirá satisfazer o seu desejo.

Quem tiver presente esta realidade, procurará a felicidade no casamento, mas não esperará uma felicidade perfeita, pois sabe que seria pedir-lhe o que ele não pode dar. A pessoa que esquece Deus tenderá a “deificar” o amor humano, o que praticamente significa garantir o fracasso do amor humano.

Se alguém espera demais do amor e do casamento, está destinado a decepcionar-se profundamente.

Quando se põe demasiada pressão numa caldeira, esta acaba por explodir; quando se exige demais do casamento, este entra em colapso. Muitos divórcios de hoje encontram aqui a sua explicação.

OS FILHOS COMO “ACESSÓRIOS OPCIONAIS”

A segunda razão pela qual o casamento muitas vezes não dá certo hoje em dia é a tendência do homem moderno de criar uma nova ordem de prioridades quanto aos fins do casamento, convertendo o amor mútuo no principal objetivo ou mesmo no objetivo total e único do casamento. Ao mesmo tempo, reduz-se a possibilidade de ter filhos – um ou dois filhos – a uma simples circunstância; a maioria dos casais quererá tê-los como parte da sua auto-realização, ao passo que outros, de modo igualmente legítimo, talvez prefiram um ou dois carros, uma ou duas casas…

Para muitas pessoas de hoje, os filhos desempenham no casamento o mesmo papel que os acessórios num automóvel: são “opcionais”. Inclua-os, se você gosta deles ou pode arcar com o gasto.

Caso contrário, o casamento – como o automóvel – “funcionará” perfeitamente sem eles.

A isto, a Igreja responde com um rotundo “Não”. Somente em casos realmente excepcionais é que um casamento “funcionará” bem sem filhos, sem os filhos que Deus quer dar a cada casal em particular. Pode acontecer que Ele não queira que um determinado casal tenha filhos, mesmo que marido e mulher estejam ansiosos por ter uma família. Essas uniões (materialmente) estéreis podem ser felizes, se ambos os cônjuges aceitarem a vontade de Deus. Nesse caso, receberão graças especiais de Deus para aprenderem a amar-se um ao outro mais e mais com o passar do tempo. E podem – e até devem – conquistar uma fecundidade espiritual, dedicando o tempo e as energias que teriam investido nos filhos a atividades educativas e apostólicas que ajudem os outros. A exclusão deliberada dos filhos, porém, quer seja total, quer parcial, leva necessariamente qualquer casamento a “funcionar” muito mal.

Trata-se de uma verdade – de uma regra ou lei de vida – que se encontra implícita no ensinamento da Igreja a respeito dos fins e prioridades do casamento.

OS “MOTIVOS” NEM SEMPRE SÃO “FINS”

Uma vez que o homem contemporâneo pode apresentar poucas evidências em favor das modernas filosofias sobre o casamento, não lhe faria mal reexaminar o ensinamento da Igreja segundo o qual “o matrimônio e o amor conjugal se ordenam por natureza para a procriação e educação dos filhos [1].

Deverá refletir também sobre a afirmação de que este ensinamento corresponde ao conceito autenticamente natural do casamento.

Para começar, talvez seja útil mostrar-lhe que a maioria das pessoas que consideram errado o ensinamento da Igreja não compreendeu bem o que ela realmente ensina. Com efeito, ao fazer essa afirmação, a Igreja não se refere aos motivos que os indivíduos possam ter para casar-se, mas aos fins do casamento como instituição. E um pouco de reflexão torna claro que os motivos pessoais e subjetivos não coincidem necessariamente com os fins objetivos.

Sem dúvida, o principal motivo que leva a maioria das pessoas a casar-se é o amor: “Por que quero casar-me com essa pessoa e não com outra? Porque a amo”. Isto é evidente. Normalmente ter filhos, conta, quando muito, como motivo secundário, e hoje em dia, em muitos casos, nem sequer chega a apresentar-se como motivo.

Esta hierarquia de motivos – em primeiro lugar, amor; em segundo (quando muito), filhos – pode facilmente levar muitas pessoas a concluir que um casamento feliz e bem-sucedido depende desses mesmos fatores e nessa mesma ordem; ou seja, a felicidade no casamento depende principal ou mesmo exclusivamente do amor mútuo, e só secundariamente, ou de modo algum, dos filhos. No entanto, não existe especial evidência de que esta conclusão seja correta. Afinal de contas, uma coisa são os motivos para casar-se, e outra bem diferente é o modo como o casamento traz felicidade.

COMO O CASAMENTO TRAZ FELICIDADE

Não é errado casar-se por amor, como não o é esperar felicidade do casamento. Mas as pessoas podem enganar-se se fizerem depender todas as suas esperanças de felicidade no casamento de um único fator – o amor mútuo -, quando a própria natureza determinou que a felicidade no casamento proviesse da delicada e exigente interação de dois fatores: amor e filhos. Em outras palavras, as pessoas podem enganar-se ou fracassar por não terem compreendido como o casamento deve “funcionar”, por não terem entendido o mecanismo pelo qual ele realiza todas as suas possibilidades, entre elas a de trazer felicidade. E é neste sentido que o ensinamento da Igreja pode resolver muitos problemas.

