Lembro-me de quando trabalhava numa paróquia a visita de alguns chineses à cidade. Passaram na paróquia a pedido da Universidade daqui, não me lembro porquê.
Enquanto olhavam a igreja, perguntaram ao padre sobre Jesus. Não sabiam nada sobre Ele. Nada mesmo. Isso não é novidade, dada a realidade política dos chineses. Contudo, o padre disse-lhes, após explicar sobre quem é Jesus, que jamais uma vida pode estar inferiorizada a uma cultura, seja ela qual for.
Pode parecer estranho alguém dizer isso, haja vista todas as vidas fazerem parte de uma cultura. Mas a cultura é um meio, e não o caminho, de uma vida. É por meio da cultura que conhecemos tudo, que aprendemos valores, que traçamos nossa caminhada. Porém, jamais podemos diminuir a vida em nome de uma cultura, porque sabemos que a vida é o maior bem. Até uma barata, pressentindo o perigo, foge para se salvar. Logo, a qualquer um, a vida é o maior valor.
Sabemos que na Cultura Índigena há uma diversidade. Existem índios que usam do antropofagismo como ritual para fortificar o guerreiro; outras onde há mais pacifismo; outras que, ao perderem um ente querido, cremam-o e comem as cinzas, e outras onde a morte pode ser o preço de algo que, na visão deles, está errado. Exemplo disso é o assassinato de bebês e/ou crianças. Segundo algumas culturas, quando a criança nasce com problemas mentais e/ou físicos, ou quando a mãe pari gêmeos, ambos devem ser mortos. A justificativa é a de que a criança deficiente não conseguirá sobreviver sozinha na selva, e os gêmeos representam um o bem, o outro o mau. Como não se sabe quem é quem, mata-se os dois.
Muitos antropólogos me diriam que eu devo respeitar uma cultura assim; no entanto eu entendo que a vida jamais pode estar aquém de nada. Até porque, é muito fácil discutirmos sobre o poder ou não de uma cultura quando não a vivemos. Enquanto muitos discutem o direito de que índios possam matar seus filhos, crianças estão sendo ceifadas na tenra flor da idade. Não são nossos filhos, nossos netos ou nossos sonhos que são enterrados vivos, mas crianças que perdem a oportunidade de darem voz à sua existência em nome de uma cultura que não os torna livres.
Por mais que a cultura índigena traga semelhanças da realidade selvagem, eles são pessoas dotadas de corpo, alma e espírito. E como seres tridimensionais, devem valorizar o "veículo" que isto carrega, que é a vida, dada por Deus por amor.
Por mais que a cultura índigena traga semelhanças da realidade selvagem, eles são pessoas dotadas de corpo, alma e espírito. E como seres tridimensionais, devem valorizar o "veículo" que isto carrega, que é a vida, dada por Deus por amor.
Apesar de os Jesuítas terem - e muito - ajudado os índios, a Igreja é vista como má por tê-los catequisado. Má é a nossa omissão em permitir que ainda exista culturas assim, que punam uma vida com a morte. Jamais, por qualquer circunstância, uma vida pode estar abaixo de nada. A catequisação indígena não foi para privá-los de sua cultura, mas para purificá-la. E isso não ocorreu apenas com eles, mas com todos onde a Igreja colonizou ao longo da história.
Neste vídeo vemos crianças sendo enterradas vivas. Apenas uma é salva pelo irmão, que teve compaixão, que viu naquela vida algo aquém de qualquer cultura. O cacique até diz que teve pena e desejou morrer com o menino que não teve a mesma sorte que a outra menina, porém, ele nada fez, e sim, permitiu que, em nome da cultura, o feito se consumasse.
Até quando veremos cenas como esta? Até quando, em nome de culturas, justificaremos o injustificável?
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Que Deus tenha piedade das almas dos índios que morrem de maneira tão cruenta, fria e vil.