6 de out. de 2011

O “comércio de óvulos” já é uma triste e preocupante realidade no mundo.


Zenit:

Entrevista com Jennifer Lahl, presidente do Centro de Bioética e Cultura.

O comércio de óvulos é uma atividade de bilhões de dólares. Nos Estados Unidos, uma verdadeira indústria. Mas começam a aparecer histórias de mulheres exploradas que arriscaram a vida com a estimulação excessiva para extração de óvulos.

No mundo inteiro existem anúncios em busca de mulheres jovens que queiram vender seus óvulos por dezenas de milhares de dólares. A venda é apresentada com finalidade humanitária: os óvulos serviriam “para realizar o sonho de quem sofre a infertilidade”.

Mas quem são as doadoras de óvulos? São tratadas com justiça? Ou são vítimas do cínico utilitarismo do mercado? Quais os riscos no curto e no longo prazo para a sua saúde?

O Centro de Bioética e Cultura (Center for Bioethics and Culture Network, http://www.cbc-network.org/) nos fala da sua pesquisa a este respeito no documentário Eggsploitation: The infertility has a dirty little secret [A óvulo-exploração: segredinhos sujos da infertilidade] (www.eggsploitation.com).

Depois de ver o documentário, Kelly Vincent-Brunacini, presidente da associação Feministas pela Vida, de Nova Iorque, disse que Eggsploitation é um trabalho convincente e revelador, que mostra ao espectador a outra face da indústria da infertilidade.

As três mulheres que dão seus depoimentos no documentário arriscaram a vida por causa das complicações associadas à doação de óvulos. Uma sofreu uma embolia que lhe danificou o cérebro, outra desenvolveu câncer e a última tem vários problemas de saúde provocados pela superestimulação dos ovários.

Para aprofundar o tema, cujas implicações médicas e sociais serão cada vez mais notáveis, ZENIT entrevistou Jennifer Lahl, Presidente do Center for Bioethics and Culture Network.

Você poderia nos contextualizar sobre o filme?

J. Lahl: Eu sou a autora, produtora e diretora de Eggsploitation, que ganhou o prêmio de melhor documentário no California Independent Film Festival 2011. O filme já foi vendido para mais de 30 países.

Você fala de segredinhos sujos da indústria da infertilidade. Quais?

J. Lahl: Os “segredinhos sujos” são muitos. Por exemplo, as mulheres não são informadas dos riscos e das complicações no curto e no longo prazo. E não têm acompanhamento quando começam a sofrer problemas de saúde. É evidente que as mulheres não podem ser informadas adequadamente sobre os eventuais riscos para a saúde. Existe muita hipocrisia, eles falam de doação de óvulos, mas é uma “venda” condicionada pelo utilitarismo de mercado. O consentimento é comprado, porque as mulheres precisam de dinheiro. É evidente que os médicos deveriam exigir um correto consentimento informado, deveriam ter os dados científicos para fazer estudos amplos e impedir a oferta de dinheiro.

Nós descobrimos que alguns remédios para a fertilidade nunca receberam aprovação das autoridades para este uso particular. O Lupron, por exemplo, foi aprovado pela U.S Food and Drug Administration (FDA) para o câncer de próstata em estado terminal, mas não para a ovulação excessiva. Então as ilegalidades da indústria da infertilidade são graves e numerosas: não existe nenhum estudo de longo prazo sobre os riscos para a saúde, as violações do consentimento informado, a corrupção induzida por dinheiro, a pouca ou nenhuma proteção à doadora, ainda mais quando os óvulos são danificados.

Quais são os números do comércio de óvulos?

J. Lahl: É muito difícil quantificar o número de doações de óvulos. A maior parte é feita sem registro nenhum. É um setor em expansão e fora de controle.

Quem são as doadoras de óvulos?

J. Lahl: Normalmente são mulheres de 21 a 30 anos, que estão na etapa de maior atividade reprodutiva. Na maior parte dos casos são mulheres que precisam de dinheiro. Nos Estados Unidos, a maioria são estudantes universitárias de 19 a 25 anos, que têm que pagar a universidade, o aluguel… Nos países mais pobres, são mulheres que têm que pagar o aluguel da casa, a comida…

Quais são os riscos para a saúde no curto e no longo prazo?

J. Lahl: No curto prazo são todos os vinculados com a superestimulação dos ovários (OHSS), além de embolias, aumento de peso, desequilíbrios hormonais e psicológicos… Os riscos no longo prazo são os tumores, em particular os do aparelho reprodutivo, e problemas de redução da fertilidade.

Não é paradoxal que sejam feitos 50 milhões de abortos por ano quando existem pessoas dispostas a tudo parater óvulos que possam ser fecundados?

J. Lahl: Sim, é um paradoxo cínico. Crianças concebidas são jogadas no lixo e são gastos recursos enormes para explorar o corpo de outras pessoas e fazer vidas em laboratório!

Não seria melhor deixar para adoção os bebês que não são desejados?

J. Lahl: Num mundo de amor, o melhor seria que as mães e os pais acolhessem todos os bebês concebidos. Temos muito trabalho para incentivar as mães e pais a terem seus filhos em vez de abortar. Se eles não se sentem capazes de cuidar dos próprios filhos, não é fácil convencê-los a favorecer a adoção.


Fonte: http://www.comshalom.org

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