9 de nov. de 2010

Vinde, Senhor Jesus!

Em todas as Santas Missas, no Ofício Divino, bem como em todas as outras orações que rezamos, esta jaculatória se faz presente. Precisamente após a Consagração Eucarística, quando o Sacerdote diz: "Eis o mistério da fé", levantamo-nos, dizendo: "Anunciamos, Senhor, a Vossa Morte, e proclamamos a Vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus". Contudo, nós não temos noção do que pedimos. Explico.

Cristo se fez homem e habitou em nosso meio por vontade do Pai. Ele (o Pai) queria nos salvar a todo custo, pois o pecado de Adão nos privou de uma glória que recebemos gratuitamente. Só que Deus sabia que não poderíamos viver a Sua gGória por méritos próprios, pois perdemos todo e qualquer mérito com o pecado. A desobediência de Adão rompeu nossa ligação com Deus. E Deus quis fazer uma Nova e Eterna Aliança. Para tanto, enviou Seu Único Filho para fazê-la.

É verdade que fazer esta aliança não foi fácil, pois Deus, por ser Deus, respeita imensamente nossa liberdade. Mesmo revelando-se ao homem, o Senhor foi desacreditado a ponto de morrer num madeiro como o mais vil de todos os homens. Pobres de nós! Enquanto sujamos a imagem de Deus, O crucificamos. Nós é quem deveríamos ser crucificados como o mais vil dos homens, porque somos! Mas o Senhor não ficou preso a estes detalhes. Fez a Sua parte. Verteu até a última gota. E a Sua Morte mostrou o começo do tamanho de Sua Glória. Mal expirou e o Templo rachou ao meio. Os soldados perceberam que assassinaram um Justo. A Terra ficou abalada. Somente a Virgem Santíssima manteve-se em pé, porque cria nas promessas reveladas pelo Anjo a si. Sabia que tudo aquilo era necessário.

Diferente do que poderiam imaginar os Doutores da Lei, ao terceiro dia, eis que Aquele que é maior que a morte levantou-se com Seu Poder Infinito, surgindo para sempre. Mostrou aos seus a que veio. Ressuscitou, dando ao homem a esperança de seu caminho. O homem não foi feito para a morte, mas para a vida. E não uma mera vida, mas a eterna. Somos, de fato, como as sementes, que morrem para nascer. Quando morremos, partimos deste mundo pequeno para a o mundo eterno. Brotamos!

Contudo, não sabemos se estaremos com Cristo em Sua Glória. Será por que o Senhor teria falhado? Não. Só temos garantido a parte do Senhor para a nossa salvação, pois temos que cumprir a nossa parte. E em Suas Escrituras Jesus deixou isto permanentemente claro ao dizer que só os que morrerem com Ele é que com Ele viverão. Ninguém, por mais bom que tenha sido, viverá com Ele se não morrer para si. Eis aí a chave do segredo.

Morrer para si pode ter vários sentidos. Um deles é nular suas vontades para fazer tão somente a de Deus. E segundo São Luís Maria Montfort, aqueles que se tornam escravos de Jesus por Maria, fazem isso porque querem seguir à risca este morrer para si. Já não querem mais o seu querer, e sim, o de Cristo. Também na Santa Palavra de Deus encontramos o Apóstolo Paulo, em Gálatas 2,19-20, dando-nos o caminho para a morte de si:


"Estou pregado à cruz de Cristo; vivo, mas não sou eu. É Cristo que vive em mim. A minha vida presente na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus que me amou e se entregou por mim"


Estas palavras soam como música aos ouvidos daqueles que em Cristo esperam, e como algo atemorizante naqueles que dEle foge. São Paulo mostra que a essência da vida daquele que se dispõe a seguir Jesus é morrer para si a fim de que Cristo possa viver. E isso só é possível porque crê no plano salvífico de Deus para nós. Porquê São Paulo creu, entendeu que Cristo fez o que fez por amor, morreu para si mesmo, tomou a sua cruz e deixou que Cristo vivesse nele.

