Bullying é a mais nova "onda" do momento. Não a atitude em si, que já é antiga, mas o nome. Hoje é um dos assuntos que mais têm motivado os meios sociais, educacionais, e até religiosos. Nas escolas, por exemplo, professores propõem trabalhos interdisciplinares onde o tema é o objeto a ser considerado. Há também trabalhos com psicológos e assistentes sociais para conscientizar os alunos sobre os males desta atitude, suas consequências, por vezes, imutáveis. Mas o que me faz refletir sobre isso é: seria o bullying um nome doce, algo suave para justificar um mal?
Eu sofri bullying. Quando eu era criança, eu era extremamente magrinha, usava óculos e, "pra piorar", nasci com pêlos grossos no pescoço. Sabe aquelas manchas que nascem com pêlos? Pois é. Eu só tinha os pêlos. Por conta deles, meu apelido na escola era "bode". E as atitudes eram ofensivas: levavam esterco de bode para a sala de aula, escreviam meu nome na carteira e desenhavam o animal, gritavam dentro do ônibus... enfim... era uma atitude completamente idiota. E eu ia sofrendo tudo isso sozinha. Meus pais até tentavam ir à escola conversar com os professores e diretora, e estes afirmavam que fariam algo, mas nada faziam. Já a minha irmã resolvia no muque: se encontrasse alguém que fazia coisas deste tipo comigo, sovava. Meu irmão achava engraçado, talvez por causa da idade.
Por anos cresci me achando uma pessoa péssima. Porém, com o tempo, fui observando - com o auxílio da minha mãe - que aquelas crianças viram em mim um Judas para ser malhado. Hoje, quando olho para trás, vejo que, em parte, foi bom o que fizeram comigo. Enquanto eles estão no esterco, eu estou bem. Enquanto eles não conseguiram nada na vida a não ser a colheita dos seus feitos na infância, eu tenho família, um filho maravilhoso, estou formada e batalho por um emprego, além de ter amigos maravilhosos que levo para toda a vida.
Claro que não vou tirar meu corpinho de fora. Quando pude, também fiz bullying. A gente sempre procura alguém vunerável para descontar nossa raiva. Entretanto, minha mãe, uma mulher de fibra, admoestou-me, fazendo-me lembrar de quão mal eu me sentia. "Quer que esta pessoa se sinta como você?" ela dizia. E estas palavras fizeram-me parar.
Engraçado que as pessoas que faziam isso comigo eram justamente aquelas a quem eu ajudava. Enquanto seus pais adoravam saber que estavam em minha companhia, eles - os filhos - pintavam e bordavam comigo. E quando estudamos o bullying, percebemos que os agressores - verbais, morais ou físicos - são sempre pessoas próximas, como nos casos de moléstia. Por que será que machucamos quem está perto de nós? Será que é por que conhecemos seus defeitos? Sabemos os pontos fracos? Sabemos como vamos machucá-los?
Entro neste tocante porque, agora a pouco, eu assistia ao seriado de Law & Order: Special Victimis Unit em que uma garota fora assinada por suas "amigas". O que motivou todo o crime era banal: a líder do grupo de adolescentes arrumara um namorado e resolvera testar uma das amigas. Sem que soubesse do plano, esta amiga recebera convites do namorado da líder para sair. Aceitou sem muita insistência. Diante disso, a líder, com as outras duas garotas que completavam o grupo, assistiram as atitudes cruentas da líder. Ela matou sua "amiga" dando-lhe mais de cem furos com tesoura, um corte no pescoço, além de mais de cem queimadas de cigarro. Para finalizar, colocou-a nua no porta-malas do carro e a deixou lá, definhando até morrer. A polícia só descobriu isso depois de confiscar o celular da vítima. Ela, que fazia parte do bando, fazia bullying com uma colega de turma, que era obesa. Depois de descoberto as assassinas, a vítima de bullying cria que teria paz, mas não teve. Outras pessoas assumiram o lugar de sua agressora e continuara a agir da mesma forma. Movida pelo ódio, pelos constantes tormentos sofridos, depressão e baixa auto-estima, a garota obesa resolveu reinvindicar seus direitos da pior maneira: assassinou a nova agressora.
Quando vemos uma situação como esta ficamos embasbacados. Quer motivo mais torpe para isso? Óbvio que para uma mente psicopata o motivo era justo; porém, a nós, isto parece uma monstruosidade. E são os motivos torpes que lotam os tribunais, os consultórios psicológicos, os manicômios... E por que os motivos torpes existem? Porque somos torpes. Nós buscamos valores onde não têm. Nós nos habituamos a comer as migalhas que caem no chão. Não valorizamos o outro como a nós mesmos porque não sabemos nos valorizar. E a partir daí, tudo dá errado. É difícil viver o que Deus pede? Pode ser. Porém, é gratificante fazer o bem. Quem não o faz, não sabe o que perde.
Pergunto-me o que motiva a nossa sociedade a viver este jogo do poder que o bullying traz. Seria a sensação do ter, do ser e do poder? Egoísmo? Educação (ou má educação)? Loucura? Vemos este jogo nos relacionamentos conjugais, profissionais, familiares... Por que insistimos tanto nesta tática perigosa de relacionamento?
Enquanto as perguntas acima não são respondida, concluo que o que motiva tudo isso é a forma como usamos nossa liberdade. É verdade que somos templos do Espírito Santo, bem como é verdade que o pecado existe em nós. Que caminho escolher? Se nós, homens e mulheres, não tivéssemos o interesse de sempre vencer, de sempre querer alguém que nos obedecesse, se soubéssemos servir mais que exigir servidão, certamente teríamos relacionamentos melhores. Mais: se levássemos a sério os mandamentos divinos, inclusive o maior deles, que é amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo, jamais veríamos o egoísmo motivando tantos outros sentimentos destrutivos.
Retomando minha questão inicial: seria o bullying um nome doce, algo suave para justificar um mal? Certamente não, porque bullying, por mais "inocente" que seja, é mal. E as consequências são catastróficas: depressão, suicídio, assassinato, transtornos...
Como, então, vetar isso? Humanamente isto é impossível, porém, como pais e educadores devemos orientar nossos filhos e alunos sobre como proceder diante dos outros a partir de si mesmo. Por que irei machucar o outro? Como eu estaria na mesma situação? Por que irei xingar outrem? E se eu fosse xingado. A partir dos princípios básicos de moral e ética, precisamos lembrar as gerações que veem que a cada década presenciamos uma ideologia do ser, ter e poder cada vez mais latente. Faz-se necessário batalharmos por uma nova ideologia: a do servir, amar, respeitar. Cada atitude leva à outra. Se continuarmos com a mentalidade que ter algo nos faz melhores que outros, que ser de uma família de classe nos confere direitos que outros não têm, que poder algo nos livra das regras, logo, logo, Sodoma e Gomorra terá medo de nós.