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5 de jul. de 2009

O Santo Rosário


Uma reflexão sobre a história e a importância da recitação do Rosário pelos cristãos à luz da Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, do Papa João Paulo II.
“Papa muda o terço depois de quinhentos anos” “Papa renova o terço depois de séculos”. `João Paulo II altera modo de rezar o terço”. Estas e outras manchetes – mais ou menos exatas – encabeçaram as páginas de jornais de todo o mundo quando o Papa João Paulo II publicou, no dia 16 de outubro de 2002, a sua Carta ApostólicaRosarium Virginis Mariae (1) sobre o Santo Rosário, em que incluía a possibilidade de rezar novos mistérios e estimulava uma renovação dessa tradicionalíssima devoção mariana.



(1) Daqui por diante, as referências a essa Carta apostólica serão indicadas apenas pelo número do parágrafo entre parênteses.





[...]


BREVE HISTÓRIA DO ROSÁRIO

É difícil dizer quando começa a história do Rosário, pois foi nascendo como algo natural e espontâneo no povo cristão. Na Idade Média, faz-se referência à Virgem Maria com o título de “Rosa”. Num manuscrito medieval francês lê-se, por exemplo: “Quando a bela rosa Maria começa a florescer, o inverno das nossas tribulações se desvanece e começa a brilhar o verão da eterna alegria”. As imagens de Nossa Senhora são adornadas com uma coroa de rosas, e nos hinos cantados em sua homenagem é designada como um “jardim de rosas” (em latim medieval, rosarium).

Nessa época, nasceu o costume de rezar cento e cinqüenta Ave-Marias em substituição dos cento e cinqüenta Salmos do Ofício divino. Para contá-las, utilizavam-se grãos enfileirados num barbante, em grupos de dez, ou nós feitos numa corda. Ao mesmo tempo, meditava-se e pregava-se a vida da Virgem Maria.

Embora haja diferentes opiniões sobre o modo como o Rosário se formou gradualmente, não há dúvida de que São Domingos (1170-1221) foi o homem que, no seu tempo, mais contribuiu para essa formação, não sem a inspiração da própria Santíssima Virgem. Esta oração foi a grande arma de que o santo se valeu para combater a heresia albigense: na sua pregação, narrava os mistérios evangélicos e depois recitava com os ouvintes as Ave-Marias.

Por volta de fins do século XV, os dominicanos de Flandres e de Colônia deram ao Rosário uma estrutura similar à que se passou a utilizar daí por diante: rezavam cinco ou quinze mistérios, cada um composto de dez Ave-Marias. A Ave-Maria, recomendada desde antes do século XII pelos Concílios numa versão mais breve do que a que conhecemos, adquire então a sua forma definitiva, com o acréscimo da petição de uma boa morte: “rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte”. Por essa época, ganha forma também a contemplação dos mistérios, divididos em gozosos, dolorosos e gloriosos, procurando-se assim repassar semanalmente os fatos centrais da vida de Jesus e de Maria, como um resumo do Evangelho. Em último lugar, acrescenta-se a ladainha, cuja origem na Igreja é independente e muito antiga.

A partir de então, o Rosário estende-se graças às aprovações pontifícias e à difusão das Confrarias do Santo Rosário. O Papa São Pio V atribuiu a vitória da batalha de Lepanto contra os turcos, a 7 de outubro de 1571, à intercessão de Nossa Senhora por meio do Rosário. Com o tempo, vir-se-ia a celebrar a festa de Nossa Senhora do Rosário nesse dia 7 de outubro.

Houve um notável impulso dessa devoção em tempos de Leão XIII, chamado, como vimos, “o Papa do Rosário”. Todos os Pontífices dos últimos séculos promoveram aquela que é provavelmente a devoção mais praticada pelos fiéis católicos. Nos últimos tempos, contribuíram de maneira especial para a propagação dessa devoção mariana as aparições de Lourdes e Fátima. Aos três pastorzinhos de Fátima, Nossa Senhora pedia expressamente: “Rezem o Rosário”.

[...]


O ROSÁRIO E A VIDA CRISTÃ

Na sua Carta apostólica, o Santo Padre João Paulo II mostra a imensidade de tesouros que contém em si essa oração tão tradicional na Igreja. Riquezas para o desenvolvimento da vida cristã, para o aprofundamento no conhecimento de Cristo, para a revitalização da Igreja e da sociedade em geral. Por isso, quis o Papa comemorar os seus vinte e cinco anos de pontificado estabelecendo um Ano do Rosário, de outubro de 2002 a outubro de 2003.

Considerar esta Carta nos seus pontos principais pode ser um ótimo meio de incluirmos ou revitalizarmos essa devoção na nossa vida, e de sermos, também nós, propagadores do amor a Maria.

Crise?
O Rosário atravessa uma crise? O Papa fala de “uma certa crise desta oração” (n. 4), referindo-se a uma compreensão errônea por parte de alguns, que os leva a considerar o Rosário uma devoção própria de épocas passadas. Daí a revitalização que João Paulo II procura fomentar, criando novos mistérios e propondo este ano do Rosário.

Se o Rosário está realmente em crise, talvez seja porque está em crise o amor, que é o mais terrível tipo de crise do coração humano e da sociedade. Justamente por isso impõe-se um esforço de renovação, pois o Rosário é – digamos assim – uma “grande canção de amor”.

Uma das maiores resistências que alguns experimentam diante desta oração mariana é a repetitividade das Ave-Marias. “Considerando superficialmente uma tal repetição, pode-se ser tentado a ver o Rosário como uma prática árida e aborrecida. Chega-se, porém, a uma idéia muito diferente quando se considera o terço como expressão daquele amor que não se cansa de voltar à pessoa amada com efusões que, apesar de semelhantes na sua manifestação, são sempre novas pelo sentimento que as permeia [...]. Para entender o Rosário, é preciso entrar na dinâmica psicológica do amor” (n. 26).

Não dizem as canções de amor sempre a mesma coisa? Isso é mau, por acaso? Os namorados não repetem sempre as mesmas frases: “eu te amo”, “eu te adoro”, “você é o meu amor”? Com Maria Santíssima e com Jesus Cristo não há de ser diferente.

Para quem ama, a repetição das Ave-Marias no Rosário não é vazia nem monótona. Para os que ainda não amam devidamente, essa repetição pode ser um bom caminho para aprenderem a amar. João Paulo II não se recata em mostrar a sua preferência: “O Rosário é a minha oração predileta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade” (n. 2).

Para confirmar esta realidade, basta pensar que é “oração amada por numerosos santos” (n. 1), que são os campeões no amor. O Beato Bártolo Longo tomou-o como ponto princípal da sua missão e esteio da sua piedade. São Luís Maria Grignion de Monfort sustentava que é “ó método mais fácil de meditação” e “a mais difícil das orações vocais”. São Josemaría Escrivá chamava-lhe “arma poderosa para vencer na luta interior e para ajudar todas as almas”(2).



(2) São Josemaría Escrivá, Santo Rosário, 3a. ed., Quadrante, São Paulo, 2001, Introdução.




Mesmo para os santos, essa oração tão simples era um desafio. É o que relata com tanta espontaneidade Santa Teresa de Lisieux: “Sozinha (envergonho-me de confessá-lo), a recitação do terço custa-me mais do que servir-me de um instrumento de penitência... Sinto que o rezo tão mal! Esforço-me em vão por meditar os mistérios do Rosário, não consigo fixar o meu espírito... Fiquei durante muito tempo desolada com esta falta de devoção que me espantava, pois amo tanto a Santíssima Virgem que me deveria ser fácil recitar em sua honra as orações que lhe são agradáveis. Agora, desconsolo-me menos, penso que a Rainha dos Céus, sendo minha Mãe, deve ver a minha boa vontade e contentar-se com isso” (3). Que consoladoras são estas palavras para tantos que, embora desejando ser bons filhos de Nossa Senhora, notam que ainda teriam tanto a crescer nessa oração!

(3) História de uma alma, man. B., fol. 25.





Oração para todos
A variedade de santos canonizados e de almas santas que testemunham a favor do Rosário mostra a riqueza dessa oração, que “tem não só a simplicidade de uma oração popular, mas também a profundidade teológica de uma oração adaptada a quem sente a exigência de uma contemplação mais madura” (n. 39). Pode ser rezado por milhares de pessoas numa catedral, no doce aconchego do lar, ou por um sacerdote sozinho no silêncio do confessionário. Reza-o a bisavó analfabeta num casebre no sertão, o bispo na sua residência episcopal, o estudante num vagão de trem do metrô, o doente no hospital, a enfermeira e o médico cristão. Os próprios jovens são “capazes de surpreender uma vez mais os adultos, assumindo esta oração e recitando-a com o entusiasmo típico da sua idade” (n. 42).

Se a alguém o terço poderia parecer uma oração para pessoas sem instrução, valha aquele conselho de São Josemaria Escrivá: “Para os que empregam como arma a inteligência e o estudo, o terço é eficacíssimo. Porque, ao implorarem assim a Nossa Senhora, essa aparente monotonia de crianças com sua Mãe vai destruindo neles todo o germe de vanglória e de orgulho” (4). E mais uma razão de peso do Santo para os que nos sabemos pecadores: “bendita monotonia de ave-marias, que purifica a monotonia dos teus pecados!”(5)



(4) São Josemaría Escrivá, Sulco, Quadrante, São Paulo, 1987, n. 474.
(5) Ibid., n. 475.






