8 de abr. de 2010

A IGREJA DOS APÓSTOLOS


















Eu pensava que não existisse nenhuma dúvida, mesmo por parte dos protestantes, de que a Igreja Católica de hoje é a mesma Igreja primitiva da época dos apóstolos. Mas ouvi um amigo presbiteriano dizer que não é. Essa declaração me espantou por ser completamente sem fundamento. Depois fiquei pensando se haveria, afinal, algum fato histórico que pudesse fundamentar essa dúvida deles. Pois, se nossa Igreja é a Igreja de Cristo, que justificativa podem ter os protestantes para não pertencer a ela? Existe realmente alguma dúvida, entre os exegetas protestantes sérios, em relação a isso?
                                                                                   (José Carlos Meira e Silva – Goiânia/GO.)

            Compreendo a sua perplexidade. Também para mim é difícil entender a posição dos protestantes, ao menos quando são sérios e buscam realmente a verdade. Mas o fato é que, apesar das evidências, eles realmente não acreditam que nossa Igreja Católica de hoje seja aquela mesma que Jesus fundou. Segundo eles, a “Igreja primitiva” foi corrompida quando se “associou” ao império romano, com a conversão de Constantino por volta do ano 313.
A única explicação que encontro para esse fenômeno são os condicionamentos e “seleções” que nossa mente instintivamente elabora: a verdade nem sempre é tão fácil de ser percebida, por mais clara e límpida que seja. Nossos condicionamentos internos distorcem nossa percepção, fazendo-nos ver aquilo que queremos ver. E o que não falta aos protestantes são condicionamentos e doutrinações já inculcados desde o berço, de modo a arraigar neles essa atitude de prevenção e preconceito contra a Igreja Católica. De modo geral, eles não sentem necessidade de aprofundar o assunto, tão convictos estão de que não há o que discutir. E, quando confrontados com as evidências, recusam-se a admiti-las e mesmo a encará-las.
            Quando algum deles consegue romper essa barreira de preconceito e examinar a questão de forma imparcial, é quase certo que acabará por render-se à evidência da verdade, como tem acontecido muitas vezes. Isso, porém, não se faz sem duras lutas internas que nem todos têm a coragem de enfrentar, pois não é fácil renunciar à segurança do já conhecido, enfrentar o próprio preconceito e a oposição cerrada da comunidade e até da família, para arriscar-se na busca de algo novo, desafiador e inquietante. Muitos não suportam a pressão e preferem manter a consciência amortecida, o que é compreensível. Dos que aceitaram o risco, porém, nenhum se arrependeu, e todos se sentem plenamente recompensados. Recomendo-lhe vivamente a leitura do livro “Jornadas Espirituais”, da Editora Quadrante, que traz justamente o relato de várias dessas duras e corajosas jornadas rumo à verdade da fé Católica.
            Não existe nenhum fato histórico que justifique a convicção protestante de que a Igreja Católica não é a primitiva igreja dos apóstolos. A única justificativa é aquilo que você disse: “se eles aceitassem que é a mesma, não teriam motivos para ficar fora dela”. Por isso, são obrigados a “achar” que não é. E para isso, naturalmente, constroem teorias e interpretações históricas sobre bases falsas e visões distorcidas. Nenhuma de suas teorias resiste a uma análise serena e objetiva dos fatos e documentos.
            O estopim da reforma protestante foram alguns comportamentos inadequados por parte de alguns membros da Igreja. Depois, na esteira da ruptura consumada por Lutero, muitos acharam que a Igreja se tinha desviado da fé primitiva, e que, para recuperá-la, seria preciso romper com Roma. Tais pessoas não se consideravam propriamente fundadores de novas Igrejas, mas sim restauradores da Igreja primitiva, que se teria perdido.
            A intenção pode ter sido boa, mas a fundamentação era falha, porque baseada sobre um equívoco. Não é das atitudes individuais das pessoas que vem a credibilidade da Igreja, mas sim do magistério oficial centrado na autoridade do Papa, que define a reta doutrina. E o fato é que a doutrina da Igreja jamais ensinou os erros que a ela são atribuídos. Não havia nenhum motivo válido para contestar a autoridade do Papa, o que havia eram motivos humanos e políticos, como a rivalidade entre Roma e a Alemanha, e as correntes de pensamento daquela época, que, como reação ao absolutismo dos reis, tendiam a negar qualquer autoridade absoluta.
Só que a autoridade de Deus não pode ser comparada à autoridade dos homens, não pode deixar de ser absoluta. E é dela que decorre a autoridade do Papa, como ninguém pode negar a não ser de forma gratuita e sem fundamento, incorrendo em grave desobediência àquilo que Deus mesmo estabeleceu. Nenhum “reformador” tem como invocar autoridade maior para justificar sua posição, a não ser a própria convicção pessoal, que vale tanto quanto a de qualquer outra pessoa. E, se é assim, a nossa posição teria que valer pelo menos tanto quanto a deles...
            A autoridade que eles invocam é a da Bíblia, mas todos eles invocam a mesma Bíblia, e no entanto discordam entre si em muitos pontos. Também a Igreja Católica tem sua autoridade solidamente fundamentada na Bíblia, e no entanto eles não a reconhecem... o que mostra que a Bíblia, sozinha, não basta como garantia da Verdade, se cada um a interpreta como bem entende.
            Quem nega a autoridade da Igreja, portanto, acaba inevitavelmente caindo em contradições, erros e incoerências mais graves do que aquelas que dizem combater. Outro exemplo é o que se refere aos sacramentos, tão claramente instituídos por Jesus e vividos pela igreja primitiva, e no entanto esquecidos pelos protestantes (já que, por estarem desligados da sucessão apostólica, não possuem ministros autorizados para os sacramentos). Ou ainda a questão crucial da unidade de fé e de doutrina, tão exaustivamente recomendada por Jesus e pelos apóstolos, e, no entanto, também ignorada por eles. Mas eles simplesmente desconsideram esses pontos “difíceis”, recusam-se a examiná-los, preferindo centrar sua atenção em incompatibilidades fictícias, como a que insistem em ver entre o uso das imagens, o culto a Maria e aos santos ou a obediência ao Papa e a autoridade absoluta de Deus. Eles insistem em considerar como idolatria aquilo que, na verdade, são recursos deixados pelo próprio Deus para nos ajudar em nossa caminhada para Ele. Essas interpretações gratuitas e sem fundamento obscurecem o seu  entendimento, impedindo-os de enxergar a verdade.
            Resumindo: os protestantes não têm motivo algum para dizer que nossa Igreja não é a Igreja de Cristo. Mas imaginam que têm. E Deus permite tais coisas para nos provar e questionar, para manter-nos conscientes de nossa fragilidade e de nossos limites humanos, para que não sejamos tentados a confiar em nossas próprias obras ou capacidade. Vigiemos a nós mesmos e entreguemos a Deus aquilo que nos escapa, cientes de que “tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus”.

Margarida Hulshof
livro "A Noiva do Cordeiro"  Editora O Lutador

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