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Formação para Jovens

Espiritualidade, sexualidade, diverção, oração

25 de mar. de 2008

APRESENTAÇÃO DA PÁGINA DE INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO

01.

Nesta página oferecem-se diversos textos cujo conjunto tem como objetivo uma apresentação do Cristianismo. Sendo assim, convém explicar em que sentido deseja-se através deles apresentar o Cristianismo.


02.

Em meados do século XX Michael Schmaus, um teólogo suíço, escreveu um livro em cujo primeiro parágrafo colocava muito bem o problema que está na origem desta página. Na abertura de sua obra M. Schmaus dizia algo semelhante ao que se segue:



"O que vem a ser o Cristianismo?
O que ele quer?
Quais os serviços que ele presta
à humanidade?
A impressão que geralmente se tem
é que até hoje ele não forneceu
nenhuma auto explicação definitiva
e de valor irrevogável.
A razão de ser deste paradoxo
não consiste na obscuridade
do que chamamos de Cristianismo,
mas é antes uma consequência da plenitude
e da complexidade de sua essência e estrutura.
O espírito humano não é capaz
de compreender em uma só intuição
a totalidade de sua constituição".
Este autor foi muito feliz ao ter dito estas coisas sobre o Cristianismo, porque há muitas pessoas que se encontram diante do Cristianismo exatamente na posição que ele descreve. Tentaram compreender o que Jesus veio trazer à humanidade e, mesmo depois de terem lido o Evangelho muitas vezes, confessam estarem ainda diante da mesma pergunta inicial:




"O que vem a ser isto?"
"O que realmente ele pretende?"
Todas as tentativas de encaixarem o texto, que não é tão grande, do Evangelho dentro de seus quadros mentais se revelam insatisfatórios. O Evangelho, percebem estas pessoas, é algo mais. E não é só evidente que é algo mais, como também que é algo muito mais. Mas não é evidente o que seja este algo mais.
É então que surge a impressão de que até hoje ninguém tenha dado uma explicação definitiva e de valor irrevogável sobre o mesmo. É-se tentado a pensar que, além do próprio Cristo e dos seus primeiros apóstolos, nunca mais ninguém soube explicar de modo definitivo o que é o Cristianismo.
A razão de ser desta paradoxo, diz M. Schmaus, não consiste na obscuridade do que chamamos de Cristianismo, mas é conseqüência da plenitude e complexidade de sua essência e estrutura.


03.

E de fato é assim. Aqueles que se põem diante do Evangelho, no início não percebem toda a sua grandeza.
Mas, se têm a disposição de aceitá-lo por fé e colocá-lo sinceramente em prática com o desejo de vivê-lo profundamente, logo depois de algum tempo descobrirão estarem na presença de alguma coisa que está além de tudo quanto poderiam ter imaginado e que, mesmo assim, ainda agora seu próprio pensamento não consegue alcançar. Diante da plenitude de sua essência, percebemos que nossas categorias mentais são estreitas demais.


04.

No Evangelho há mais de uma passagem onde Jesus compara sua obra a um banquete em que todos são convidados, embora poucos atendam a este chamado. Ao Jesus dizer isto, estava cumprindo uma profecia escrita seiscentos anos antes pelo profeta Isaías, em que este profetizava a respeito do monte Sião, o monte sobre o qual estava construída Jerusalém, ou, literalmente, a cidade da paz:




"Sobre este monte,
o Senhor preparará
para todos os povos
um banquete de seletos manjares,
um festim de vinhos generosos.
Neste monte tirará o véu
que encobria os povos todos,
e a coberta que se estende
sobre todas as gentes.
Aniquilará para sempre a morte,
e o Senhor Deus enxugará
as lágrimas de todas as faces".





Is. 25,6-8
No Evangelho, na plenitude de sua essência, encontramos este banquete, preparado para todos os povos, de seletos manjares. O mais belo de todos os convites que Deus já dirigiu à humanidade consiste exatamente em convidá-los para este banquete, em que as faculdades espirituais do homem são elevadas até que ele possa compreender e participar desta plenitude.
Dizemos compreender, porque na última ceia o próprio Jesus o disse, dirigindo-se aos seus discípulos:




"Já não vos chamo de servos,
porque o servo não sabe
o que faz o seu senhor;
chamo-vos de amigos,
porque vos dei a conhecer
tudo aquilo que ouvi de meu Pai".





Jo 15, 15
Dissemos também participar, porque o Evangelho também assim o disse:




"A quantos o receberam,
deu-lhes o poder de se tornarem
filhos de Deus,
aos que crêem no seu nome,
e que não pelo sangue,
nem pela vontade humana,
mas de Deus nasceram.
De sua plenitude todos nós recebemos,
graça sobre graça".





