Ausente a debate de TVs católicas, Dilma vira alvo de adversários
Apesar de ausente - e, muitas vezes, por este motivo -, a candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff, foi o personagem mais lembrado durante debate realizado na noite de ontem (23), em São Paulo, pela TV Canção Nova e Rede Aparecida. As emissoras de inspiração católica promoveram um encontro de duas horas e meia entre três presidenciáveis para falar de temas de interesse da Igreja. Dilma avisou com antecedência que faltaria, mas não escapou de um púlpito vazio com o nome e de críticas dos adversários.
José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) responderam a questões polêmicas, como aborto, castidade, homossexualidade, educação religiosa e fé em Deus. Tudo diante de uma plateia de cerca de 300 pessoas, a maioria ligada à Igreja. Nas duas primeiras fileiras da plateia estavam, vestidos a caráter, freiras, padres e bispos. Houve espaço ainda para temas abrangentes, como reforma agrária, censura à imprensa, violência e coligações políticas.
Os questionamentos foram feitos pelo mediador, padre Antônio Cesar Moreira Miguel, jornalistas convidados e representantes de pastorais da Igreja Católica. Não havia espaço para perguntas entre candidatos, mas, a cada questão, um era sorteado para comentar a resposta do outro. A ausência de Dilma foi mencionada no primeiro bloco do debate, por Plínio, que deixou de responder a uma pergunta sobre fé para criticar a petista, a quem chamou de candidata "inventada pelo Lula".
No terceiro bloco, Plínio disse ter descoberto que Dilma, durante o debate, atualizava o perfil no Twitter e, depois, estava num show da banda Pato Fu. Serra acusou a petista de ter uma "atitude de manipulação da opinião pública e do processo eleitoral" ao não se mostrar. Marina não mencionou Dilma durante o debate, mas, após o fim do programa, se disse "desrespeitada" pela ausência dela, que, para a candidata do PV, deixou de ir ao evento por "medo".
Censura
Durante a transmissão, ao responder sobre censura à imprensa, Serra falou da proposta de Plínio sobre a criação de um conselho nacional para controle da mídia até o episódio em que Dilma entregou um projeto de governo à Justiça Eleitoral sem ler, passando pela crítica ao loteamento na esfera federal. "Comitê e conselho hoje no Brasil é tudo aparelhado. É aparelhado, aliás, pelo PT, o partido do governo, com finalidade de controle efetivo da mídia, da opinião pública, da verdade única, como instrumento de intimidação da mídia", afirmou Serra
"Ficam lá os projetos rolando, as manifestações com apoio do governo e do partido do governo, da candidata do governo, a Dilma, que subscreveu um programa apresentado na Justiça Eleitoral sem ler." Em outra ocasião, Serra disse que a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) foi "destruída pelo governo atual" por meio do loteamento de cargos. A construção de um trem- bala e da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, decidida no governo atual, também levantou criticas entre os candidatos presentes ao debate. Sem Dilma para defender a União, Serra disse que o trem-bala era um projeto "meio inacreditável", por usar dinheiro público em uma proposta "incerta", com risco de calote para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Plínio atribuiu projetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à existência velada de uma "bolsa-empreiteira", criada para dar dinheiro às empresas a partir da invenção de grandes obras. Serra endossou a tese: "A bolsa-empreiteira é o contrário da Bolsa Família: vai mais pra quem tem mais." O tucano acusou o governo Lula ainda de "não cumprir satisfatoriamente" tarefas de combate à criminalidade e voltou a defender a criação de um ministério na área.
Serra disse que a União tem feito "muito pouco, embora fale muito" na questão do combate às drogas. "A droga não esta sendo combatida no Brasil. A cocaína entra livremente." O candidato falou ainda sobre uma superlotação "brutal" nos presídios brasileiros e criticou o fim do exame criminológico como critério para abrandar a pena de um preso.