Por outro lado, como ressalta o Santo Padre, “longe de constituir uma fuga dos problemas do mundo, o Rosário leva-nos a vê-los com olhar responsável e generoso, e alcança-nos a força de enfrentá-los com a certeza da ajuda de Deus” (n. 40). Em tantas coisas em que, à primeira olhada, nos pareceria que não podemos fazer nada, o Rosário é como uma “arma” que permite entrar na batalha como bons soldados de Cristo.
É, sem dúvida, uma oração “destinada a produzir frutos de santidade” (n. 1) nos cristãos individualmente e em toda a Igreja. Por isso vale a pena repassar as contas do terço uma e outra vez, e sempre. Conta-se que Santa Bernadette Soubirous, depois de ter tido o privilégio de ver Nossa Senhora nas aparições de Lourdes, procurava viver uma vida normal. Mas as pessoas que conviviam com ela gostavam de ter um objeto que ela tivesse tocado. Um dia, uma amiga sua, querendo que ela tocasse o seu terço mas não encontrando nenhum motivo plausível, disse-lhe: “Veja como o meu rosário está enferrujado”, enquanto lho estendia. Ao que Bernadette respondeu, bem-humorada: “Minha boa amiga, recite-o mais vezes e ele não enferrujará”... E não o tocou.

O conselho vale para todos nós. Recitemos o terço mais vezes e o nosso amor não enferrujará.

Contemplação
O Rosário “é uma oração marcadamente contemplativa. Privado desta dimensão, perderia o sentido, como sublinhava Paulo VI.: «Sem contemplação, o Rosário é um corpo sem alma e a sua recitação corre o perigo de se tornar uma repetição mecânica de fórmulas [...]. Requer um ritmo tranqüilo e uma certa demora em pensar, que favoreçam, naquele que ora, a meditação dos mistérios da vida do Senhor»” (n. 12).

A contemplação pede serenidade. É assim que a mãe contempla calmamente o seu filhinho que dorme; que o artista contempla durante um longo tempo uma obra de arte numa exposição; que o músico contempla uma bela canção. O terço pode ter exatamente esta função: conferir o “ritmo”, o “tempo”, o “compasso” de contemplação que é tão necessário numa época corrida como a que vivemos. Para não poucos, tentar interromper a agitação da vida moderna repentinamente e pôr-se a refletir não é tarefa nada fácil. A imaginação agita-se amalucadamente, a memória traz mil eventos ou imagens, e não deixa o mundo interior serenar. E a pessoa sente-se tentada a abandonar o seu esforço de concentração e de recolhimento do coração junto de Deus. Mas a oração serena do terço pode ajudar justamente a prender o mundo interior à volta de uma oração repetitiva, deixando espaço para que a alma se aconchegue junto do Senhor. A memória fica levemente entretida na oração vocal, a imaginação não se sente solta e perdida ao considerar os mistérios que estão sendo rezados, e o coração encontra-se livre para entabular um diálogo sereno com Deus sobre tantas e tantas coisas de que gostaria de falar, mas para as quais parecia não haver ocasião.

Por isso, o Rosário é “um método para contemplar” (n. 28). Não o único método, já que há muitos e muito bons. Mas um método útil e comprovado por tantas e tantas almas. Aproveitar os textos do Beato Bártolo Longo sobre os mistérios do Rosário pode ser para nós uma excelente oportunidade de nos introduzirmos nessa contemplação, a fim de – conduzidos por boas mãos – chegarmos por Maria a Jesus Cristo.

Compêndio do Evangelho
Quando a televisão anuncia como chamada para o próximo bloco: “Logo após os comerciais, não perca: finalmente solucionado o mistério de...”; fica em nós uma ponta de curiosidade sobre o tal mistério: “Que será?” Talvez nos esclareçam então quem foi o autor daquele antigo crime, ou que o tão falado OVNI não era mais do que um balão meteorológico, ou que finalmente saiu a escalação da seleção nacional. O conceito de “mistério” tem hoje uma carga de sensacionalismo, de manchete jornalística, mas nem sempre foi assim. A palavra grega “mistério” está ligada originariamente às cerimônias religiosas dedicadas aos deuses. Como poucos eram os “iniciados” que sabiam dar amplas explicações sobre os complicados deuses gregos, havia sempre muito de desconhecimento, e um halo místico envolvia aquelas cerimônias.

O cristianismo assumiu a palavra aplicando-a às verdades da fé que não podem ser completamente compreendidas, por ultrapassarem a capacidade do ser humano: assim, por exemplo, o mistério da Santíssima Trindade. É no mesmo sentido que se aplica a palavra aos “mistérios da salvação”, àquelas realidades que, dizendo respeito a Cristo e ao nosso destino eterno, nunca são perfeitamente compreendidas. “Cada passagem da vida de Cristo, como é narrada pelos Evangelistas, reflete aquele Mistério que supera todo o conhecimento (cfr. Ef 3, 19). É o Mistério do Verbo feito carne, no qual «habita corporalmente toda a plenitude da divindade» (Col 2, 9). Por isso, o Catecismo da Igreja Católica insiste tanto nos mistérios de Cristo, lembrando que «tudo na vida de Jesus é sinal do seu Mistério» (n. 515)” (n. 24).

É ainda neste sentido que se utiliza a palavra “mistérios” do Rosário. Trata-se de passar “diante dos olhos da alma os principais episódios da vida de Jesus Cristo” (n. 2), a fim de compreender mais a fundo o seu significado para a nossa vida interior e a nossa relação com Deus. É uma forma de repassar constantemente os acontecimentos que se deram na passagem de Deus entre os homens e que guardam em si os elementos essenciais para a vida cristã.

Os diversos ciclos de mistérios criados pela tradição cristã – Gozosos, Dolorosos, Gloriosos e, agora, Luminosos – “não são certamente exaustivos, mas apelam para o essencial, introduzindo o espírito no gosto de um conhecimento de Cristo que brota continuamente da fonte límpida do texto evangélico” (n. 24).

Devoção cristológica
Devoção tipicamente mariana, o Rosário é, sem dúvida, uma devoção muito cristológica, porque não se pode separar Maria do seu Filho, Jesus. “É o caminho de uma devoção mariana animada pela certeza da relação indivisível que liga Cristo à sua Mãe Santíssima: os mistérios de Cristo são também, de certo modo, os mistérios da Mãe, mesmo quando não está diretamente envolvida, pelo fato de Ela viver dEle e para Ele” (n. 24).

Na bela expressão de João Paulo II, “recitar o Rosário nada mais é senão contemplar com Maria o rosto de Cristo” (n. 3). A atitude contemplativa, em que tanto insiste o Santo Padre, é contemplação do rosto de Cristo. Mas quem nos poderia ensinar melhor a contemplá-lo do que a sua Mãe? Ela nos irá desvendando os mistérios encerrados nessa contemplação. Porque “as recordações de Jesus estampadas na sua alma acompanharam-na em cada circunstância, levando-a a percorrer novamente com o pensamento os vários momentos da sua vida junto com o Filho. Foram estas recordações que constituíram, de certo modo, o «rosário» que Ela mesma recitou constantemente nos dias da sua vida terrena” (n. 11).

Por isso, “percorrer com Ela as cenas do Rosário é como freqüentar a «escola» de Maria para «ler» Cristo, penetrar nos seus segredos, compreender a sua mensagem” (n. 14). Seria impossível encontrar melhor Mestra na matéria mais fundamental da nossa vida cristã. Porque Ela, mais do que ninguém, quer que meditemos nos mistérios da vida de Cristo.

Mas este conhecimento não se limita a um aprendizado teórico ou meramente externo. “No itinerário espiritual do Rosário, fundado na incessante contemplação – em companhia de Maria – do rosto de Cristo, este ideal exigente de configuração com Ele alcança-se através do trato, podemos dizer «amistoso»” (n. 15). Assim como a amizade íntima nos vai “assemelhando” ao amigo, assim a amizade com Cristo adquirida pela recitação do Rosário nos vai “configurando” com Ele. Tornamo-nos mais e mais semelhantes a Cristo, que é uma maneira sintética de dizer que nos. vamos santificando.

Petição através de Maria
Não esqueçamos, porém, que “numerosos sinais demonstram quanto a Virgem Maria quer, também hoje, precisamente através desta oração, exercer aquele cuidado maternal ao qual o Redentor prestes a morrer confiou, na pessoa do discípulo predileto, todos os filhos da Igreja: «Mulher, eis aí o teu filho» (Jo 19, 26)” (n. 7). Ela nunca abandona essa tarefa definitiva que lhe foi confiada pelo seu Filho amado. Cuida de nós como Mãe carinhosa, atenta a todas as nossas necessidades e pedidos.

“Mediante o Rosário, o fiel alcança a graça em abundância, como se a recebesse das próprias mãos da Mãe do Redentor” (n. 1). Não percamos esta oportunidade, portanto, já que são muitas as nossas necessidades. Tanto pessoais, como familiares ou da sociedade em geral.

Dizia Nossa Senhora – falando como de uma terceira pessoa –, nas aparições de Fátima: “Quero que [...] continuem a rezar o terço todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário, para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só Ela lhes poderá valer”(6). Para as grandes necessidades mundiais, Ela é a grande intercessora. Mas também para as pequenas dificuldades pessoais Ela se apresenta como a Mãe que se ocupa das “tolices” da criança como se fossem a coisa mais importante do mundo.



(6) William Thomas Walsh, Nossa Senhora de Fátima, Quadrante, São Paulo, 1996, pág. 69.





“A imploração insistente à Mãe de Deus apóia-se na confiança de que a sua materna intercessão tudo pode no coração do Filho. Ela é «onipotente por graça» como, com expressão audaz a ser bem entendida, dizia o Beato Bártolo Longo na sua Súplica à Virgem” (n. 16). Esta expressão significa que, por graça e disposição divina, Deus concede tudo o que Ela pede. Sendo onipotente o seu Filho, Ela de certa forma o é também, pois alcança fruto para todos os seus pedidos.