Jo. 1, 12
Através dos textos encontrados nesta página desejamos responder a estas perguntas:




  • O que vem a ser o Cristianismo?
  • O que ele quer?
  • Quais são os serviços que ele
    presta à humanidade?

São as mesmas perguntas que se fêz Michael Schmaus. Porém o Evangelho é algo tão imenso e tão profundo que será impossível responder a estas perguntas, assim formuladas, nos textos desta página que agora empreendemos iniciar. Por causa disso o que iremos fazer será acender uma fagulha, um pequeno luzeiro, mas de maneira que, embora seja uma parte bem pequena da resposta, o seja de tal maneira que permita ter um vislumbre bem mais distante, que permita ter uma idéia mais sólida da ordem de coisas a que se refere o Evangelho e que possa servir como ponto de referência para cada um de nós no futuro.


05.

Dito isto, devemos também dizer que os textos aqui apresentados não foram concebidos para se tornarem agradáveis nem desagradáveis. Não são palestras de propaganda religiosa. O que pretendemos fazer com eles é o trabalho de uma construção sistemática. Cada um deles ocupa o seu lugar dentro de uma construção maior e foi pensado em função do lugar que deve ocupar no todo.
Seria como se fossemos construir um pequeno castelo com tijolos, assentando um de cada vez de acordo com a lógica da construção final, ainda que às vezes fosse mais agradável empilhar os tijolos de maneira diferente. No fim, só no fim ou perto do fim, quando o pequeno castelo estiver pronto, iremos subir nele para podermos enxergar mais longe.
Há dois motivos que nos levaram a fazer estas observações.
Caso alguém julgar algum destes textos fastidiosos ou difíceis, pense que o resultado final a ser obtido é o conjunto e não a beleza de cada um tomado individualmente.
Em segundo lugar, que não se julgue o conjunto destes textos por cada um deles tomado individualmente. Seria como julgar a aparência futura de uma casa supondo que um tijolo fosse uma amostra em miniatura do que iria ser a casa.


06.

Mas mesmo esta comparação do tijolo e da casa não é boa. Porque nós vamos usar a casa não para morar nela, mas para poder olhar mais longe, além dela. Com isto, temos uma outra observação inicial a fazer sobre o conjunto destas palestras. Na maior parte delas, do início até bem perto do fim, nós iremos acumular uma grande quantidade de dados. Próximo ao fim é que estes dados irão se juntar uns aos outros conduzindo a algo que é de uma ordem diferente deles próprios. Por que, porém, proceder assim?
Devemos dizer que este é o processo normal de trabalho da mente humana, tanto para as pequenas conquistas da inteligência, como para as grandes. A inteligência humana trabalha abstraindo as idéias que contempla dos dados dos sentidos reunidos pela faculdade da imaginação. Ela apenas alcança a essência das coisas após muita observação e alcançar as idéias mais profundas e abstratas requer freqüentemente, da maioria dos homens, que se debrucem sobre uma quantidade maior de dados do que as mais simples.
Podemos exemplificar este fato nas grandes conquistas da inteligência humana ao longo da história.
Vejamos o caso da Mecânica Newtoniana. Trata-se de uma das grandes façanhas do espírito humano. Ela é praticamente metade da Física Clássica e com ela se explica todo o movimento dos astros no céu e a maioria das obras da Engenharia Moderna. No entanto, toda ela pode ser resumida em três princípios, os famosos princípios de Newton da Mecânica e mais a fórmula matemática da lei da gravitação universal, F = G (M.m) / r2.
Para que, porém, Newton pudesse ter vislumbrado uma coisa aparentemente tão simples, e nela, todas as suas conseqüências, antes dele duas gerações de cientistas tiveram quw colecionar uma quantidade imensa de dados. Tycho Brahe, astrônomo, passou a vida inteira observando os astros e fazendo tabelas com estas observações. Ao morrer, não tinha ainda conseguido chegar ao que ele queria, e em seu leito de morte suplicou ao seu discípulo Kepler que jurasse que tanto trabalho não havia sido em vão. Seu trabalho não foi em vão; Kepler continuou as observações do mestre durante mais outra vida, chegando a sintetizá-las em três leis famosas. Todos estes dados passaram para Newton, aos quais ele acrescentou outras observações pessoais. Finalmente, certo dia, repentinamente, com a queda de uma maçã, Newton percebeu quais eram as leis que regiam tudo aquilo e mais um sem número de coisas. Esta intuição foi uma conquista puramente da inteligência, mas se ele próprio e mais duas gerações de sábios não tivessem coligido todos aqueles dados, ainda que uma caixa inteira de maçãs caísse sobre a sua cabeça, isso não faria com que Newton compreendesse as leis da Mecânica.
Podemos tomar um outro exemplo, vindo do campo da Filosofia. Implícita na síntese filosófico teológica de Santo Tomás de Aquino há uma série de princípios de grande alcance que foram descritos nas 24 teses tomistas redigidas por uma comissão de estudiosos na virada do século 19 para o século 20. Trata-se de um texto que pode caber em duas ou três páginas, mas quantos séculos não foram necessários para se chegar à evidência destes princípios, e da síntese que implicitamente se baseia sobre os mesmos! Veio, inicialmente, uma primeira síntese preparatória com Aristóteles, a qual teve que se utilizar de três séculos e meio de trabalho de filósofos gregos que o precederam, observando, dialogando, meditando e contemplando. Para se chegar a Santo Tomás de Aquino, teve que se somar a isto mais um milênio de sabedoria cristã, para que ele pudesse ter enxergado e descrito o que nos deixou. Hugo de S. Vitor, do qual, juntamente com Santo Tomás, muito se fala nestas páginas, foi um dos elos importantes que conduziram à obra de Santo Tomás de Aquino.
Mas estes são apenas exemplos; não se deseja aqui comparar as obras de Newton com as de Hugo de S. Vitor e S. Tomás de Aquino, que possuem outras características básicas muito diversas entre si. O que se quer é apenas trazer à atenção o fato de que o trabalho da inteligência, algo em que ambos estes exemplos certamente estavam implicados, tem os seus requisitos, e isto vale não só para as grandes conquistas da inteligência mas também para as outras menores que todos os homens precisam fazer e fazem ao longo de suas vidas. Quantas vezes as pessoas que se dedicam seriamente ao verdadeiro trabalho da inteligência em um dado momento não percebem, ao encontrar a evidência de uma verdade, como que seu espírito se enche de luz! Esta luz, diz Santo Agostinho, é imagem de Deus, pois, diz Agostinho,





