27 de mar. de 2012

"Destruam todas as igrejas"

Abdulaziz ibn Abdullah Al al-SheikhImaginem se Pat Robertson [1] clamasse pela demolição de todas as mesquitas na América. Isso seria destaque em todos os jornais. Estaria nos noticiários de cada canal de televisão. Haveria uma demanda para que os cristãos o denunciassem, e eles o fariam – nos termos mais duros. O Presidente dos Estados Unidos e outros líderes mundiais também se pronunciariam. E com razão.

Então, por que é que quando Abdulaziz ibn Abdullah Al al-Sheikh, o Grão-Mufti [2] do Reino da Arábia Saudita, declara que é “necessário destruir todas as igrejas na Península Arábica”, a grande mídia não vê nisso como digno de ser noticiado? E ninguém, até onde eu saiba, notou que ele disse isso para membros de um grupo terrorista.

Eis os fatos: alguns membros do parlamento kuwaitiano têm procurado demolir igrejas, ou pelo menos proibir a construção de novas, dentro do país. Assim, levantou-se a questão: o que a Sharia, a lei islâmica, diz a respeito disso?

Uma delegação do Kuwait pediu conselhos ao Grão-Mufti saudita. Ele respondeu que o Kuwait faz parte da Península Arábica – e qualquer igreja dentro da Península Arábica deve, realmente, ser destruída porque a alternativa seria aprová-las. O Grão-Mufti explicou: “O Profeta (que a Paz esteja com ele) nos ordenou: ‘Duas religiões não podem coexistir na Península Arábica’. Assim, construir [igrejas], em primeiro lugar, não é permitido porque esta Península deve ficar livre [de outras religiões].” Na Arábia Saudita, evidentemente, templos não-islâmicos foram banidos há muito tempo e não-muçulmanos são proibidos de pisarem seus pés em Meca e Medina.

E tem mais: os espectadores kuwaitianos eram da Sociedade de Reavivamento da Herança Islâmica (Revival of Islamic Heritage Society – RIHS). Pode soar bastante inocente, mas algumas pesquisas feitas por Steve Miller, pesquisador da Foundation for Defense of Democracies, revelaram que, dez anos atrás, grupos da RIHS no Afeganistão e no Paquistão foram designados pela ONU como associados a – e provedores de fundos e armas para – “Al-Qaeda, Osama bin Laden ou o Talibã.”

O governo norte-americano foi mais longe, denunciando que a sede da RIHS no Kuwait por “fornecer apoio financeiro e material para a Al-Qaeda e suas aliadas, incluindo o Lashkar e-Tayyiba [3]” que teve “envolvimento no ataque a múltiplos trens em Mumbai, em julho de 2006, e no ataque contra o parlamento indiano em dezembro de 2001.” Tais atividades levaram escritórios da RIHS a serem “fechados ou ocupados pelos governos da Albânia, Azerbaijão, Bangladesh, Bósnia-Herzegovina, Camboja e Rússia.”

Isto deve ser enfatizado: Al al-Sheikh não é o equivalente árabe para algum pastor desconhecido da Flórida. Ele é a maior autoridade religiosa da Arábia Saudita, onde não há separação entre mesquita e Estado, e a religião estatal é a ultra-ortodoxa/fundamentalista leitura do Islã conhecida como Wahhabismo [4]. Ele também é membro da principal família religiosa do país.

Em outras palavras, seus pronunciamentos representam a posição oficial da Arábia Saudita – um país que, segundo nos dizem há tempos, mudou de curso após o dia 11 de setembro de 2001 e é agora nosso firme aliado na área do antiterrorismo.

Nada disso teria sido esclarecido se não fosse por Raymond Ibrahim, Shillman Fellow no David Horowitz Freedom Center e pesquisador associado do Middle East Forum. Ele foi o primeiro a chamar atenção para as declarações do Grão-Mufti baseado em três sites em língua árabe: Mideast Christian News, Linga Christian Service e Asrare, também um folhetim cristão. Ocorreu-me então que, talvez, essas fontes tivessem compreendido mal ou exagerado as declarações. Então, pedi a Miller, que lê árabe, que fizesse uma pesquisa mais profunda. Ligações para o escritório do Departamento de Estado e a embaixada da Arábia Saudita foram infrutíferas, mas ele encontrou as declarações do Mufti em um bem conceituado jornal kuwaitiano, Al-Anba, em 11 de março.

Tudo isso ajuda a compor o quadro da mais importância notícia que a grande mídia insiste em ignorar: a expansão e a intensificação da perseguição de cristãos em países de maioria muçulmana (um assunto sobre o qual já escrevi antes, aqui por exemplo, bem como Ibrahim, mais recentemente, aqui). Igrejas foram alvo de incêndio e/ou bombas no Egito, Iraque, Nigéria, Paquistão, Indonésia e nas Filipinas. As antigas comunidades cristãs de Gaza e da Cisjordânia estão minguando. No Paquistão, Asia Bibi, uma mulher cristã, foi condenada à pena de morte por supostamente “insultar” o Islã. No Irã, Youcef Nadarkhani está no corredor da morte pelo “crime” de escolher o Cristianismo ao invés do Islã.

Na semana passada, como informou Nina Shea, a Comissão dos Estados Unidos sobre Direitos Humanos Internacionais (Uscirf) emitiu seu 14º relatório anual identificando os piores países opressores do mundo. Dos 16 países, 12 são de maioria muçulmana.

Por que os jornalistas que cobrem o Departamento de Estado e a Casa Branca não estão questionando oficiais da administração se estão preocupados com o fato de a maior autoridade religiosa da Arábia Saudita ter se encontrado com aliados da Al-Qaeda e lhes ter dito que, sim, igrejas cristãs devem ser destruídas? Por que os jornalistas que cobrem as Nações Unidas decidiram que essas questões não são de interesse da chamada comunidade internacional? E quanto aos centros para “entendimento Islâmico-Cristão” que foram estabelecidos – com dinheiro saudita – em universidades como Harvard e Georgetown: acaso supõem que não há nada aqui para tentar entender – nenhuma necessidade de investigação acadêmica sobre a perspectiva saudita/wahhabista no incêndio de igrejas e nas relações com grupos terroristas?

Meu palpite é de que tudo dito acima os persuadiu de que há aqui questões mais sérias para se preocupar, como a epidemia mundial da “islamofobia” e a necessidade de impor penas severas aos seus responsáveis. Eu entendo. De verdade.


Notas:

[1] Pat Robertson é um advogado e famoso tele-evangelista norte-americano.

[2] O Grão-Mufti é a maior autoridade religiosa em um país islâmico de tendência sunita. Nos países xiitas, seu equivalente é o Aiatolá.

[3] Lashkar e-Tayyiba (“Exército de Deus”) é um grupo terrorista islâmico indo-paquistanês, um dos maiores em atividade na região.

[4] O Wahhabismo foi um movimento religioso fundado pelo teólogo islâmico Muhammad ibn Abd al-Wahhab (1703 – 1792) e tinha por objetivo purificar o Islã de quaisquer inovações e influências externas. Foi através da adesão e da divulgação das idéias wahhabistas que a família Al-Saud unificou o Levante e instaurou a atual monarquia saudita.



Clifford D. May
é presidente da Foundation for Defense of Democracies.


Tradução: Felipe Melo, editor do blog da Juventude Conservadora da UNB.

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