Não devemos entender esse poder intercessor apenas quanto à concessão de graças para curas materiais ou para a solução de questões econômicas e materiais em geral. A intercessão de Maria é particularmente poderosa no que se refere às graças espirituais, pois mais importantes e necessárias do que as curas do corpo são as da alma. Assim, o Rosário é um importante instrumento de apostolado cristão. Por isso, João Paulo II diz que “o Rosário conserva toda a sua força e permanece um recurso não descurável na bagagem pastoral de todo o bom evangelizador” (n. 17). Será, portanto, a grande arma para alcançar a conversão à fé daquela pessoa da família que hoje se encontra distante; ou para conseguir que um conhecido participe de uma atividade de formação cristã, ou pelo bem das almas em geral.

Por isso, “se adequadamente compreendido, o Rosário é certamente uma ajuda, não um obstáculo, para o ecumenismo” (n. 4). No diálogo com os não-católicos, Maria, muito mais do que um “obstáculo”, poderá ser uma “medianeira”, facilitando o entendimento mútuo. Com efeito, não são poucos os evangélicos, espíritas ou judeus que têm um carinho todo particular pelo terço, caminho para a aproximação e o diálogo.

A paz e a família
Ao incentivar a devoção do Rosário, o Santo Padre João Paulo II tem no coração dois “alvos” a serem diretamente atingidos, como ele mesmo afirma: “À eficácia desta oração, confio de bom grado hoje [...] a causa da paz no mundo e a causa da família” (n. 39).

Se, historicamente, o Rosário esteve muito ligado à vitória em muitas batalhas que os cristãos tiveram de enfrentar, hoje a vitória mais necessária é a vitória da paz. Peçamos a Maria esse maravilhoso dom e sintamo-nos envolvidos pessoalmente na causa da paz, pois “não se pode recitar o Rosário sem sentir-se chamado a um preciso compromisso de serviço à paz” (n. 6). E comecemos esta tarefa pelo âmbito das pessoas mais próximas de nós, já que a grande paz” se constrói a partir das “pequenas pazes”.

“Análoga urgência de empenho e de oração surge de outra realidade crítica da nossa época, a da família, célula da sociedade, cada vez mais ameaçada por forças desagregadoras em nível ideológico e prático, que fazem temer pelo futuro desta instituição fundamental e imprescindível e, conseqüentemente, pela sorte da sociedade inteira. Propõe-se o relançamento do Rosário nas famílias cristãs, no âmbito de uma pastoral mais ampla da família, como ajuda eficaz para conter os efeitos devastadores desta crise da nossa época” (n. 7).

“O Rosário foi desde sempre também oração da família e pela família. Outrora, esta oração era particularmente amada pelas famílias cristãs e favorecia certamente a união. É preciso não abandonar esta preciosa herança. Importa voltar a rezar em família e pelas famílias, servindo-se ainda desta forma de oração” (n. 41). Velhos hábitos tornam-se novos e atualíssimos quando remoçados devidamente, e assim pode e deve acontecer com a oração do Rosário em família. O quadro tradicional da família reunida à volta da lareira ou do fogão a lenha, perto de um antigo e enorme rádio na sala de estar, rezando o terço, pode ser substituído pelo da família moderna, num apartamento, com a presença desligada da televisão e dos modernos aparelhos de som, bem como com os celulares desconectados...

“Muitos problemas das famílias contemporâneas, sobretudo nas sociedades economicamente evoluídas, derivam do fato de ser cada vez mais difícil comunicar-se. As pessoas não conseguem estar juntas, e os raros momentos para isso acabam infelizmente absorvidos pelas imagens de uma televisão” (n. 41). Este quadro realístico traçado por João Paulo II faz pensar que é o momento de tomar iniciativas que, possibilitando a oração em comum, cheguem também a favorecer um clima de diálogo sereno, de entendimento e troca de impressões na vida do lar. Em alguns casos, talvez seja o ponto de partida para a solução de uns problemas familiares de longa data ou o meio de atalhar os primeiros sintomas de desunião.

Oração final
O Papa conclui a sua Carta com uma chamada amorosa de pai: “Que este meu apelo não fique ignorado!” E não ficará se cada um de nós fizer o que estiver ao seu alcance para reavivar esta devoção na sua própria vida, em primeiro lugar, e, depois, à sua volta: na família, entre as amizades de trabalho, da vizinhança, entre parentes e conhecidos...

“Entrego esta Carta apostólica nas mãos sapientes da Virgem Maria, prostrando-me em espírito diante da sua imagem venerada no Santuário esplêndido que lhe edificou o Beato Bártolo Longo, apóstolo do Rosário. De bom grado, faço minhas as comoventes palavras com que ele conclui a célebre Súplica à Rainha do Santo Rosário: “Ó Rosário bendito de Maria, doce cadeia que nos prende a Deus, vínculo de amor que nos une aos anjos, torre de salvação contra os assaltos do inferno, porto seguro no naufrágio geral, não te deixaremos nunca mais. Serás o nosso conforto na hora da agonia. Seja para ti o último beijo da vida que se apaga. E a última palavra dos nossos lábios há de ser o vosso nome suave, ó Rainha do Rosário, ó nossa Mãe querida, ó Refúgio dos pecadores, ó Soberana consoladora dos tristes. Sede bendita em todo o lado, hoje e sempre, na terra e no céu»” (n. 43).

31 de mar. de 2009

A SUA IGREJA É BÍBLICA?


Por Jacob Michel
Tradução: Rondinelly Ribeiro
Fonte: Cathinsight.com/apologetics/biblicalchurch.htm


A todos os protestantes e outros não-católicos que reivindicam ser seguidores de Cristo:
Façam este simples teste e veja se a sua igreja é verdadeiramente uma igreja bíblica!
(1) "E de todas as nações, como oferta ao Senhor, trarão todos os vossos irmãos a cavalo, em carros e em liteiras, em mulos e dormedários, até meu Monte Santo de Jerusalém - diz o Senhor -, como os israelitas trazem a oferenda numa vasilha pura ao tem plo do Senhor. Dentre eles escolherá sacerdotes e levitas - diz o Senhor" (Is 66:20-21).
O Antigo Testamento profetiza que na Nova Aliança haverá um sacerdócio ministerial. A sua igreja tem um sacerdócio ministerial?
(2) "Por esse tempo apresentou-se João Batista no deserto da Judéia, proclamando: - arrependei-vos, pois está próximo o reinado de Deus" (Mt 3:1-2).
A bíblia descreve a Igreja como um reino, uma monarquia. A sua igreja assemelha-se uma a monarquia, uma democracia ou uma anarquia?
(3) "Do nascente ao poente, é grande minha fama nas nações, e em todo lugar me oferecem sacrifícios e ofertas puras; porque minha fama é grande entre as nações - diz o Senhor dos Exércitos" (Ml 1:11).
O Antigo Testamento profetiza que na Nova Aliança, serão oferecidos sacrifícios e oblações puras do leste ao oeste. A sua igreja oferece sacrifícios e ofertas imaculadas quando se reune?
(4) "E quando chegares ao fim de tua vida e descansares com teus antepassados, estabelecerei depois de ti uma descendência tua , nascida das tuas entranhas, e consolidarei teu reino. Ele edificará um templo em minha honra, e eu consolidarei seu trono real para sempre" (2 Sm 7:12-13).
"Meu servo David será seu rei, o único pastor de todos eles. Caminharão segundo os meus decretos e cumprirão meus preceitos, pondo-os em prática" (Ez 37:24).
"Vê: conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás Jesus. Ele será grande, levará o título de Filho do Altíssimo, o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai" (Lc 1:31-32).
"Vós, ao contrário, vos aproximastes de Sião, monte e cidade do Deus vivo, da Jerusalém celeste com seus milhares de anjos, da congregação" (Hb 12:22).
A Bíblia ensina que Jesus veio restaurar o Reino de Davi, e o elevar a um plano celestial. A sua igreja manifesta esta restauração do Reino de Davi?
(5) "Naquele dia chamarei o meu servo Eliacim, filho de Helcias: eu o vestirei com tua túnica e o cingirei com tua faixa, lhe darei teus poderes; será um governante para os habitantes de Jerusalém e para o povo de Judá. Eu lhe porei no ombro a chave do palácio de Davi: o que ele abrir ninguém fechará, o que ele fechar ninguém abrirá" (Is 22:20-22).
A Bíblia ensina que o Reino de Davi restaurado por Jesus inclui um Ministro Superior, que possui "a chave da casa de Davi," a quem é dado "poder," e é "como pai" aos cidadãos do reino. A sua igreja reconhece tal ministro superior, e a autoridade das chaves?
(6) "Jesus lhes disse: - Eu vos asseguro que vós, que me tendes seguido, no mundo renovado, quando o Filho do Homem sentar em seu trono de glória, também vós sentareis em doze tronos para reger as doze tribos de Israel" (Mt 19:28).
A Bíblia ensina que este Reino restaurado de Davi tem príncipes que regem o Reino. A sua igreja reconhece estes príncipes?
(7) "Betsabéia foi ao rei Salomão para lhe falar de Adonias. O rei levantou para recebê-la, fazendo-lhe um reverência; depois sentou-se no trono, mandou pôr um trono para sua mãe, e Betsabéia sentou-se à sua direita" (1 Rs 2:19-20).
"Roboão, filho de Salomão, subiu ao trono de Judá com quarenta e um anos. Reinou dezessete anos em Jerusalém...Sua mãe chamava-se Naama e era amonita" (1 Rs 14:21).
"Abias subiu ao trono de Judá no ano décimo oitavo de Jeroboão, filho de Nabat. Reinou três anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Maaca, filha de Absalão" (1 Rs 15:1-2).
"Asa subiu ao trono de Judá no vigésimo ano do reinado de Jeroboão de Israel. Reinou quarenta anos em Jerusalém. Sua avó chamava-se Maaca, filha de Absalão (1 Rs 15:9-10)
A Bíblia ensina que o Reino de Davi inclui o papel da rainha-mãe. A sua igreja reconhece o papel da mãe do Rei?
(8) "Saibas como comportar-ter na casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, coluna e base da verdade" (1Tm 3:15).
A Bíblia ensina que a Igreja é a "coluna e base da verdade". A sua igreja ensina esta autoridade sobre si mesma?
(9) "Portanto, irmãos, permanecei firmes, conservai o ensinamento que aprendestes de mim, oralmente ou por carta" (2Ts 2:15).
A Bíblia ensina que a Tradição Apostólica deve ser mantida, seja por carta ou por ensino oral. A sua igreja antém ambas as tradições, escritas e orais?
(10) "Maria disse...daqui para a frente me felicitarão todas as gerações" (Lc 1:46.48).
A Bíblia ensina que todas gerações chamarão Maria de "abençoada". A sua igreja lhe encoraja a abençoar a Mãe de Deus?
Se a sua resposta a qualquer uma destas perguntas é NÃO, então é melhor você se tornar católico agora mesmo!

