BBC
A
queda na taxa de natalidade no Brasil está relacionada com a audiência
das telenovelas, segundo sugere um estudo realizado no Centro de
Pesquisas para Política Econômica da Grã-Bretanha (CEPR, na sigla em
inglês).
Segundo
o estudo, o tamanho pequeno das famílias representadas nas tramas das
novelas brasileiras seria distante da realidade e influenciaria as
mulheres a desejar poucos filhos.
Dados do Censo indicam que a taxa de natalidade caiu de 6,3 crianças por cada mulher em 1960 para 2,3 em 2000.
De
acordo com a pesquisa, esse declínio se deve não apenas pelo hábito de
assistir televisão, mas especificamente pela audiência das telenovelas
produzidas pela Rede Globo.
“Descobrimos
que as mulheres que vivem em áreas cobertas pelo sinal da Globo
apresentaram taxa de natalidade muito menor. As novelas mexicanas e
importadas transmitidas por outros canais não causaram impacto na
natalidade”, diz o estudo, conduzido pelos pesquisadores Eliana La
Ferrara, Alberto Chong e Suzanne Duryea.
Alcance
Os
pesquisadores analisaram o conteúdo de 115 novelas transmitidas pela
Globo em dois horários diferentes entre 1965 e 1999 e descobriram que
72% das personagens femininas com idade até 50 anos não tinham filhos,
comparados com 21% das personagens que eram mães.
Para
alcançar os resultados, a equipe comparou os dados das novelas com o
índice de natalidade do país e o alcance do sinal da emissora em
diversas áreas.
O
estudo indica que há uma relação entre o alcance do sinal da emissora e
uma diminuição nas taxas de natalidade das mulheres que vivem nas áreas
cobertas pelo canal. Segundo a pesquisa, o impacto é maior em mulheres
com nível sócio-econômico mais baixo e na fase central e mais adiantada
do ciclo de fertilidade.
Nomes
Além
da análise do impacto no índice de natalidade, a pesquisa aponta ainda
que as personagens femininas influenciam de maneira “surpreendente” as
escolhas dos nomes dos filhos.
“As
mães que vivem em áreas cobertas pela Rede Globo são quatro vezes mais
propensas a batizar seus filhos com o nome de um dos personagens das
telenovelas”, diz a pesquisa.
Os
pesquisadores compararam 15 nomes de estudantes do ensino fundamental
recolhidos no Ministério da Educação em 2005. A equipe comparou os
padrões dos nomes mais comuns com os nomes dos personagens principais
das telenovelas da Globo no ano em que as crianças nasceram – a maioria
em 1994.
Depois
da análise, os pesquisadores descobriram, entre os 20 nomes mais comuns
de bebês nascidos em 1994, pelo menos um era também o nome de um
personagem de alguma novela transmitida naquele ano.
“Acreditamos
que estes dados sobre o padrão dos nomes sugere uma relação forte entre
o conteúdo da novela e o comportamento da audiência”, diz o estudo.
Para
os pesquisadores, o impacto das telenovelas na população pode ter
implicações importantes para os governos elaborarem suas políticas
públicas em países em desenvolvimento, onde a taxa de analfabetismo é
elevada.
“Nosso
trabalho sugere que os programas direcionados para a população local
têm potencial para atingir um número enorme de pessoas a um custo muito
baixo”, diz a pesquisa.
Para
os pesquisadores, questões como a educação infantil, a Aids e os
direitos das minorias podem ser levantadas em programas de televisão.
* Estudo sugere forte ligação entre novelas da Globo e aumento no número de divórcios no Brasil.
outubro 14th, 2012
BBC
Um
estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sugere uma
ligação entre as populares novelas da TV Globo e um aumento no número de
divórcios no Brasil nas últimas décadas.
Na
pesquisa, foi feito um cruzamento de informações extraídas de censos
nos anos 70, 80 e 90 e dados sobre a expansão do sinal da Globo – cujas
novelas chegavam a 98% dos municípios do país na década de 90.
Segundo
os autores do estudo, Alberto Chong e Eliana La Ferrara, “a parcela de
mulheres que se separaram ou se divorciaram aumenta significativamente
depois que o sinal da Globo se torna disponível” nas cidades do país.
Além
disso, a pesquisa descobriu que esse efeito é mais forte em municípios
menores, onde o sinal é captado por uma parcela mais alta da população
local.
Instrução
Os
resultados sugerem que essas áreas apresentaram um aumento de 0,1 a 0,2
ponto percentual na porcentagem de mulheres de 15 a 49 anos que são
divorciadas ou separadas.
“O aumento é pequeno, mas estatisticamente significativo”, afirmou Chong.