Mas há casos em que a morte não é apenas interior. Ela também se dá no campo exterior. E nestes tempos em que estamos vendo milhares de cristãos perseguidos mundo a fora. Um resto perseguidos por causa do Evangelho. Um resto destinados a morrer a si e ao mundo. Só que isto exige crer, e é preciso coragem para crer.  Não é possível viver o martírio interior e exterior apenas com sentimentalidades, com desejo de ser. Não dá para crer apenas porque sentiu, pois ao pedirmos o martírio, se o Senhor assim desejar, ele virá. E como suportaremos este destino se ainda não estivermos preparados?

No livro :A Vida Oculta em Deus - Robert de Langeac , existe um parágrafo que destaca bem o que quero dizer:

"Não procures nunca as coisas sensíveis, que não são sólidas.O homem compõe-se de uma parte espiritual e uma parte sensível; mas o que se passa na segunda ordem é completamente inferior, e, praticamente não deve contar. Deus é espírito. Só o espiritual é importante. É preciso antes de mais nada, temer as emoções sensíveis na vida espiritual, porque conduzem ao caminho errado. Julgamos estar no caminho da virtude porque as emoções são agradáveis; prendemo-nos a elas. O amor sensível provém do conhecimento sensível. Se nós pudéssemos compreender a diferença que existe entre o amor natural, mesmo por Cristo,e o amor sobrenatural,o verdadeiro amor da caridade! O elemento sensível deve ser eliminado para dar lugar ao espiritual."

Portanto, meus irmãos e irmãs, o martírio está longe, muito longe de um desejo sentimental. E isso ocorre porque a fé não é um sentimento, mas um ato racional. Para crer é preciso lógica. Não dá para crermos em algo que apenas sentimos. Os sentimentos nos enganam. E o martírio se opõe ao sentimento, pois todos temem perder a sua vida. Quem, sem motivo lógico, pediria para ser morto? Quem, em qualquer situação, daria a sua vida gratuitamente por uma causa que, a princípio, parece funesta? Ninguém. Martírio exige coragem. E Martírio é um processo. Começa com a morte a si, depois com as ridicularizações , com as perseguições - e tudo isto com o fim de nos preparar para o martírio supremo. Só por fim vem o martírio completo, com o sangue derramado. E nem sempre se têm mártires como os que apareceram por estes dias no Irã. Mas há mártires no mundo todo. E conforme o Catecismo da Igreja Católica, que diz:


 
§2473 O martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé; designa um testemunho que vai até a morte. O mártir dá testemunho de Cristo, morto e ressuscitado, ao qual está unido pela caridade. Dá testemunho da verdade da fé e da doutrina cristã. Enfrenta a morte num ato de fortaleza. "Deixai-me ser comida das feras. E por elas que me será concedido chegar até Deus."



 
eles são importantes, pois ao vê-los, sentimos em nós o desejo gigante de testemunharmos a Cristo até o sangue, se necessário for.

Retomo, aqui, a oração citada no primeiro parágrafo deste texto: "Anunciamos, Senhor, a Vossa Morte, e proclamamos a Vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus".  Anunciar a morte de Cristo e a Sua Ressurreição só será possível se morrermos para nós. É só pelo martírio que conseguiremos anunciar completamente este mistério de fé do plano salvífico.

Por mais triste que seja, devemos nos alegrar enormemente com as perseguições. Sem elas não poderemos triunfar eternamente. É pelo fogo que se experimenta o ouro e a prata (cf. Eclo 2). E enquanto não aceitarmos esta provação pelo fogo, enquanto não morrermos para nós mesmos, jamais poderemos bradar: "Vinde, Senhor Jesus", pois Sua Vinda não será em tempos de paz, e sim, de guerra. Aquele que assim clama deve estar pronto para dar a sua vida por Cristo.

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2 comentários:

  1. Sempre acreditei que Fé não é sentimento, já que acreditar no que não se vê é preciso coragem. Nunca vi o Senhor, nem ouvi Sua Voz...mas sei que Ele existe e ouvi minha oração. JESUS EU CONFIO EM VÓS.

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  2. É isso aí, Ricardo!
    A fé não precisa ser São Tomé. Basta sabermos em QUEM acreditamos.

    Continue firme no Senhor Jesus!

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