No Credo nós professamos, conforme a Escritura, que o Senhor Jesus ressuscitado “está sentado à Direita de Deus Pai, donde há de vir em sua Glória para julgar os vivos e os mortos. E o seu Reino não terá fim”.
Esta Vinda gloriosa de Cristo no final dos tempos é chamada de Parusia do Senhor. A palavra grega “parusia” (= presença, vinda, chegada) era usada para significar a chegada solene do rei em uma determinada cidade. Quando ele chegava, provocava um ambiente de alegria e distribuía ao povo benefícios e alimentos em fartura. Os cristãos, ao pensarem na vinda do Cristo como Rei eterno, que virá trazendo a alegria da salvação final, deram a este último acontecimento da história humana o nome de Parusia do Senhor.
A idéia de que haveria um Dia do Senhor já existia desde o Antigo Testamento. O povo de Israel sempre teve consciência de que o seu Deus era o Senhor dos tempos, Deus que age na história humana, levando o seu povo para um futuro sempre melhor e cheio de esperança. Se observarmos bem os textos do Antigo Testamento aparece claro que Deus sempre está prometendo Israel um futuro de bênção e felicidade: ele é o Deus da Promessa, o Deus que nunca fica parado no presente, o Deus que sempre faz o povo caminhar ao encontro do futuro que ele preparou, futuro sempre melhor, futuro de vida. Neste sentido, as Escrituras Sagradas motivam sempre a esperança, sustentam a confiança do povo de Deus, mesmo nos momentos mais sofridos e tenebrosos de sua acidentada história. Israel viva desta certeza: o Senhor Deus não nos abandonará, ele nos prepara um futuro de salvação, ainda que no presente nos puna e corrija para nossa salvação. É por isso mesmo que aparece tanto nos profetas aquelas expressões: “eis que virá um tempo”, “eis que virão dias”, “naqueles dias”, “acontecerá no fim dos dias”...
Assim, enquanto para os pagãos o tempo nunca mudava e tudo que já tinha acontecido ia continuar sempre acontecendo e o mundo não tinha jeito mesmo, para o povo de Deus a história do mundo e a história de Israel tiveram um começo (“No princípio...” – Gn 1,1) e caminham para um destino, uma finalidade, uma plenitude, que o próprio Deus prometeu e preparou! Bastava que o povo não se fechasse para Deus, que aceitasse caminhar com o Senhor. Isto é muito importante, pois fica claro que não existe destino cego, fechado, à revelia da nossa liberdade: o homem é chamado a construir seu destino dizendo sim a Deus e caminhando para o futuro que ele lhe preparou. Cada pessoa é livre: pode dizer sim ou não ao convite de Deus!
Assim Israel foi tendo cada vez mais certeza de que Deus age na história, conduzindo todos os acontecimentos, não só os do povo santo, mas os de todos os povos da terra. Basta ver nos vários profetas os oráculos sobre as nações: Deus tem tudo nas suas mãos: o destino das pessoas e dos povos! O povo da Bíblia sabia que poderia se confiar nas mãos do Senhor e esperar num futuro no qual Deus iria agir de modo pleno, com uma intervenção fulgurante, mudando toda tristeza do seu povo em alegria, toda opressão em liberdade, todo pranto em sorriso, toda morte em vida.
Todo sofrimento do povo de Israel, todas as suas humilhações teriam fim e Deus iria consolar para sempre o seu povo, numa nova situação, em que não haveria mais dor, opressão, pecado nem morte. Este futuro é conhecido, no Antigo Testamento, com o nome de Dia do Senhor.
Será um Dia de Julgamento e de derrota para todo o pecado do mundo, para todo o mal praticado na história humana e um Dia de salvação e vitória para todos os amigos de Deus, particularmente para o povo de Israel. Por exemplo: “Os olhos orgulhosos do homem serão humilhados, e será abatida a arrogância humana; naquele Dia só o Senhor será exaltado. Porque é o Dia do Senhor Todo-poderoso contra tudo que é orgulhoso e arrogante, contra tudo que se exalta e que será humilhado (...); só o Senhor será exaltado naquele dia. Os ídolos desaparecerão completamente...” (Is 2,11s.18s). É importante observar que quando o Antigo Testamento fala desse Dia do Senhor usa comparações, imagens, figuras, metáforas, para ensinar que será um Dia solene e decisivo, Dia da verdade, Dia de julgamento, Dia que envolverá não somente a humanidade, mas toda a criação: “Tocai a trombeta em Sião, dai alarme em minha montanha santa! Tremam todos os habitantes do país, porque está chegando o Dia do Senhor! Sim, está próximo! É um Dia de trevas e escuridão, um Dia de nuvens e obscuridade”! (Jl 2,1s); “Colocarei sinais no céu e na terra, sangue, fogo e colunas de fumaça! O sol se transformará em trevas, a lua em sangue, antes que chegue o Dia do Senhor, grande e terrível”! (Jl 3,3s); “Eis que vem o Dia, que queima como um forno. Todos os arrogantes e os que praticam o mal serão como palha; o Dia que vem os queimará de modo que não lhes restará raiz nem ramo. Mas para vós que temeis o meu nome, brilhará o sol de justiça, que traz a cura em seus raios” (Ml 3,19s). Nestes textos, a imagem da trombeta significa solenidade, julgamento (pois os julgamentos e as entradas dos personagens solenes eram sempre anunciadas com o toque da trombeta), os sinais no céu e na terra são imagens para mostrar que esse Dia do Senhor terá importância para toda criação e o fogo recorda que o Senhor purificará sua criação de todo pecado e maldade. Trata-se de um tipo de linguagem chamado de linguagem apocalíptica, que descreve as coisas de modo bem estonteante, vivo, exagerado, em que o importante não são os detalhes, mas a idéia que as imagens querem transmitir!
Mais uma coisa: aos poucos, os profetas foram anunciando que este Dia do Senhor estaria ligado à chegada de um Personagem misterioso, chamado de Messias (= o Ungido de Deus) e, às vezes, de Filho do Homem: “Continuei a prestar atenção às visões noturnas, eis senão quando, com as nuvens do céu, vinha vindo um como filho de homem; ele avançou até junto do Ancião e foi conduzido à sua presença. Foram-lhe dados domínio, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam. Seu domínio é eterno e não acabará, seu reino jamais será destruído” (Dn 7,13-14). Esse Filho do Homem viria de junto de Deus (representado aqui pela imagem do Ancião, recordando a sua eternidade). Quando a profecia diz que ele vem sobre as nuvens, quer dizer que ele vem do mundo divino, que é alguém mais que um simples ser humano. Ele vem para estabelecer um reino eterno, reino de Deus, o Dia do Senhor! Assim, na esperança do povo de Deus, o Senhor mandaria Alguém, chamado de Messias ou Filho do Homem, um personagem misterioso, que traria consigo o Dia do Senhor.
Então, resumindo: (1) o povo de Deus sempre soube que sua história e a história de toda a humanidade estavam nas mãos de seu Deus; (2) este Deus preparava para o seu povo um futuro de salvação, alegria, plenitude e paz, chamado Dia do Senhor, (3) este Dia será de julgamento para os maus e os opressores do povo eleito, um Dia eterno, de uma situação completamente nova, (4) este Dia será trazido pelo Filho do Homem, pelo Messias.
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