VATICANO, 06 Jul. 11 / 02:52 pm (ACI)
Em declarações ao grupo ACI este 5 de julho, o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, assinalou que as recentes ordenações de 20 sacerdotes da Fraternidade São Pio X (lefebvristas) são ilegítimas.
Em resposta a uma pergunta da agência ACI Prensa o porta-voz vaticano disse que "enquanto a Fraternidade não tenha um status canônico na Igreja –sublinhaBento XVI– seus ministros não exercem um ministério legítimo n’Ela".
O sacerdote disse também que este status não será definido "até que os assuntos doutrinais sejam esclarecidos".
Recentemente os lefebvristas ordenaram sacerdotes na Suíça, Alemanha e nos Estados Unidos. Na cerimônia de ordenação de 17 de junho no seminário de Winona (Estados Unidos), o superior geral da Fraternidade São Pio X, Bernard Fellay, valeu-se da homilia para atacar o Vaticano por sua "inconsistência no diálogo" com sua organização.
Nesta ordenação de 5 sacerdotes, Fellay disse que "quando falo de contradição, meus queridos irmãos, refiro-me a que certas pessoas em Roma nos consideram fora da Igreja, excomungados, e inclusive como se tivéssemos perdido a fé e fôssemos hereges. Mas há outros que claramente nos aceitam como católicos".
A Fraternidade São Pio X reúne seguidores do Arcebispo francês Marcel Lefebvre, que faleceu excomungado em 1991, anos depois de ordenar quatro bispos sem autorização do Papa.
Em 24 de janeiro de 2009 o Papa Bento XVI decidiu levantar a excomunhão que pesava sobre estes quatro bispos: Bernard Fellay, Richard Williamson, Alfonso de Galarreta e Tissier de Mallerais.
No dia 29 de janeiro, ao final da audiência geral, o Papa explicou que a decisão de levantar a excomunhão, um "ato de paterna misericórdia", foi tomada porque os bispos até então excomungados, "tinham me manifestado várias vezes seu vivo sofrimento pela situação em que se encontravam".
Bento XVI expressou seu desejo de que "este meu gesto seja correspondido pelo compromisso solícito por parte deles de dar os ulteriores passos necessários para realizar a plena comunhão com a Igreja, testemunhando assim verdadeira fidelidade e verdadeiro reconhecimento do magistério e da autoridade do Papa e do Concílio Vaticano II".
Para precisar ainda mais os alcances do levantamento da excomunhão, no dia 4 de fevereiro de 2009 a Secretaria de Estado do Vaticano indicou em um comunicado que os quatro bispos estão obrigados ao "pleno reconhecimento do Concílio Vaticano II" e do Magistério de todos os Papas posteriores a Pio XII.
O texto também solicitava a um destes quatro, o bispo Richard Williamson, que nega o holocausto, que tome distância "publicamente e de modo totalmente inequívoco” das suas posições em relação à Shoah, “desconhecidas pelo Santo Padre no momento do levantamento da excomunhão".
A nota da Secretaria de Estado Vaticano explicava que "o levantamento da excomunhão liberou os quatro bispos de uma pena canônica muito grave, mas não mudou a situação jurídica da Fraternidade São Pio X, que no momento atual, não goza de nenhum reconhecimento canônico na Igreja Católica".
"Além disso os quatro bispos, embora já não estejam excomungados, não têm uma função canônica na Igreja e não exercem licitamente um ministério n’Ela".
Em outubro de 2009 o superior geral da Fraternidade, Bernard Fellay, assinalou que o Vaticano considerava a possibilidade de converter o seu grupo em uma Prelatura Pessoal, uma estrutura similar à do Opus Dei, como parte das discussões rumo à reconciliação.
Entretanto, em janeiro de 2010 o bispo negacionista do holocausto e um dos quatro da fraternidade São Pio X a quem o Papa Bento XVI levantou a excomunhão em 2009, Richard Williamson, assinalou que as negociações de seu grupo com a Santa Sé constituem "uma conversação entre surdos" na qual nunca se chegará a um acordo porque ambas as posições são "absolutamente irreconciliáveis".
Em fevereiro de 2011 Bernard Fellay confirmou esta opinião de Williamson e em uma entrevista com os membros de sua organização nos Estados Unidos, disse que no diálogo com a Santa Sé não puderam convencer os representantes do Vaticano de fazer que a Igreja retorne ao estado anterior ao Concílio Vaticano II, transgredindo a vontade do Santo Padre.
Fellay explicou nessa entrevista que a Santa Sé assinalou-lhes que "existiam problemas doutrinais com a Fraternidade e que os mesmos deviam esclarecer-se antes de um reconhecimento canônico" por parte da Igreja depois do levantamento das excomunhões.
Instrução sobre a Missa em latim
Do mesmo modo, em maio de 2011, a Pontifícia Comissão Ecclesia Dei divulgou uma instrução que regulamenta a celebração da Missa em latim com o Missal de 1962.
Um de seus principais pontos assinala aqueles que a solicitem não podem ser contrários ao rito ordinário, estendido atualmente em toda a Igreja Católica depois do Concílio Vaticano II, nem tampouco contrários à autoridade do Santo Padre.
Junto com a instrução "Universae Ecclesiae" que regulamenta o Motu Proprio do Papa publicado em 2007, o Diretor do Escritório de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, apresentou uma síntese do primeiro documento na qual se indicava o seguinte:
"É muito importante a elucidação (n.19), segundo a qual os fiéis que pedem a celebração em forma extraordinária ‘não devem sustentar ou pertencer de maneira nenhuma a grupos que se manifestem contrários à validez ou legitimidade da forma ordinária’ e/ou à autoridade do Papa como Pastor Supremo da Igreja universal. Isto estaria em total contradição com o objetivo de ‘reconciliação’ do Motu proprio mesmo".
Embora o ponto 19 da instrução Universae Ecclesiae não mencione nenhum grupo ou pessoa em específico, alguns afirmam que está dirigida aos lefebvristas agrupados na Fraternidade São Pio X.
Quando o Papa Bento XVI publicou o Motu Proprio Summorum Pontificum em 2007, os seguidores de Lefebvre reunidos na Fraternidade Sacerdotal São Pio X, viram com bons olhos esta decisão de liberar a celebração da Missa em latim que até esse momento só poderia ser celebrada com autorização do Bispo.
Entretanto, mantiveram através dos anos seu rechaço ao Concílio Vaticano II.
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