Marina
Marina Silva foi econômica nos ataques a Dilma e ao governo federal, do qual participou como ministra do Meio Ambiente. Segundo explicou após o debate, aprendeu com sua avó a "não falar pelas costas". Ao comentar o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3), Marina o classificou com uma tentativa de "panaceia", que "juntou vários assuntos, sem critérios claros".
Partiu de Marina uma provocação a Serra, quando os candidatos respondiam sobre a liderança de Dilma na última pesquisa Datafolha, segundo a qual a petista venceria no primeiro turno. "Não entendo como Serra e Dilma ficam nervosos com essa história de pesquisa. Eu estou com 10% e nunca estive tão motivada. Não brigo com as pesquisas, mas nunca me rendi às circunstâncias", disse Marina. Serra reagiu: "Marina, eu não fico especialmente nervoso. Não tanto quanto a Dilma. Ganhar eleição não é questão de vida ou morte para mim, mas é muito importante para o Brasil "
Religião
Os três candidatos esforçaram-se para mostrar fé e comprometimento com preceitos religiosos. Marina era a única evangélica entre os três. Mesmo assim, saiu-se sem grandes constrangimento de polêmicas. A primeira pergunta, feita pelo mediador, o padre Antônio Cesar, foi sobre a importância para um presidente da crença em Deus. Para Serra, "a religião nos aproxima dos valores e da conduta que um homem público deve ter" "Eu estou na vida pública para frutificar, cuidar das pessoas. Nesse sentido, os valores de Deus são fundamentais", disse o tucano.
Marina colocou a fé com um estímulo ao caráter. "Mas Deus é tão generoso que mesmo os que não acreditam nele são agraciados com o dom da ética e da justiça", disse a candidata do PV. Plínio não respondeu à pergunta. Preferiu criticar Dilma. Os candidatos foram cuidadosos e penderam ao conservadorismo ao responder sobre temas caros à Igreja Católica, como o aborto, a homossexualidade, a castidade antes do casamento e a fidelidade depois dele.
Deslizes
Para evitar deslizes, Plínio leu um texto com sua posição sobre o aborto. O candidato defendeu um debate com a sociedade e colocou-se, com muita cautela, a favor da interrupção da gravidez nos primeiros meses de gestação. "Não tenho direito de impor condutas. A decisão cabe à mulher", disse Plínio.
Marina disse que, se eleita fará um plebiscito sobre o tema, mas não deixará de defender sua posição contrária ao aborto. "A vida é um valor inegociável", disse a candidata, que defendeu um debate "sem preconceito ou satanização". Serra, contra o procedimento, disse que não faria plebiscito sobre o tema "de jeito nenhum".
Questionado sobre a inclusão de campanhas pela castidade entre solteiros e a fidelidade entre casados nos programas de combate a Aids e a doenças sexualmente transmissíveis, Serra mostrou-se simpático a ideia. "Não terei a menor dificuldade de dizer que não é bom o sexo precoce e fazer campanha pelo 'monogamismo'. Isso ajuda a combater a doença", afirmou o tucano.
Marina citou Jesus para dizer que nada se dá "por força ou violência". "Não sei se o Estado vai fazer campanha pela castidade, mas as pessoas podem sim tomar essa decisão. As Igrejas podem se posicionar, mas as pessoas têm direito de agir como preferirem. Ninguém pode incluir em sua preleção a discriminação."
Projeto
Os candidatos foram questionados sobre um projeto de lei que tramita no Congresso e pode tornar crime a homofobia. Na interpretação da Igreja, a lei também vedaria a pregação da Igreja contra a homossexualidade. Serra e Plínio disseram desconhecer esse viés e se colocaram contra a discriminação. "Nenhum de vocês duvide da minha fé, mas sou contra discriminação. Nenhum brasileiro pode ser humilhado", afirmou Plínio. Com fala pausada, Serra, afirmou que "a preferência sexual não pode ser objeto de discriminação, perseguição ou humilhação", mas que os religiosos têm direito de "considerar que, dentro de sua Igreja deve-se pregar contra o homossexualismo".