MICHEL, Jacob. Apostolado Veritatis Splendor: A SUA IGREJA É BÍBLICA?Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/1378. Desde 23/06/2003.

25 de mar. de 2009

A INQUISIÇÃO PROTESTANTE

Por d. Estêvão Bettencourt
Fonte: PR 500, fev/2004, pp. 50-62
Pouco se escreve a respeito:
A INQUISIÇÃO PROTESTANTE
Em síntese: Muito se tem escrito sobre a Inquisição da Igreja Ca­tólica, menos, porém, sobre a Inquisição movida por Calvino e os Calvinistas e pela rainha Isabel Tudor na Inglaterra. As páginas seguin­tes referem algo a respeito.
* * *
É muito comentada a Inquisição dirigida pela Igreja Católica na Idade Média e na época moderna em Espanha e Portugal. - Sem querer negar os erros cometidos, deve-se dizer que muitos falam e escrevem a respeito sem exato conhecimento de causa, movidos por preconceitos e paixões. Tal é o caso da notícia que vai, a seguir, transcrita (difundida via internet).
"'IGREJA CATÓLICA ROMANA', A ORGANIZAÇÃO RELIGIOSA MAIS SANGUINÁRIA E FRAUDULENTA QUE O MUNDO JÁ CONHECEU"
Os grandes conhecedores da história asseveram que a Roma pa­pal derramou muito mais sangue que a Roma pagã. Quem quiser é só conferir os atos praticados pela Igreja Católica Romana durante a cha­mada 'Santa Inquisição'! Iniciada, em 1163 pelo papa Alexandre III, que no Concílio de Tours, na França, ordenou que o clero procurasse todos os opositores da idolatria romana para processá-los e levá-los a julga­mento.
Em 1253 o papa Inocêncio IV, autorizou a prática de todos os tipos de torturas contra os protestantes opositores aos ensinamentos antibíblicos da 'igreja' católica romana.
Inácio de Loiola foi um dos maiores assassinos que o sol já cobriu, mas foi canonizado 'santo' por tais serviços prestados a essa igreja cató­lica romana, que ainda hoje omite a verdade!
Pessoas que não concordavam com o grande comércio religioso e fraudulento da igreja católica romana, eram tidas como hereges. O papa Inocêncio IV convocou sacerdotes, reis e pessoas da sociedade a uni­rem-se em guerra a essas pessoas. Prometendo remissão de pecados a quem levasse um herege à morte, a autorização papal declarava que as pessoas seriam torturadas e mortas e suas propriedades confiscadas. A igreja católica romana, através dos reis, sacerdotes e autoridades civis e militares, usou os mais cruéis métodos de tortura para assassinarem os que não concordavam com suas mentiras religiosas. Famílias inteiras foram destruídas, filhos sendo assassinados diante dos pais, mulheres sendo estupradas e mortas diante de seus esposos, esposos que passa­vam dias e dias amarrados sob os piores castigos e depois dilacerados".
Abstração feita dos erros de português, este texto, violento como é, sugere algumas ponderações:
1) Afirma coisas graves sem indicar fonte alguma. Carece assim de seriedade e valor científicos.
2) O autor comete flagrante anacronismo ao afirmar que "em 1253 havia protestantes opositores à Igreja Católica. Na verdade, o protestan­tismo não existia no século XIII, já que foi fundado no século XVI.
3) A aplicação da tortura e da pena de morte era muito mais rara do que dá a entender o autor da notícia. Este apresenta cenas horrendas ("filhos assassinados diante dos pais, mulheres estupradas e mortas di­ante de seus esposos..."), cenas que a imaginação preconceituosa con­cebe, mas que a historiografia científica não abona, como se pode dedu­zir do Apêndice a este artigo.
4) S. Inácio de Loiola foi em juventude um cavaleiro que se dedicou a exercícios e torneios próprios da arte militar. Passou ao serviço do vice-rei de Navarra: combateu os franceses em defesa do castelo de Pamplona, onde foi ferido nas pernas por uma bala de canhão. Foi portanto um mi­litar militante, mas não um assassino.
5) Quem tem telhado de vidro não joga pedra no telhado do vizi­nho, diz o adágio popular. O protestantismo, que acusa a Igreja Católica, teve também sua Inquisição, da qual pouco se fala, mas que, a bem da verdade, merece ser conhecida. A respeito será dito algo nas páginas seguintes não pelo falso prazer de narrar desgraças, mas para mostrar que a Inquisição foi praticada também por aqueles que a lançam em rosto à Igreja Católica.
1. Em Genebra: João Calvino (1509-64)
Nasceu João Calvino em Noyon (França). Fez seus estudos humanísticos e jurídicos em Paris, onde teve contato com elementos protestantes. Em 1533 adotou o protestantismo numa "conversão repen­tina", como ele mesmo a designa. Visto que o governo francês perseguia os protestantes, Calvino emigrou para Basileia (Suíça) em 1534. Pas­sando certa vez por Genebra, foi convidado por Farei para aí ficar. Calvino aceitou o convite e recebeu o encargo de pregar e implantar em sua nova sede a doutrina protestante - missão esta que ele assumiu com grande energia, impondo severa disciplina a todos os cidadãos. Teve que en­frentar a resistência de vários opositores, mas firmemente venceu-os e governou Genebra.
O principal órgão administrativo de Calvino era o Consistório, com­posto por pregadores e anciãos, aos quais competia vigiar pela pureza da fé, inquirir os suspeitos de defecção e julgá-los. As consequências da atividade de tal instituição vêm assim descritas por Bihlmayer-Tuechle em sua "História da Igreja", vol. 3, pp. 74s:
"Com o objetivo de controle, faziam-se várias vezes no ano visitas a domicílio e conforme o caso recorria-se também às denúncias e à espi­onagem paga. Os transgressores eram colhidos pela admoestação, de-ploração e excomunhão (exclusão da ceia sagrada) e obrigados a fazer penitência pública. Os grandes pecadores, como os sacrílegos, os adúl­teros e os adversários obstinados da nova fé, eram entregues ao Conse­lho da cidade para o castigo. Foram pronunciadas muitas condenações à morte (58, até 1546) e mais ainda ao exílio. A tortura foi usada da forma mais rigorosa. A cidade teve que submeter-se, embora a contragosto, à disciplina férrea de Calvino. Todas as festas religiosas desapareceram, exceto os domingos. O culto foi reduzido à pregação, à oração e ao canto dos salmos; quatro vezes por ano era distribuída à comunidade a sagra­da ceia, com pão e vinho ordinário. A vida da sociedade genebrina adqui­riu o teor de uma seriedade taciturna; as vestes de luxo, os bailes, o jogo de cartas, o teatro e divertimentos semelhantes eram severamente con­denados.
Naturalmente a 'teocracia' instaurada por Calvino com tanta ha­bilidade e energia não persistia sem adversários. Os velhos fautores da liberdade (libertins) e a alegre aristocracia genebrina julgaram por demais opressor o jugo religioso; mas ele os reduziu ao silêncio medi­ante duras punições. Outras dificuldades foram suscitadas contra a sua teologia, mas soube dominá-las todas. O médico Jerônimo Bolsec, monge carmelita apóstata, proveniente de Paris, que ousara sublevar-se contra a doutrina de Calvino sobre a predestinação, foi exilado em 1551; o humanista e médico espanhol, Miguel Servet, que Calvino ti­nha denunciado antecedentemente à inquisição de Lião, foi queimado vivo em 27 de outubro de 1553, por ter negado o dogma da SS. Trindade1. Em 1555, Calvino havia conquistado a vitória sobre todos os seus inimigos. Nenhum pôde mais abalar-lhe a posição de ditador re­ligioso, e em certo sentido também político, na sua "Roma protestan­te", onde afluíam os emigrados protestantes da França, da Itália e da Inglaterra. Então as ordonnances foram atuadas plenamente e ao mesmo tempo aperfeiçoadas".
Eis alguns episódios particulares:
1) Ami Perrin
Ami Perrin era capitão-geral da cidade de Genebra e genro de Fran­cisco Favre, família importante, alegre e ciosa de sua autonomia naquela sociedade. Por ocasião de um casamento, tal família deu um baile. Sa­bedor disto, o Consistório abriu um inquérito e convocou dançarinos e dançarinas; estes compareceram perante a autoridade e deram dos fa­tos uma versão falsa, exceto Ami Perrin. Calvino então censurou, com veemência a dança, jurando punir os culpados. Furiosa, gritou-lhe: a mulher de Perrin, Franchequine:
"Homem perverso, queres beber o sangue da nossa família, mas sairás de Genebra antes de nós".
O litígio agitou a cidade inteira por muito tempo. Enquanto o capi­tão Perrin tentava apaziguar os ânimos, a sua esposa fazia o contrário, pois continuava a dançar. Chamada a comparecer novamente perante o Consistório, interpelou o ministro Abel Poupin como Gros pouacre (tra­tamento fortemente injurioso na linguagem da época), em consequência do que foi encarcerada. A opinião pública se abalou contra Calvino. Este, enraivecido, mandou fazer uma perquisição na casa de Jacques Gruet, amigo da família Favre; aí foram encontrados os rascunhos de um cartaz agressivo poucos dias antes afixado na cidade; em seus apontamentos íntimos Gruet escarnecia a Bíblia e o Cristianismo, em vista disto, Gruet foi logo preso, julgado e condenado a ser decapitado, ficando seu corpo exposto ao público aos 26 de julho de 1547.
2) Pierre Ameaux
Pierre Ameaux era fabricante de cartas de baralho. O rigor do puri-tanismo calvinista fazia-o perder clientes, pois a população tinha medo de jogar. Proferiu então injúrias públicas contra Calvino - o que lhe valeu ser preso e encarcerado. Aos 8 de abril de 1546 o tribunal pronunciou sobre ele a sentença: deveria dar a volta da cidade vestido de camisola, com a cabeça coberta e uma tocha acesa na mão; feito isto, haveria de comparecer perante o tribunal e de joelhos daria graças a Deus e à Jus­tiça, confessando ter falado indevidamente.
É de notar que Pierre Ameaux era membro do Conselho Menor e gozava do respeito da população.
3) Os papistas
Visando atingir qualquer indivíduo que ferisse a honra de Deus, o Consistório tinha funcionários inspecionando a cidade de Genebra e seus arredores. Cada qual devia semanalmente levar ao tribunal a relação dos feitos que julgasse merecedores de punição: jogo de damas ou simi­lar, refeição mais copiosa do que de costume, consumo de vinho num botequim, faltar às prédicas, ceder às "superstições papistas"...
Calvino, sentindo a repulsa da opinião pública, exclamou: "A raiva e a fúria contra mim chegaram a tal ponto que tudo o que digo suscita suspeitas. Ainda que eu afirmasse ser dia claro ao meio-dia, começariam logo a duvidar".
São estes alguns traços da Inquisição calvinista em Genebra. Ve­jamos agora
2. Fora de Genebra: o Calvinismo
Passaremos em revista a Suíça e a Holanda.
1) Na Suíça
Na Suíça o Caivinismo absorveu as ideias e os seguidores do reformador Zvinglio de Zurique. Propagou-se destruindo monumentos artísticos dos católicos. Dentre os mártires seja citado São Fidelis de Sigmaringen (1577-1622). Este Santo foi advogado e muito trabalhou em favor dos pobres. Fez-se frade capuchinho e foi enviado para a região de Rezia, onde a população se tornara, em grande parte, calvinista. O êxito de sua pregação provocou a hostilidade dos calvinistas; estes, fingindo querer converter-se à fé católica, convidaram-no para pregar em Gruesch. Mal subira ao púlpito da igreja local, quando avistou um cartaz preso à parede com os dizeres: "Esta é a tua última predica".
Quando começou a pregar, foi contra ele desferido um tiro, que errou o alvo. Frei Fidelis conti­nuou intrépido e, ao terminar, dirigiu-se para a porta da igreja; ali cercou-o um bando de homens que o trucidaram a golpes de punhal e barras de ferro, chegando a amputar-lhe a perna esquerda.
2) Na Holanda
A Alemanha, fiel ao luteranismo, rejeitou o calvinismo, que passou então para a Holada com grande veemência. Escreve um historiador pro­testante:
"Os calvinistas (queux) eram os mais abomináveis piratas de todos os tempos... A sua cupidez era sem igual. Queriam fazer ressoar em toda parte o seu grito de guerra: 'A palavra de Deus segundo Calvino!'Saque­avam igrejas e conventos e infligiam aos Religiosos um trato tal que pou­cos paralelos se encontram na história dos povos" (Kervin de Lettenhove, Lês Huguenots et lês Gueux, tomo II Bruges, p. 408).