"Está escrito: `Deus é luz'.
Não se creia, porém,
que é esta luz
que contemplam os olhos,
mas sim uma luz
como a que vê o coração
quando ouve dizer que

`Deus é verdade'".





De Trinitate VIII, 2
Mas esta mesma luz, se olharmos para trás em nossa atividade da inteligência, teve que se basear em um trabalho prévio de outra ordem.
É por este motivo que ao longo destes textos iremos desenvolver muitas coisas das quais não se conseguirá apreender de imediato qual a relação entre elas e o objeto das perguntas que são nosso ponto de partida e nossa meta. Trata-se de material que teremos que ir acumulando e de que faremos uso posteriormente.


07.

Esperamos, ademais, em tudo o que dissermos ser simultaneamente fiéis ao Magistério da Igreja e intransigentes na busca da verdade. Esperamos também deixar uma sadia impressão de como se pode nesta caso satisfazer plenamente às exigências de ambos estes critérios sem ao mesmo tempo transigir com nenhum dos dois. Ao tratarmos do Cristianismo, tema de nossas palestras, temos a intenção, ademais, de nos utilizarmos de fontes que pertençam reconhecidamente ao patrimônio filosófico e teológico da Igreja Católica ou que nela foram recebidos e desenvolvidos, como muitos trabalhos dos filósofos gregos. Utilizar-nos-emos também, de um modo especial, dos valiosos recursos que nos foram deixados para tanto na obra de Santo Tomás de Aquino e de Hugo de São Vitor.


08.

Como deve ter ficado claro, esta página não é uma catequese, nem pretende ensinar os rudimentos da doutrina ou da prática cristã. Seria muito desejável que os leitores conhecessem os rudimentos da doutrina, mais ainda se fossem cristãos praticantes, pois isto lhes permitiria compreender melhor o desenrolar das exposições. Os únicos requisitos para se poder acompanhar o diálogo com esta página, porém, são um certo nível de cultura geral e o desejo sincero de compreender o Cristianismo mais profundamente.
Os que não conhecem os rudimentos da doutrina poderão ler os capítulos de 1 a 20 do livro do Êxodo, que contém a narração da instituição da Antiga Aliança, e o Evangelho de São Lucas e os Atos dos Apóstolos, em que se narram a vida e os ensinamentos de Cristo e os primeiros anos da vida cristã. Poderão também consultar com proveito o Catecismo Romano, elaborado a pedido do Concílio de Trento e promulgado pelo Papa Pio V em 1566, ou o Catecismo da Igreja Católica, elaborado a pedido do Papa João Paulo II e promulgado por ele mesmo em 1992. Embora estes dois Catecismos estejam separados no tempo por mais de quatrocentos anos, ambos são textos de indiscutível valor perene. O primeiro exige, em relação ao segundo, algumas atualizações que são em sua maior parte apenas circunstanciais e cabem em notas de rodapé.