Os
pesquisadores vão além e dizem que o impacto é comparável ao de um
aumento em seis vezes no nível de instrução de uma mulher. A porcentagem
de mulheres divorciadas cresce com a escolaridade.
O
enredo das novelas freqüentemente inclui críticas a valores
tradicionais e, desde os anos 60, uma porcentagem significativa das
personagens femininas não reflete os papéis tradicionais de
comportamento reservados às mulheres na sociedade.
Foram
analisadas 115 novelas transmitidas pela Globo entre 1965 e 1999.
Nelas, 62% das principais personagens femininas não tinham filhos e 26%
eram infiéis a seus parceiros.
Nas
últimas décadas, a taxa de divórcios aumentou muito no Brasil, apesar
do estigma associado às separações. Isso, segundo os pesquisadores,
torna o país um “caso interessante de estudo”.
Segundo dados divulgados pela ONU, os divórcios pularam de 3,3 para cada 100 casamentos em 1984 para 17,7 em 2002.
“A
exposição a estilos de vida modernos mostrados na TV, a funções
desempenhadas por mulheres emancipadas e a uma crítica aos valores
tradicionais mostrou estar associada aos aumentos nas frações de
mulheres separadas e divorciadas nas áreas municipais brasileiras”, diz a
pesquisa.
Taxa de natalidade cai e população brasileira deve parar de crescer.
Folha de São Paulo
Diante de uma taxa de natalidade de apenas 1,7% (comparável a países como França e Reino Unido), o Brasil caminha rapidamente para uma estagnação de sua população. O Ipea projeta 200 milhões de pessoas em 2020. Vinte anos mais tarde, em 2040, esse número crescerá em apenas 4 milhões, prevê o instituto ligado à Presidência da República.
Idosos respondem por quase 20% da renda do país, aponta Ipea
Segundo dados da última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), viviam no país 195,2 milhões de pessoas em 2011. “O germe do declínio populacional já está instalado no país, que são as baixas taxas de fecundidade e o reduzido crescimento da população”, disse Ana Amélia Camarano, demógrafa do Ipea.
Para a pesquisadora, o aumento populacional atual de apenas 0,7% ao ano e a menor natalidade –que deve chegar a 1 filho por mulher em 2030– fazem o país migrar de uma “explosão de população” no passado para uma “implosão de população” no futuro próximo, acompanhada do envelhecimento da estrutura etária do país.
Um dos problemas da estrutura etária envelhecida é que a força de trabalho também recua, reduzindo a capacidade produtiva do país. “Há apenas 20 anos ainda falávamos em explosão populacional. O problema agora é outro. A questão é como prover saúde e condições de autonomia a uma população cada vez mais envelhecida”, afirmou a demógrafa.
De acordo com Camarano, as mulheres brasileiras tinham cerca de 6 filhos, em média, nos anos 50 e 60. Naquele período, a população crescia a um ritmo anual superior a 3%. “Foi o nosso período do ‘baby boom’”, afirma.
A taxa de fecundidade foi rapidamente declinando (com adventos como a pílula e outros métodos contraceptivos e o aumento do nível de educação) nos últimos anos. Atualmente, diz, ela está num nível “consideravelmente abaixo” da chamada taxa de reposição da população –de 2,14 filhos por mulher.
A lógica embutida nessa taxa é a seguinte: cada mulher tem de gerar duas crianças para “repor” o pai e ela própria; o 0,14 adicional é para compensar sobretudo aqueles que morrem antes de terem filhos.
Com tal dinâmica, prevê, só as faixas etárias acima de 45 anos vão crescer a partir de 2030. De 2040 em diante, a única parcela que crescerá em números absolutos será a de 60 anos ou mais.
O Brasil caminha rapidamente, afirma, para ter um perfil populacional “bastante envelhecido” e de fecundidade muito baixa (em torno ou pouco acima de 1 filho por mulher), comparável aos países do sul da Europa (Portugal, Espanha, Itália e Grécia, sobretudo) e do Japão.
França e Reino Unido, diz, ainda mantêm uma estrutura um mais jovem e taxa de fecundidade maior graças ao peso da imigração.
FECUNDIDADE POR RENDA
Para Ana Amélia Camarano, do Ipea, a desigualdade na taxa de fecundidade entre mulheres de faixas diferentes de renda abre caminho para uma a queda rápida até os níveis dos países europeus do mediterrâneo e do Japão. Isso num cenário que em o rendimento dos mais pobres no Brasil avança mais rápido do que dos mais ricos.
Enquanto entre as mulheres da faixa de renda com os 20% menores rendimentos familiares a taxa de natalidade era de 3,6 filhos, na faixa dos grupos familiares dos 20% mais ricos estava em 0,9 filho –abaixo da taxa japonesa.
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