As igrejas católicas eram saqueadas e os sagrados valores profa­nados.

Ao ver um monge cartuxo sendo levado ao suplício, perguntou uma mulher: "Que mal fez esse homem?", respondeu o carrasco com furor: "É um monge, um papista".
Ao devastarem o mosteiro de Tene Rugge, os invasores encontra­ram um ancião que não conseguira fugir. Intimaram-no a exclamar: "Vi­vam os calvinistas!"; tendo-o recusado, foi condenado ao massacre; an­tes de lhe tirarem a vida, amputaram-lhe as orelhas, sendo uma afixada à porta da cidade, e a outra à porta da igreja.
Alguns dias mais tarde, prenderam e mataram o pároco Henrique Bogaart, de Hellevoetsluis, após ter-lhe amputado mãos e pés.
Caiu nas mãos dos algozes um sacerdote chamado Vicente, de 85 anos de idade; meteram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos, e puse­ram-lhe no ombro uma cruz confeccionada às pressas, após o quê atre­laram o padre a uma carroça para que a puxasse; tendo assim tratado o ancião, deram-lhe o golpe mortal.
Em Brielle foram presos alguns clérigos e leigos; um daqueles - o cónego Bervout Hanszoon - recusou ceder alojamento à concubina de um dos carrascos, que era um católico apóstata; por causa disto mais candente se tornou a sanha dos adversários. Sem processo prévio, foi condenado à morte: atiraram-no num poço cheio de lama, onde perma­neceu algumas horas em luta contra a morte, que finalmente prevaleceu. Do mesmo modo foram executados três outros sacerdotes.
Em suma, ao invadirem a cidade de Brielle, os calvinistas decapita­ram ou queimaram vivos 84 sacerdotes; 19 outros morreram por ocasião da tortura.
Não se pode deixar de mencionar, à guisa de complemento, o mar­tírio dos católicos do Rio Grande do Norte por obra dos índios instigados pêlos calvinistas holandeses em 1645: o primeiro grupo, contando setenta pessoas aproximadamente, foi trucidado na capela da vila de Cunhaú. O segundo grupo em Uruaçu.
Por conseguinte não resta dúvida: o Calvinismo usou de violência cruel no trato com seus irmãos "papistas" (fiéis ao Papa).
Passemos ao Anglicanismo.
3. O Anglicanismo
O rei Henrique VIII em 1534 foi declarado pelo Parlamento, medi­ante o Ato de Supremacia, Chefe da Igreja na Inglaterra. Sob o seu su­cessor, Eduardo VI, foram redigidos 42 artigos, que expressavam a fé reformada anglicana. De 1558 a 1603 reinou a rainha Isabel l, que im­plantou decisivamente o protestantismo de fundo calvinista na Inglaterra, visando à total extinção da Igreja Católica.
3.1. Sob Isabel l: generalidades
Eis o que se lê na citada obra de Bihlmayer-Tuechle, pp. 270s:
«Os 42 artigos de Eduardo VI, reduzidos a 39, foram elevados à categoria de norma confessional (1563) da igreja nacional inglesa; a obri­gação de prestar o juramento de supremacia foi estendida a todos os membros da Câmara Baixa, aos mestres e aos procuradores públicos, enfim, a todas as pessoas suspeitas de adesão à antiga religião, às quais, em caso de recusa repetida, era cominada até a pena de morte. Numa primeira fase, é verdade, foram aplicadas somente penas consistentes na privação dos bens ou da liberdade, ainda que não raro, em medida realmente draconiana. Mais tarde, porém, quando Pio V (1570) fulminou Isabel com a excomunhão e a deposição desvinculando os súditos do juramento de fidelidade, foram emanadas novas e severíssimas leis e posto em atuação o patíbulo. Foi uma época tremendamente dolorosa para os fiéis católicos da Inglaterra, que, amaldiçoados e perseguidos como inimigos do Estado e réus de alta traição, envolvidos na hostilidade suscitada pelo contraste político entre a Espanha e Inglaterra, viram-se oprimidos pela dura crueldade de uma justiça sanguinária. Tiveram que pagar a caro preço as conjuras tramadas contra Isabel e as tramas urdi­das para a libertação da prisioneira Maria Stuart. Não é, pois, para se maravilhar que o seu número fosse continuamente diminuindo.
O perigo ameaçava sobretudo os sacerdotes; quem lhes dava hos­pitalidade era punido com a pena de morte. Para não deixar extinguir-se toda cura pastoral na Inglaterra, foi necessário providenciar à ereção de Institutos no exterior para a formação de padres. Guilherme Allen, cóne­go de Iorque e desde 1587 'cardeal da Inglaterra', fundou em 1568 em Douai um colégio inglês e o papa Gregório XIII erigiu outro em Roma em 1579. Numerosos jovens de ilustres famílias inglesas realizaram nestes colégios os seus estudos teológicos e mais tarde dirigiram-se secretamente como missionários para a Inglaterra, indo não raro ao encontro da morte certa. Uma das mais famosas vítimas da perseguição foi o douto jesuíta Edmundo Campion, ex-aluno de Douai, o qual foi executado com dois companheiros em 1581.
Quando Filipe II da Espanha, para vingar a morte de Maria Stuarí, tentou em vão conquistar a Inglaterra com a sua Armada, a perseguição encarniçou-se mais ainda; mais de cem pessoas caíram vítimas dela. Globalmente sofreram a morte pela sua fé 124 sacerdotes e 61 leigos. Numerosos fiéis de ambos os sexos definharam por longos anos em hor­ríveis masmorras. Aqueles que se abstinham do culto anglicano, 'os recusantes', foram colhidos por enormes penas pecuniárias. Sob o regi­me de coação religiosa da igreja nacional anglicana tiveram que sofrer não só os católicos, mas também os puritanos e os presbiterianos, os quais se opunham também ao ato de uniformidade (não conformistas, dissenters)».
3.2. Particularidades
1) Recusa do juramento
Quem recusasse prestar o juramento de supremacia, era punido como réu de alta traição; era colocado sobre uma grade e assim arrasta­do até o lugar do suplício; aí era estendido sobre um cepo; abriam-lhe o ventre, recortavam-lhe as entranhas em ritmo lento de modo a prolongar a agonia; a seguir, arrancavam-lhe o coração e o corpo era esquartejado, ficando as diversas partes expostas ao público. Em alguns casos o sen­so humanitário deixava que a morte ocorresse antes da operação final; mais frequentemente os mártires eram recortados ao vivo.
Em 1535 um monge cartuxo foi condenado a tal suplício juntamen­te com alguns companheiros; enquanto o monge era executado, os com­panheiros, aguardando sua vez, pregavam o Evangelho para quem esta­va assistindo.