Apesar de ausente - e, muitas vezes, por este motivo -, a candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff, foi o personagem mais lembrado durante debate realizado na noite de ontem (23), em São Paulo, pela TV Canção Nova e Rede Aparecida. As emissoras de inspiração católica promoveram um encontro de duas horas e meia entre três presidenciáveis para falar de temas de interesse da Igreja. Dilma avisou com antecedência que faltaria, mas não escapou de um púlpito vazio com o nome e de críticas dos adversários.
José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) responderam a questões polêmicas, como aborto, castidade, homossexualidade, educação religiosa e fé em Deus. Tudo diante de uma plateia de cerca de 300 pessoas, a maioria ligada à Igreja. Nas duas primeiras fileiras da plateia estavam, vestidos a caráter, freiras, padres e bispos. Houve espaço ainda para temas abrangentes, como reforma agrária, censura à imprensa, violência e coligações políticas.
Os questionamentos foram feitos pelo mediador, padre Antônio Cesar Moreira Miguel, jornalistas convidados e representantes de pastorais da Igreja Católica. Não havia espaço para perguntas entre candidatos, mas, a cada questão, um era sorteado para comentar a resposta do outro. A ausência de Dilma foi mencionada no primeiro bloco do debate, por Plínio, que deixou de responder a uma pergunta sobre fé para criticar a petista, a quem chamou de candidata "inventada pelo Lula".
No terceiro bloco, Plínio disse ter descoberto que Dilma, durante o debate, atualizava o perfil no Twitter e, depois, estava num show da banda Pato Fu. Serra acusou a petista de ter uma "atitude de manipulação da opinião pública e do processo eleitoral" ao não se mostrar. Marina não mencionou Dilma durante o debate, mas, após o fim do programa, se disse "desrespeitada" pela ausência dela, que, para a candidata do PV, deixou de ir ao evento por "medo".
Censura
Durante a transmissão, ao responder sobre censura à imprensa, Serra falou da proposta de Plínio sobre a criação de um conselho nacional para controle da mídia até o episódio em que Dilma entregou um projeto de governo à Justiça Eleitoral sem ler, passando pela crítica ao loteamento na esfera federal. "Comitê e conselho hoje no Brasil é tudo aparelhado. É aparelhado, aliás, pelo PT, o partido do governo, com finalidade de controle efetivo da mídia, da opinião pública, da verdade única, como instrumento de intimidação da mídia", afirmou Serra
"Ficam lá os projetos rolando, as manifestações com apoio do governo e do partido do governo, da candidata do governo, a Dilma, que subscreveu um programa apresentado na Justiça Eleitoral sem ler." Em outra ocasião, Serra disse que a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) foi "destruída pelo governo atual" por meio do loteamento de cargos. A construção de um trem- bala e da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, decidida no governo atual, também levantou criticas entre os candidatos presentes ao debate. Sem Dilma para defender a União, Serra disse que o trem-bala era um projeto "meio inacreditável", por usar dinheiro público em uma proposta "incerta", com risco de calote para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Plínio atribuiu projetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à existência velada de uma "bolsa-empreiteira", criada para dar dinheiro às empresas a partir da invenção de grandes obras. Serra endossou a tese: "A bolsa-empreiteira é o contrário da Bolsa Família: vai mais pra quem tem mais." O tucano acusou o governo Lula ainda de "não cumprir satisfatoriamente" tarefas de combate à criminalidade e voltou a defender a criação de um ministério na área.
Serra disse que a União tem feito "muito pouco, embora fale muito" na questão do combate às drogas. "A droga não esta sendo combatida no Brasil. A cocaína entra livremente." O candidato falou ainda sobre uma superlotação "brutal" nos presídios brasileiros e criticou o fim do exame criminológico como critério para abrandar a pena de um preso.