09.

Esta página também não se destina à conversão pessoal nem diretamente à prática do Cristianismo, mas não é impossível e talvez seja mesmo provável e algo que muito nos alegraria que, compreendendo alguém a beleza de uma determinada coisa, venha a desejá-la para si, especialmente quando esta coisa por sua natureza é acessível e se destina a todos os que a quiserem.


10.

Caso o leitor ainda não conheça bem os assuntos abordados por esta página, poderá aceitar nossa sugestão de começar a examinar o material apresentado estudando primeiro as



Notas sobre a Pedagogia de Hugo de São Vitor
e, em seguida, os capítulos I, III e X da Educação segundo a Filosofia Perene, capítulos estes respectivamente intitulados de





Introdução Geral , Pressupostos Históricos e
Perspectiva Teológica.
Estes quatro textos encontram-se, desde fevereiro de 1999, também disponíveis para download no Índice Geral deste site.


11.

Aos textos oferecidos nesta página desejaríamos que se acrescentasse a leitura de algumas biografias de pessoas que viveram profundamente o Cristianismo, até à sua essência. Se alguém jamais tivesse visto uma planta, nada melhor do que isto poderia ilustrar o que se pretende explicar com uma aula de Botânica. Gostaríamos que ninguém deixasse de ler pelo menos as seguintes duas obras, escolhidas não só pelo assunto, como também pelo modo com os seus autores abordaram a narrativa:





  • Os Santos que Abalaram o Mundo.


    Obra de René Fulop Muller, publicada no Brasil pela Editora José Olympio do Rio de Janeiro. Contém, em ordem cronológica e em linguagem muito agradável, as biografias de Santo Antão, Santo Agostinho, São Francisco de Assis, Santo Inácio de Loyola e Santa Teresa de Ávila.








  • Autobiografia de Santa Teresa de Ávila.


    Escrita por ela mesma no final dos anos 1500, conta hoje com várias traduções não só para a língua portuguesa, como também para a maioria das línguas modernas.


Para os que principiam a interessar-se pelo assunto, é recomendável que a leitura de Os Santos que Abalaram o Mundo venha antes, e até mesmo como uma introdução da Autobiografia de Santa Teresa de Ávila.

Fonte:  http://www.cristianismo.org.br/

18 de mar. de 2008

Santo Afonso de Ligório: Um padre tíbio mais desonra do que honra a Deus












 “O empenho com que os demônios trabalham na nossa ruína, deve excitar o nosso zelo, em assegurarmos a salvação. Ó, como esses inimigos terríveis porfiam em perder um padre! Ambicionam com mais ardor a perda dum padre, que a de cem seculares, não só porque a vitória alcançada sobre um padre é para eles um triunfo mais brilhante, mas porque um padre na sua queda arrasta muitos outros desgraçados para o abismo.”
- Santo Afonso de Ligório, A Selva
O mal da tibieza no Padre, III
* * *