2) São João Fisher
O cardeal John Fisher, quase octogenário, ficou por um ano encar­cerado na Torre de Londres. Foi condenado à morte por ter dito, em con­versa particular, que o rei não tinha autoridade sobre a Igreja. Por ser Cardeal, Henrique VIII lhe concedeu a graça de ser simplesmente deca­pitado sem outra pena. Em 1535 na manhã do suplício J. Fisher fez ques­tão de um asseio esmerado; provocou a surpresa do seu servidor, ao que respondeu o condenado: "Não vês que este é o meu dia de núpcias?". Ao partir para o suplício, leu dois versículos do Novo Testamento e rezou. Subiu com as próprias pernas até o patíbulo. Segundo o antigo costume, o carrasco se ajoelhou diante dele e pediu-lhe perdão, respondeu-lhe o Cardeal: "Eu te perdoo de todo o coração; tu me verás sair vitorioso deste mundo". Dirigiu-se à multidão que assistia, em tom de despedida; rezou ainda longamente e entregou a cabeça ao carrasco. Após a morte, esta foi exposta sobre a ponte de Londres. O corpo permaneceu no lugar do patíbulo, até que viessem soldados que o levaram, cavaram uma fossa e lá o depositaram.
Tomás Moro, Primeiro-Ministro do rei, teve morte semelhante em 1535.
Mais uma vez a história evidencia que os irmãos separados "inqui­riram" e maltrataram os fiéis católicos. Cometeram também eles o que acusam a Igreja de ter feito.
Além de Bihlmayer-Tuechle, foi utilizado, na confecção deste arti­go, o Dictionnaire Apologetique de Ia Foi Catholique, organizado por A. d'Alès, verbetes Reforme e Martyre.
APÊNDICE
A fim de possibilitar uma visão mais objetiva e fiel à realidade, vão, a seguir, propostos alguns aspectos da Inquisição católica geralmente silenciados pêlos manualistas.
1. O Inquisidor
Os historiadores que hoje consideram esse passado, tendem a julgá-lo através das categorias de pensamento modernas, exigindo dos antigos o que eles não sabiam nem podiam dar; não levam em conta os textos que exprimem o ardente amor pela verdade, pela justiça e pelo bem que animava os Inquisidores de modo geral. Eis, por exemplo, o espelho do Inquisidor redigido por Bernardo de Gui, um dos mais famo­sos Inquisidores no século XIV (1308-1328):
"O Inquisidor deve ser diligente e fervoroso no seu zelo pela verda­de religiosa, pela salvação das almas e pela extirpação das heresias. Em meio às dificuldades permanecerá calmo, nunca cederá à cólera nem â indignação. Deve ser intrépido, enfrentar o perigo até a morte; todavia não precipite as situações por causa da audácia irrefletida. Deve ser in­sensível aos rogos e às propostas daqueles que o querem aliciar; mas também não deve endurecer o seu coração a ponto de recusar adiamen­tos e abrandamentos das penas conforme as circunstâncias. Nos casos duvidosos, seja circunspecto, não dê fácil crédito ao que parece provável e muitas vezes não é verdade; também não rejeite obstinadamente a opinião contrária, pois o que parece improvável, frequentemente acaba por ser comprovado como verdade... O amor da verdade e a piedade, que devem residir no coração de um juiz, brilhem nos seus olhos, a fim de que suas decisões jamais possam parecer ditadas pela cupidez e a cru­eldade" (Prática Vi p... ed. Douis 232s).
Algo de semelhante se encontra sob a pena de outro célebre Inquisidor: Nicolau Eymeric O.P. - em seu Directorium (Parte III, ques­tão 1§, De conditione inquisitoris).
Para preservar e garantir tais predicados dos Inquisidores, a auto­ridade eclesiástica promulgava certas normas, acompanhando os proce­dimentos da Inquisição:
- garantias de idade: o Papa Clemente V, no Concílio de Viena (1311), seguindo preceitos de seus antecessores, dispôs que ninguém pudesse exercer as funções de Inquisidor antes dos 40 anos;
- garantias de honestidade: Alexandre IV (1255), Urbano IV (1262), Clemente IV (1265), Gregório X (1275), Nicolau IV (1290) insisti­ram nas qualidades morais, na honestidade e na pureza de costumes a ser exigidas dos Inquisidores;
- garantias de saber: também se declarava indispensável ao Inquisidor um bom conhecimento de Teologia e Direito Canónico.
A maneira como procediam os juizes era continuamente acompa­nhada e controlada, na medida em que isto era possível na Idade Média. Mais de uma vez, a Santa Sé interveio para moderar o zelo e punir os excessos dos Inquisidores. É de notar, por exemplo, que o Papa Clemen­te V, no Concílio de Viena (1311), determinou fosse excomungado o Inquisidor que se aproveitasse das suas funções para fazer lucros ilícitos ou extorquir dos acusados quantias de dinheiro; para ser absolvido de tal pena, o Inquisidor deveria reparar os danos causados. Todo Inquisidor que abusasse comprovadamente do seu ministério, era sem demora de­posto do cargo, fosse pêlos Superiores de sua Ordem, fosse pêlos lega­dos papais, fosse diretamente pela Santa Sé. Os bispos eram obrigados, em consciência, a comunicar ao Papa todos os desmandos cometidos pêlos Inquisidores; o mesmo dever tocava aos notários e demais oficiais de justiça que acompanhavam o Inquisidor.
2. As penas e seu abrandamento
1. No tocante às penas infligidas a hereges e bruxas, não existe a documentação desejável, pois o registro de fatos outrora se fazia mais dificilmente do que hoje. Como quer que seja, temos ao nosso alcance alguns espécimens dos séculos XIII e XIV; assim, por exemplo:
De 1249 a 1258 em Carcassonne (França) a Inquisição proferiu 278 sentenças; a pena de prisão é relativamente rara; a mais frequente é a que manda prestar serviço na Terra Santa.
De 1308 a 1328 Bernardo de Gui em Tolosa exerceu com severida­de as suas funções: em dezoito Sermones Generales proferiu 929 sen­tenças assim distribuídas:
  • Imposição da cruz: 132 vezes
  • Peregrinação: 9 vezes
  • Serviço na Terra Santa: 143 vezes
  • Encarceramento platónico pronunciado sobre defunto: 17 vezes
  • Entrega ao braço secular (pena de morte): 42 vezes
  • Absolvição de defuntos: 3 vezes
  • Exumação: 9 vezes
  • Sentenças contra contumazes: 40 vezes
  • Exposição no pelourinho: 2 vezes
  • Degradação: 2 vezes
  • Exílio: 1 vez
  • Destruição da casa: 22 vezes
  • Queima do Talmud: 1 vez
  • Absolvição de prisioneiro: 139 vezes
Esta lista mostra que a entrega ao braço secular ou a pena de morte era relativamente rara.
De 1318 a 1324 em Pamiers (França), a Inquisição julgou 98 acu­sados: 5 foram entregues ao braço secular; 35 condenados ao cárcere; 2 absolvidos; a respeito dos demais nada consta; terão sido absolvidos?... exilados?... enviados para a Terra Santa? Como quer que seja, de 98 consta que apenas cinco sofreram a condenação capital.
2. É de notar ainda que muitos dos réus sentenciados podiam go­zar de indulto, que os dispensava total ou parcialmente da sua pena. Podiam também usufruir de licença para sair do cárcere e ir tirar férias em casa; em Carcassonne, por exemplo, aos 13 de setembro de 1250, o bispo deu a uma mulher chamada Alazais Sicrela permissão para sair do cárcere e ir aonde quisesse até a festa de Todos os Santos (1 - de novem­bro), ou seja, durante sete semanas. Licença semelhante foi dada por cinco semanas a um certo Guilherme Sabatier, de Capendu, na ocasião de Pentecostes (9/05/1251). Raimundo Volguir de VilIar-en-Val obteve uma licença que expirava no dia 20/05/1251, mas que lhe foi prorrogada até o dia 27. Outro caso é o de Pagane, viúva de Pons Arnaud de Preixan, que, encarcerada, obteve licença para férias de 15/06 a 15/08 de 1251.
Os prisioneiros tinham o direito de se afastar do cárcere para trata­mento de saúde por quanto tempo fosse necessário. São numerosos os casos de que se tem notícia: assim aos 16/04/1250, Bernard Raymond, de Conques, obteve a autorização para deixar a sua cela propter infirmitatem. Aos 9/08 seguintes, a mesma permissão era dada a Bernard Mourgues de ViHarzel-en-Razès, com a condição de que voltasse oito dias após obter a cura. A 14/05 a mesma concessão era feita a Armand Brunet de Couffoulens; e a 15/08 a Arnaud Miraud de Caunes. A 13/03/ 1252 Bernard Borrei foi posto em liberdade propter infirmitatem, deven­do voltar ao cárcere quinze dias após a cura. A 17/08 seguinte, Raine, filha de Adalbert de Couffoulens, foi autorizada a permanecer fora do cárcere quousque convaluerit de aegritudine sua (até que ficasse boa da sua doença)... A repetição de tais casos a intervalos breves, e às ve­zes no mesmo dia, mostra que não se tratava de exceções, mas de uma rotina bem definida.
3. Também havia autorização aos presos para ir cuidar de seus familiares em casa. Às vezes os problemas de família levavam os Inquisidores a comutar a pena de prisão por outra que permitisse atendi­mento à família. Até mesmo os mais severos praticavam tal gesto; sabe-se, por exemplo, que o rigoroso juiz Bernard de Caux em 1246 condenou à prisão perpétua um herege relapso, chamado Bernard Sabatier, mas, na própria sentença condenatória, observava que, o pai do réu sendo um bom católico, ancião e doente, o filho poderia ficar junto do pai enquanto este vivesse, afim de lhe dispensar tratamento.
4. Acontece também que as penas infligidas aos réus eram abran­dadas ou mesmo supressas: a 3/09/1252 P. Brice de Montreal obteve a troca da prisão por uma peregrinação à Terra Santa. Aos 27/06/1256 um réu que devia peregrinar à Terra Santa, recebeu em troca outra pena: pagaria 50 soldos de multa, pois não podia viajar propter senectutem (por causa da idade anciã). São conhecidos também os casos de indulto total: o Inquisidor Bernard Gui, em seu Manual apresenta a fórmula que se aplicava para agraciar plenamente o réu. O mesmo Bernard Gui reabi­litou um condenado para que pudesse exercer funções públicas; a um filho de condenado que cumprira a pena, reconheceu o direito de ocupar o consulado e exercer funções públicas.
5. A história também registra o fato de que os Inquisidores estavam atentos a distinguir falsas e verdadeiras acusações. Conta-se, por exem­plo, o caso, ocorrido em Pamiers (1324), de Pierre Peyre e Guilhaume Gautier: ambos colaboraram com Pierre de Gaillac, tabelião de Tarscon, numa campanha contra Guillem Trom; este também era tabelião e atraía a si a clientela, de modo que Pierre de Gaillac, querendo livrar-se dele, acusou-o de heresia perante a Inquisição, apoiado no falso testemunho de Pierre Peyre e Guillaume Gautier; estes dois cidadãos, comprova-damente tidos como falsários, foram condenados, e Guillem Trom reco­nhecido como inocente.
6. É certo, porém, que nem todos os Inquisidores tiveram a mesma elevação de espírito e a mesma retidão de consciência. Alguns se mos­traram obcecados na repressão à heresia, procedendo cruelmente. Os historiadores registram tais abusos, mas não costumam registrar as cen­suras que a Santa Sé infligiu aos oficiais imoderados ou indignos, sem­pre que ela teve notícia dos fatos; aliás, não somente ela, mas também os legados papais e os bispos se insurgiram contra os excessos dos Inquisidores; não eram raras as admoestações à prudência e à brandura emanadas das autoridades eclesiásticas para a orientação dos Inquisidores; estes deviam proceder com pureza de intenção (superando paixões, pressões e preconceitos) e com a virtude da discrição.
Consta também que os Papas mais de uma vez deram ordens aos Inquisidores para que usassem de brandura em casos precisos: Inocêncio IV, por exemplo, mandou aos Inquisidores Guillaume Durand e Pierre Raymond que absolvessem Guillaume Fort, cidadão de Pamiers; aos 247 12/1248 mandou soltar os hereges cuja punição lhe parecia suficiente; aos 5/08/1249, encarregou o bispo de Albi de restituir à comunhão da Igreja Jean Fenessa de Albi e sua esposa Arsinde, condenados pelo Inquisidor Ferrier.
Em 1305 o Inquisidor de Carcassone provocou, por seus rigores, a revolta da opinião pública: os habitantes de Carcassonne, Albi e Cordes dirigiram-se à Santa Sé. As suas queixas foram acolhidas pelo Papa Cle­mente V, que aos 13/03/1306 nomeou os Cardeais Pierre Taillefer de Ia Chapelle e Béranger Frédol para fazer um inquérito do que ocorria na região; enquanto este se processava e as prisões eram inspecionadas, estava suspensa toda perseguição de hereges. Os dois prelados inicia­ram a visita aos cárceres de Carcassonne nos últimos dias de abril; en­contraram aí quarenta prisioneiros que se queixavam dos carcereiros; estes foram logo substituídos por outros mais humanitários; aos detidos foram assinaladas celas recém-reformadas e foi permitido passear per carrerias muri largi ou em espaço mais amplo; os guardas receberam a ordem de entregar aos prisioneiros tudo o que fosse enviado pelo rei ou por seus amigos para a sua manutenção. Os dois Cardeais visitaram outrossim os cárceres de Albi aos 4/05/1306; mandaram retirar as cor­rentes que prendiam os encarcerados, designaram outros guardas, man­daram melhorar as condições sanitárias das prisões, abrindo janelas para a penetração da luz e do ar.
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Nota:
[1] A reviravolta religiosa de Lutero suscitou em alguns setores a contestação do dogma trínitário: assim fizeram os anabatistas e certos livres pensadores, entre os quais o médico espanhol Miguel Servet, que professava um panteísmo neoplatônico e aspi­rava à superação da doutrina protestante sobre a justificação (Nota do editor).








