Nada nos consola mais que o esclarecimento intelectual, ou seja, o esclarecimento espiritual. Pois, do contrário, o efeito seria mais excelente que a causa, a obra mais estupenda que o autor, a música mais genial que o artista; enfim, nada é mais ofegante que o consolo sensível quando nega sua transcendentalidade, por enganador que é, visto que este só pode chegar às aparências, àquilo que é acidental, sem lhe ser possível possuir o essencial e substancial por si mesmo.
Uma vida sem um apaixonar-se, de nada vale. E as paixões aprisionam as potências sensitivas, sejam para o bem ou para o mal, já que a moralidade das paixões se dá pela submissão e império da razão. Assim, e faz mister, reconhecermos que sem este império da razão é impossível fazermos bom uso das paixões.
Entretanto, a razão natural impõe-nos limites insuperáveis, ou mesmo intransponíveis, que só sob a luz da fé poderemos encontrar repouso. Desse modo, a fé é a fonte que imana no deserto, no vale de lágrimas de nossas vidas.
E, dentre tantas angústias e sofrimentos que nos assolam, a que hoje lhes trago como Água Viva, pois o ensinamento do Magistério é o ensinamento de CRISTO, Único Magister do qual o magistério eclesiástico participa: como reagir à bonança dos maus e ao flagelo dos bons? Ou em outras palavras, como conceber um DEUS Providente, Bom em Si mesmo, Justo, Misericordioso, quando vemos crianças indefesas serem assoladas e ínfimos homens, ou mesmo nojentos, homens que lançam nossos vômitos à sua própria face estarem com boa fama, impunes etc?
A resposta dada pelo Magistério da Igreja acerca desta incógnita (ao menos para a razão natural) nos é dada, entre muitas explicações de Santos e do mesmo magistério, é a presente no Credo, no artigo referente ao Juízo Final. Este artigo ensina o seguinte: Há de vir para julgar os vivos e os mortos.
Como também a fortuna e a desgraça não fazem escolha entre bons e maus, era necessário provar que tudo é dirigido e governado pela infinita sabedoria e justiça de DEUS. Convinha, pois, não só reservar prêmios aos bons e castigos aos maus, na vida futura, mas também decretá-los num juízo público e universal, que os tornasse mais claros e evidentes a todos os homens.
Este artigo ensina-nos, entre tantos tesouros, que o juízo final será um grande consolo para os bons, vistos que estes, inclusive entre os Santos, por fraqueza humana, se lastimam em ver os maus na posse de grandes cabedais e dignidades. Tudo para a maior glória de DEUS. Pois, neste dia todos renderão louvores a DEUS.
Os meus pés por pouco não vacilaram, por pouco se não transtornaram os meus passos. Porque tive zelo sobre os iníquos, vendo a paz dos pecadores.
Devemos fortalecer nossos pés vacilantes, acautelando nossa ira com duas verdades sumamente luminosas. Primeira, que todos os maus serão punidos e conhecidos. Segunda, que nenhum homem pode, por si só e sem o auxílio da graça reconhecer-se pertencente ao mistério da piedade sem a possibilidade de perder tal graça, se é que a tem.
Ora, por esta razão a fé nos consola infinitamente. Se não estamos na graça, podemos pedir ao Senhor que nos coloque nela. Se nela estamos, mas nossos pés vacilam diante da impunidade dos ímpios ante a punição dos bons por permissão divina, podemos confiar e apaziguar nossos ânimos tendo esta verdade lenitiva doada por DEUS.
Tende coragem, EU venci o mundo! Que estas divinas palavras do Salvador dobrem até o chão tanto o nosso orgulho, escondido sob as aparências de pseudo-piedades, a qual é a presunção, como o nosso desânimo ante tantas injustiças.
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