Somente a ignorância – ou algo pior do que a ignorância – seria capaz de apresentar o ensinamento tradicional da Igreja a respeito do casamento como resultado de um legalismo medieval, como fruto da atitude de um grupo de inflexíveis clérigos celibatários que estariam apontando o seu dedo reprovador para o homem moderno: “Você talvez esteja interessado na felicidade. Mas isso não passa de um desses modernos contos de fadas, e é melhor esquecê-lo se quiser continuar a ser um membro obediente da Igreja. Porque a Igreja não está interessada em saber se o casamento traz ou não felicidade. A Igreja só se interessa pela prole – traduzida em números – e pela lei: indissolubilidade…”

A IGREJA E A FELICIDADE HUMANA

Trata-se de uma paródia caluniosa e grosseira da atitude da Igreja. A Igreja está plenamente consciente de que a verdade que ela sustenta – o ensinamento tradicional a respeito do matrimônio – lhe foi confiada pelo próprio Cristo. Sabe, portanto, que não tem autoridade para alterá-la ou deixar de proclamá-la. Ao mesmo tempo, contudo, tem também plena consciência de que a sua concepção do casamento leva em conta todos os elementos naturais dessa instituição, incluída a promessa de felicidade que o casamento parece oferecer ao ser humano.

Quando a Igreja une os seus filhos pelo vínculo matrimonial, é a primeira a alegrar-se. O divino Mestre está sempre disposto a ser convidado para uma festa de bodas, e gosta de confirmar a alegria de Caná. Mas é para Ele que o jovem casal deve olhar, se deseja que o vinho da sua felicidade atual se torne mais saboroso e abundante, e não se esgote nem se transforme em vinagre [2].

Quando o Senhor diz aos cônjuges – através da Sagrada Escritura – que são uma só carne e que não podem separar-se (cf. Mt 19, 6), que devem crescer e multiplicar-se (cf. Gên 1, 28); ou quando ensina através da sua Igreja (mais uma vez com palavras do Vaticano II) que “a instituição do matrimônio e o amor dos cônjuges estão pela sua índole natural ordenados para a procriação e educação dos filhos, nos quais encontram a sua coroa de glória” [3], o que faz é pensar na felicidade deles: não somente na felicidade eterna (embora seja esta a única que importa essencialmente), mas também na felicidade relativa, mas muito real, que podem alcançar aqui na terra, e que Ele quer que alcancem.

DO AMOR CONJUGAL AO AMOR FAMILIAR

Talvez possamos explicar melhor a questão desta forma. Parece evidente que a busca de uma promessa de felicidade no casamento faz parte da ordem natural do homem; ora bem, se – tal como a Igreja ensina – também faz parte da ordem natural ter filhos, mais ainda do que desfrutar do amor, então – a não ser que a natureza esteja mentindo ou seja incoerente – a felicidade no casamento dependerá, normalmente e a longo prazo, da geração e educação dos filhos mais do que do amor entre marido e mulher e dos modos de expressão desse amor. Sem dúvida alguma, depende de ambos os fatores; mas o ensinamento da Igreja parece sugerir que, em última análise, os filhos têm uma influência muito mais decisiva na formação da felicidade conjugal.

Suponhamos agora que alguém se levantasse e dissesse que essa afirmação é absurda, pois equivaleria a considerar um elemento fisiológico (a procriação) mais importante do que uma realidade espiritual (o amor). Eu lhe responderia que não é bem isso o que se quis dizer. O que se quer dizer é que o amor no casamento, certamente mais amplo do que o mero amor físico, é também mais amplo do que o mero amor conjugal.

O amor no casamento não está destinado a permanecer apenas como amor entre duas pessoas.

Provavelmente nem sequer sobreviverá, se não ultrapassar esse estágio. A sua vocação natural é expandir-se, estender-se, incluir cada vez mais elementos. O amor conjugal está na verdade projetado para se tornar amor familiar; está destinado a crescer e, nesse crescimento, a incluir e acolher outros seres humanos, que serão precisamente o fruto desse amor. “O verdadeiro amor mútuo transcende a comunidade de marido e mulher e estende-se aos seus frutos naturais, os filhos”*. E com isto chegamos ao terceiro ponto das nossas considerações.

A FELICIDADE CALCULISTA

Uma época que não encara os filhos como uma conseqüência natural do amor conjugal pode estar a caminho de encará-los como seus inimigos naturais. Foi por isso que mencionei, como o terceiro dos principais motivos do malogro de tantos casamentos atuais, o avanço da tendência moderna não só de antepor o amor mútuo aos filhos, mas de opor os dois fins entre si, em vez de ver que são complementares.