BETTENCOURT, d Estêvão. Apostolado Veritatis Splendor: A INQUISIÇÃO PROTESTANTE. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/5120. Desde 13/10/2008.

EM DEFESA DA MATERNIDADE DIVINA DE MARIA PELA DIVINDADE DE JESUS CRISTO

Por Rondinelly Ribeiro

Senhor “U”(protestante): rondinelly, não preciso argumentar o repetitivo discurso que já proferido por alguns aqui,apenas fico vendo que tipo de respostas vc dará pra tentar encobrir a idolatria a Maria,visto que é um fato GRITANTE e que vc tenta de todas as formas negar,é sempre assim,o negócio é negar até a morte como fez maluff diante dos papeis assinados.O que tem a ver isso? sabemos que dentro da igreja católica os fieis oram a maria ela é a rainha do céu está em pé de igualdade e quando não é posta como maior que JESUS,vários e diversos atributos dados a ela pela ICAR,nunca na biblia se viu nada atribuido a ela além do que está de maneira simples dita,então não há o que argumentar,é só observar o seu esforço para defender a sua crença onde a ICAR distorceu e torceu toda a escritura.

Senhor “E”(protestante): Amigo!! Entenda, Maria não é mãe de Deus, porque Deus não pode ser gerado!! Deus é Espírito e não foi gerado no ventre de Maria!! Deus estava encarnado através de Cristo, sim, quando Cristo nasceu, mas não quer dizer que Deus nasceu!! Deus já existia antes de Maria gerar a Cristo. esse negócio de Concílios sucessivos que estabelecem dogmas e doutrinas, postulando verdades a respeito de conceitos bíblicos que geram discussões não me interessam. Pois pra mim o que vale é o texto por ele mesmo. O que o texto está dizendo??? Não aceito nada que ofenda a minha inteligência!!