Marina
Marina Silva foi econômica nos ataques a Dilma e ao governo federal, do qual participou como ministra do Meio Ambiente. Segundo explicou após o debate, aprendeu com sua avó a "não falar pelas costas". Ao comentar o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3), Marina o classificou com uma tentativa de "panaceia", que "juntou vários assuntos, sem critérios claros".
Partiu de Marina uma provocação a Serra, quando os candidatos respondiam sobre a liderança de Dilma na última pesquisa Datafolha, segundo a qual a petista venceria no primeiro turno. "Não entendo como Serra e Dilma ficam nervosos com essa história de pesquisa. Eu estou com 10% e nunca estive tão motivada. Não brigo com as pesquisas, mas nunca me rendi às circunstâncias", disse Marina. Serra reagiu: "Marina, eu não fico especialmente nervoso. Não tanto quanto a Dilma. Ganhar eleição não é questão de vida ou morte para mim, mas é muito importante para o Brasil "
Religião
Os três candidatos esforçaram-se para mostrar fé e comprometimento com preceitos religiosos. Marina era a única evangélica entre os três. Mesmo assim, saiu-se sem grandes constrangimento de polêmicas. A primeira pergunta, feita pelo mediador, o padre Antônio Cesar, foi sobre a importância para um presidente da crença em Deus. Para Serra, "a religião nos aproxima dos valores e da conduta que um homem público deve ter" "Eu estou na vida pública para frutificar, cuidar das pessoas. Nesse sentido, os valores de Deus são fundamentais", disse o tucano.
Marina colocou a fé com um estímulo ao caráter. "Mas Deus é tão generoso que mesmo os que não acreditam nele são agraciados com o dom da ética e da justiça", disse a candidata do PV. Plínio não respondeu à pergunta. Preferiu criticar Dilma. Os candidatos foram cuidadosos e penderam ao conservadorismo ao responder sobre temas caros à Igreja Católica, como o aborto, a homossexualidade, a castidade antes do casamento e a fidelidade depois dele.
Deslizes
Para evitar deslizes, Plínio leu um texto com sua posição sobre o aborto. O candidato defendeu um debate com a sociedade e colocou-se, com muita cautela, a favor da interrupção da gravidez nos primeiros meses de gestação. "Não tenho direito de impor condutas. A decisão cabe à mulher", disse Plínio.
Marina disse que, se eleita fará um plebiscito sobre o tema, mas não deixará de defender sua posição contrária ao aborto. "A vida é um valor inegociável", disse a candidata, que defendeu um debate "sem preconceito ou satanização". Serra, contra o procedimento, disse que não faria plebiscito sobre o tema "de jeito nenhum".
Questionado sobre a inclusão de campanhas pela castidade entre solteiros e a fidelidade entre casados nos programas de combate a Aids e a doenças sexualmente transmissíveis, Serra mostrou-se simpático a ideia. "Não terei a menor dificuldade de dizer que não é bom o sexo precoce e fazer campanha pelo 'monogamismo'. Isso ajuda a combater a doença", afirmou o tucano.
Marina citou Jesus para dizer que nada se dá "por força ou violência". "Não sei se o Estado vai fazer campanha pela castidade, mas as pessoas podem sim tomar essa decisão. As Igrejas podem se posicionar, mas as pessoas têm direito de agir como preferirem. Ninguém pode incluir em sua preleção a discriminação."
Projeto
Os candidatos foram questionados sobre um projeto de lei que tramita no Congresso e pode tornar crime a homofobia. Na interpretação da Igreja, a lei também vedaria a pregação da Igreja contra a homossexualidade. Serra e Plínio disseram desconhecer esse viés e se colocaram contra a discriminação. "Nenhum de vocês duvide da minha fé, mas sou contra discriminação. Nenhum brasileiro pode ser humilhado", afirmou Plínio. Com fala pausada, Serra, afirmou que "a preferência sexual não pode ser objeto de discriminação, perseguição ou humilhação", mas que os religiosos têm direito de "considerar que, dentro de sua Igreja deve-se pregar contra o homossexualismo".