O sacerdote não pode contentar-se com evitar os pecados graves

Santo Afonso de Ligório
Dirá talvez o padre tíbio: basta-me que não cometa pecados mortais e que me salve. — Basta que vos salveis? Não, responde Sto. Agostinho: visto que sois padre, estais obrigado a trilhar o caminho estreito da perfeição; se seguirdes pela via larga da tibieza, não vos salvareis. “Se dizeis: Basta, estais perdido”. Segundo S. Gregório, quem é chamado a salvar-se como santo, e quer salvar-se como imperfeito, não se salvará. Foi precisamente o que o Senhor fez ouvir um dia à bem-aventurada Angela de Foligno, falando-lhe assim: “Aqueles a quem dou luzes para caminharem na via da perfeição, e degradam a sua alma, querendo seguir pela via comum, serão abandonados em mim”.
Como vimos acima, é certo que o sacerdote é obrigado a tornar-se santo, quer pela sua qualidade de amigo e ministro de Deus, quer em razão das funções augustas que exerce, não só quando oferece o sacrifício da missa, mas quando se apresenta como mediador dos homens, diante da sua divina majestade, e quando santifica as almas mediante os sacramentos; porque é para o fazer caminhar na perfeição que o Senhor o cumula de graças e socorros especiais. Em presença disto, quando ele quer exercer com negligência o seu ministério, no meio de defeitos e faltas sem número, que não pensa em detestar, provoca a maldição de Deus: “Maldito o que faz a obra de Deus com negligência”. Esta maldição significa o abandono de Deus, diz Sto. Ambrósio. Costuma o Senhor abandonar essas almas que, depois de terem sido mais favorecidas com as suas graças, não cuidam de atingir a perfeição a que são chamadas. Quer Deus que os seus ministros o sirvam com o fervor dos serafins, escreve um autor; de contrário, há de retirar-lhes as suas graças e permitir que adormeçam na tibieza, para dali caírem primeiro no abismo do pecado, e depois no do inferno.
O padre tíbio, acabrunhado sob o peso de tantas faltas veniais e de tantas afeições desordenadas, permanece como que mergulhado num estado de insensibilidade. As graças recebidas e as obrigações do sacerdócio já o não tocam; por isso o Senhor na sua justiça o privará dos socorros abundantes, que lhe seriam moralmente necessários, para se desempenhar os deveres do seu estado. Assim irá de mal a pior; cada dia aumentarão os seus defeitos e também a sua cegueira. Havia Deus de prodigalizar as suas graças a quem se mostra avaro com ele? Não, diz o Apóstolo: “quem pouco semeia, pouco colhe”.
Declarou o Senhor que aumentará os seus favores aos que lhe testemunham reconhecimento e conservam as suas graças, mas tirará aos ingratos o que primeiro lhes tinha dado.
Noutra parte diz que, o senhor da vinha, quando não tira fruto dela, trata de a confiar a outros vinhateiros, e castiga os primeiros. Depois ajunta: “Por isso vos declaro que o reino de Deus vos será tirado, para ser dado a uma nação que colha fruto dele”. Significa que Deus tirará do mundo o padre tíbio, ao qual havia confiado o cuidado do seu reino, isto é, que tinha encarregado de trabalhar na sua glória, e que dará esse encargo a outros, que lhe sejam reconhecidos e fiéis.
Deve procurar-se na tibieza a razão por que muitos padres colhem pouco fruto, de tantos sacrifícios que oferecem a Deus, de tantas comunhões que fazem, e de tantas orações que recitam no Ofício e na Missa. “Semeastes muito e colhestes pouco… e o que tinha recebido o salário do seu trabalho, lançou-o num saco roto”. Tal é o padre tíbio: os seus exercícios espirituais lança-os ele todos num saco furado, quer dizer que não lhe resta nenhum merecimento; antes, ao fazê-los dum modo tão defeituoso se torna digno de castigo. Não, o padre que vive na tibieza não está longe da sua perda. Segundo Pedro de Blois, deve o coração do padre ser um altar em que não cesse de arder o fogo do amor divino. Mas que sinal de amor ardente dá a Deus esse padre, que se contenta com evitar os pecados mortais e não teme desagradar a Deus com as faltas veniais? Como observa o Pe. Alvarez de Paz, o sinal que dá é antes o de um amor bem tíbio.
Para fazer um bom padre não bastam apenas graças comuns e pouco numerosas; requerem-se graças muito especiais e abundantes. Ora, como quereria Deus prodigalizar os seus favores a quem se pôs a seu serviço, e depois o serve mal? Santo Inácio de Loyola chamou um dia um irmão leigo da sua Companhia, que passava uma vida muito tíbia, e falou-lhe assim: “Dize-me, irmão meu, que vieste fazer à religião?” Ele respondeu-lhe: “Vim para servir a Deus”. “Ah, meu irmão, replicou o Santo, que disseste? Se me tivesses respondido que foi para servir um cardeal, um príncipe da terra, terias mais desculpa; mas, visto que vistes para servir a Deus, — é assim que o serves?
Todo o sacerdote entra na corte, não dum príncipe da terra, mas noutra muito mais alta, — a dos amigos de Deus, onde se tratam continuamente e em confidência os negócios mais importantes para a glória da soberana Majestade. Donde procede que um padre tíbio mais desonra do que honra a Deus; porque dá a entender, pela sua conduta negligente e cheia de defeitos, que o Senhor não merece ser servido e amado com mais diligência; que, procurando agradar-lhe, não encontra prêmio que o faça bastante feliz; e que a sua divina Majestade não é digna dum amor tal, que nos obrigue a preferir a sua glória a todas as nossas satisfações.
Santo Afonso de Ligório, A Selva
O mal da tibieza no Padre, II