Caros irmãos em Cristo senhor “U”, senhor “E” e todos os demais “Maluffs” dessa comunidade, desculpem a ausência, mas os atributos seculares não dão descanso.
Um dos principais meios nos quais os protestantes erram ao avaliar as doutrinas dos seus opositores é a estipulação de um tipo padrão. Esse padrão, que será o alicerce de toda a refutação, é então posto junto à parede de onde são despejadas todas as pretensas refutações, contra-argumentações, piadinhas, contribuições á lá senhor “U”, etc.
Depois de tudo feito, os protestantes jactam-se da glória da vitória sobre a doutrina derrubada. Aquele tipo já está enterrado, morto, sem nada dentro. Com a Sola Scriptura numa mão e a Sola Fide na outra, acham que sua doutrina insurge qualquer outra, principalmente a católica, essa pobre heresia ambulante bimilenar...
Esse, entretanto, é o pior estilo de disputa, e os protestantes se valem dele a torto e a direito, sem se dar conta da invalidez das suas tentativas, e do viés que cometem em argumentar contra algo que não existe.
Isso se chama “argumento do espantalho”. Se ninguém jamais ouviu falar disso, saibam que o praticam toda hora, nessa comunidade, nas suas igrejas, infelizmente até nas suas vidas.
Os protestantes criam o espantalho, criam-no ao seu modo, ao que lhes parece mais fácil de, no futuro, derrubar, queimar, dar fim. O espantalho, criatura humana, sem vida, repleto apenas de palha e panos, não fala, não escuta, não pensa, não tem vida, só palha.
E nesse espantalho os protestantes colocam, além do recheio habitual, o que lhes convém acreditar como doutrinas. Quando o espantalho a ser abatido é chamado de Igreja Católica Romana, põe-se no inviável toda sorte de doutrinas que lhes basta crer que caiba dentro e lhe caia bem. Mas nada tão pesado ou resistente, assim o espantalho não cai quando começarem os serviços braçais.
Espanta que no espantalho protestante colocam-se até os mais preciosos dos estofamentos, mas o caro artífice protestante não parece muito interessado no quê entra, contato que saia bem fácil, com pouco trabalho, nada muito estressante, afinal, hoje em dia se quer a todo custo evitar a fadiga, e, como bons protestantes, quanto menos, melhor (menos Igreja, menos doutrina, menos mistérios, menos...tudo, melhor).
Pois no assunto, delicado, desse tópico, furto da empolgação do caro senhor “E” em rapidamente, tão rápido quanto provavelmente abre e fecha a sua Bíblia quando o assunto é doutrina, repudiar o título da bem-aventurada de Mãe de Deus.
O espantalho criado pelo protestantismo, quando por nome atende por “doutrina católica da maternidade divina de Maria”, é recheado de poucas palhas, finas, frágeis, que basicamente são definidas por Maria ser mãe de Deus, no sentido em que Maria estava no infinito, antes de Deus, e que gerou Deus – a Trindade – e que, por isso, os católicos, quando dizem que Maria é mãe de Deus, querem dizer que ela é a deusa que criou Deus.
Tal espantalho é realmente uma aberração, frágil até o chapéu, não se sustenta ao mais simples tiro de espoleta, dado por qualquer protestante que abra sua Bíblia e veja que Maria é uma criatura de Deus, que Maria foi mãe de Jesus, e que Deus não tem mãe, Deus não foi criado por ninguém. Jesus é Deus, mas Maria foi mãe apenas de Jesus.
E o espantalho católico caiu, derrotado pela ágil e triunfante mão dos protestantes, biblistas por excelência, doutos por natureza, infalíveis por consciência.
Mas essa retórica de nada adiantaria se um simples detalhe não permeasse de negro, se não jogasse a mais terrível água no chope dos triunfantes protestantes: esse espantalho não existe, é falso. Infelizmente, de nada adiantou o esforço dos nobres companheiros de comunidades, dos tantos e tantos “Maluffs” aqui dispostos a ver esse debate. Jogam pedras, queimam, repudiam, refutam algo que não existe, somente em seus mais apaixonados devaneios de mentes protestantes adestradas por quem menos ainda sabe que tal espantalho não existe.
A doutrina católica da maternidade divina de Maria não é o que os protestantes dizem que ela é. Parece simples entender essas poucas palavras, mas a recorrência na heresia nestoriana que hoje os protestantes, principalmente os pentecostais, neo-pentecostais, e aqueles protestantes que, sem saber, apesar de dizerem que não o são, são de fato, caem, reproduzem como copistas míopes de uma idéia separada do tronco principal, de cuja árvore corre a verdadeira seiva da sã doutrina, da verdade, cuja Igreja é a coluna e o fundamento.
 Os protestantes de hoje, assim como Nestório no século 5, afirmam que Maria é somente mãe da humanidade Jesus, e não de sua divindade. Somente a natureza humana de Jesus nasceu de Maria, não a natureza divina. Maria seria mãe de Cristo, não mãe de Deus.
Quando aparece o que é a verdade, e não o que é construído por aqueles que querem opor, a claridade é mais aceita, e não repudiada, como o é o espantalho com aquela cara feia e recheio de heresias.
O caro senhor “E” repete à exaustão que Maria não pode ser mãe de Deus porque Deus não pode ser gerado, que Deus não nasceu de Maria, pois somente quando Cristo nasceu é que Deus “se encarnou”. Maria não pode ser mãe de Deus porque Deus já existia antes de Maria gerar Cristo.
Belas conclusões, sábias palavras, pena que atiradas para derrubar apenas um espantalho, que não existe.
Vamos às palavras do caro senhor “E”:
Maria não é mãe de Deus, porque Deus não pode ser gerado
Ora, caro senhor, acaso esse é o seu entendimento acerca do assunto?
Se você tem alma (claro que tem), posso, então, dizer que, com todo respeito, a senhora sua mãe não pode ser sua mãe porque ela não gerou a sua alma?
Caríssimo, é a mesma coisa. São formas idênticas de atribuições aqui.
O dom da maternidade inclui o nascimento de uma pessoa completa, não apenas do corpo. A mãe não origina a alma, que é criada e infundida no corpo diretamente por Deus, mas é correto afirmar que o fruto de todo o processo que envolve a maternidade é o nascimento de uma pessoa inteira, não somente o seu corpo físico. Maria não deu à Jesus sua natureza divina, que existe desde toda eternidade. Ela concebeu a pessoa de Jesus Cristo, deu a ele sua natureza carnal, porém desde que a natureza humana, carnal, de Cristo não pode ser separada de sua natureza divina (união hipostática, hypostasis – realidade permanente), podemos dizer corretamente que Maria concebeu um filho que era verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem.
Da mesma forma que é correto chamar Jesus de filho de Deus, mesmo que Deus não tenha lhe dado a natureza humana, inseparável de sua natureza divina, que veio de Maria, corretamente podemos chamar Maria de mãe de Deus, mesmo que Maria não tenha lhe dado a natureza divina, que veio de Deus.
O Verbo de Deus se fez carne, encarnou-se em Maria. A encarnação do Verbo de Deus é que, na realidade, é o ponto em disputa sobre toda essa discussão sobre a maternidade de Maria. Se Maria não deu à luz a uma criança que era homem-Deus, o Verbo não encarnou, e é vã a nossa esperança de redenção.
Maria não é a entidade geradora da divindade. Deus é eterno, não teve começo nem terá fim. Porém o mistério da encarnação de Deus, quando Deus vem ao mundo e se reveste da carne do homem que virá a redimir, dá a todos a chance de proclamar a todos os povos que “Deus está conosco” – Emanuel. Deus, assim, entrou no tempo, submeteu-se à carne (menos no pecado), nasceu de uma mulher.
Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. (Lc 1,35).
O ser que nasceu de Maria, Jesus, não se tornou a encanação de Deus após o seu nascimento, mas desde sua concepção. Do contrário, senhor “E”, você afirma:
Deus estava encarnado através de Cristo, sim, quando Cristo nasceu, mas não quer dizer que Deus nasceu.
Então Deus não nasceu de Maria, caro senhor “E”?
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14)
Segundo a sua afirmação o Verbo só se fez carne depois do nascimento de Jesus. No ventre de Maria, então, não estava Deus, estava apenas a natureza humana de Jesus. Jesus, pelo menos durante os nove meses da gestação da bem-aventurada, não era Deus.
Vês, caro senhor, tu tens consciência do tamanho e da responsabilidade que levas com as tuas afirmações? Não “ofende a tua consciência” chegar ao ápice da negação da divindade de Cristo, ao menos por um certo período de tempo, como se tal período nos ensinasse a Bíblia, que, como disse você, “é o que vale”? Os demais leitores protestantes partilham do mesmo?
Qual não será o julgamento aos que ferem tão precioso tesouro, da verdade e do milagre da encarnação do Verbo ainda no ventre de Maria, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína (2Pd 3,16).
Não nascem das genitoras as naturezas dos seus filhos. Nascem as pessoas. De Maria nasceu Jesus, ser em cuja pessoa estavam unidas em essência as duas naturezas de sua única existência: a humana e a divina.
De Maria nasceu Jesus, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Desse modo Maria é a mãe do meu Senhor (Lc 1, 43).
“Senhor”.
Negam, também, os “Maluffs” aqui presentes que a palavra “Senhor” se refere a “Deus”, ou tal pensamento “ofende a consciência” de vocês?
Maria não é mãe de Deus para que ela seja considerada deusa, mas para que Jesus seja considerado Deus. Há erro em dizer que Maria é mãe de Jesus-Deus? Se podemos chamá-la de Mãe de Jesus, chamá-la de Mãe de Deus qual ferida causará à verdade de que Jesus é Deus, encarnado, nascido de Maria?
Pior fazem os protestantes quando querem negar algo que é inócuo e cuja única função é resguardar uma verdade que aparentemente aceitam como sólida: a de que Deus se fez carne e nasce de uma virgem.
Mesmo os pais dos protestantes, os criadores das doutrinas que seguem ou dizem seguir, entenderam que essa doutrina em nada exata indignamente a mulher, mas resguarda no filho uma Verdade fundamental:
Lutero: Ela é corretamente chamada não somente mãe do homem, mas também mãe de Deus... É certo que Maria é mãe do verdadeiro e real Deus (Obras de Martinho Lutero, edição de Jeroslav Pelican, volume 24).
Calvino: Izabel chamou Maria de mãe do Senhor, porque a união da pessoa nas duas naturezas de Cristo foi tal que ela poderia ter dito que o homem mortal dentro do ventre de Maria era ao mesmo tempo o Deus eterno (João Calvino, Calvini Opera, volume 45).
A quê deviam os reformadores, patriarcas, a essa suposta doutrina “católica”, se tal não fosse de necessária fé universal, de irrecusável entendimento, e mesmo opositores da Igreja Romana que eram, dela não se desfizeram? Porque tal maternidade divina não “ofendeu a consciência” de tão renomados e doutos reformadores, que conseguiram, segundo até mesmo vocês afirmam, resgatar a verdade do evangelho escondida debaixo de 15 séculos de corrupção e obscurantismo da Palavra de Deus?
É porque eles erraram, dirão os protestantes.
Erraram, erraram sim, e gravemente, erro que vocês hoje seguem e defendem. Mas quando a autoridade das doutrinas se submete ao critério de quem as recebe, na verdade, a autoridade está em quem a recebe, e não em quem a transmite.
Assim são os protestantes, crêem no que lhes aprouver, rejeitam o que lhes é mais fácil e oportuno (mesmo que sejam verdades fundamentais...), tal como homens jogando pedras, queimando, um pobre espantalho.

Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc, et in hora mortis nostrae. Amen.




RIBEIRO, Rondinelly. Apostolado Veritatis Splendor: EM DEFESA DA MATERNIDADE DIVINA DE MARIA PELA DIVINDADE DE JESUS CRISTO. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/5884. Desde 05/08/2009.