Influenciadas pela mentalidade e pela propaganda do controle da natalidade, muitas pessoas incidem nesse engano que acabo de delinear: pensam que a felicidade humana no casamento depende essencialmente do amor, e muito menos – ou nada – da paternidade. Gostaria de saber quantos estão conscientes de que esta idéia pode representar o primeiro de uma série de passos que acabarão por arrastá-los muito mais longe do que tinham pensado ou desejado, na esteira de uma filosofia que tem uma força poderosa e uma direção própria.

Analisemos um pouco mais profundamente este primeiro passo na filosofia antinatalista, e como é fácil deixar-se guiar por ela – na trilha descendente do calculismo, não no caminho ascendente do amor.

O primeiro princípio desta “filosofia” moderna do casamento diz que o amor é o ingrediente essencial e suficiente da felicidade conjugal, e que os filhos devem ser vistos apenas como uma possível ajuda – mas também como um possível obstáculo – para esse amor. Com efeito, os filhos trazem consigo a sua carga de exigências, e hoje em dia vem ganhando popularidade uma concepçãodo amor que não quer submeter-se a exigências. Com esta mentalidade, o amor é pensado acima de tudo em termos de satisfação pessoal (e não de autodoação, de crescimento por alcançar um ideal elevado, com tudo o que isso implica de esforço e sacrifício); e, em conseqüência, o vago anseio de paternidade é insuficiente para compensar as “desvantagens” de ter filhos. Isto é especialmente verdade no caso das mulheres, que tendem cada vez mais a sentir o peso da gravidez e o cuidado das crianças como um preço excessivamente alto a pagar pelas possíveis alegrias da maternidade.

A felicidade é o resultado de uma dedicação generosa a alguém ou a alguma coisa que vale a pena.

É o resultado de saber dar-se ainda que custe, e sem preocupar-se pelo fato de que custa. A felicidade não é algo que se possa comprar com dinheiro ou obter através de cálculos. No entanto, a moderna filosofia do casamento está repleta de cálculos, quase todos cálculos frios, muitos deles totalmente egoístas e totalmente errados.

O primeiro cálculo é – como vimos – o de que bastam duas pessoas para que uma faça feliz a outra. O segundo cálculo é que um determinado número de filhos – um ou dois – pode reforçar essa felicidade, ou pode prejudicá-la… O terceiro cálculo – que para muitos vem adquirindo a força de um dogma – é que ultrapassar um determinado número de filhos (dois ou três no máximo) certamente contrariará a felicidade e o amor conjugais. Ora bem, a partir do momento em que se conclui que um determinado número de filhos – quatro, por exemplo – é inimigo do amor, é fácil acabar por considerar qualquer número – mesmo um só – como inimigo. Esta é, simplesmente, a conclusão lógica de um casamento submetido ao controle da natalidade.

Quando duas pessoas começam por pensar que “foram feitas uma para a outra”, podem acabar por julgar que não foram feitas para mais ninguém, e que não precisam de mais ninguém; que qualquer outro – mesmo um filho, e especialmente o filho – pode ser um rival do seu amor. Uma ou outra (ou ambas) podem prever – e recusar – a possibilidade de que o filho absorva parte do amor que o cônjuge lhe dedica de modo exclusivo. Não há dúvida de que muitas pessoas casadas, ao tornarem-se pais, experimentam algumas reações de ciúme quando percebem que já não são objeto exclusivo do afeto do outro. É natural sentir alguns ciúmes passageiros neste sentido, mas também o é saber superá-los. O que não é natural, quando se prevê esta possível nova orientação ou ampliação do amor do cônjuge, é querer evitar o filho que a causará. Semelhante atitude é mera expressão de um espírito possessivo, egoísta e avaro: a perfeita antítese do amor.

O amor sexual e a procriação estão associados um ao outro nos planos de Deus, e assim unidos constituem um inabalável fundamento natural para a felicidade no casamento. É claro que o homem pode separar o que Deus uniu. Mas esta separação antinatural pode deixar o amor conjugal sem suporte. E um casamento sem o seu suporte natural entra logicamente em colapso.

Os que pensam que a filosofia do controle da natalidade favorece o casamento e o amor deveriam reparar melhor nas suas possíveis conseqüências. Aldous Huxley parodia-as muito bem no seu livro, Admirável Mundo Novo, atroz sátira de uma sociedade futura sem alma, que hoje já parece muito mais verossímil do que há cinqüenta anos, quando Huxley a concebeu. Essa “admirável” e “liberada” visãode um futuro em que tudo é planejado – o amor e o sexo identificados (ou melhor, um amor desorientado e sufocado pelos instintos animais descontrolados); o matrimônio, proscrito e abolido; os filhos (o “repovoamento”) reduzidos a produtos de laboratório nas mãos seguras e exclusivas do Estado -, essa visão não passa de uma projeção fantasiosa, mas coerente, da filosofia do controle da natalidade.

(BURKE, Cormac Pe.; AMOR E CASAMENTO – Editora Quadrante, Brasil, 1991).


Fonte: http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/