25 de jun. de 2012

O abismo de corrupção na eleição para prefeito de São Paulo

Prof. Hermes Rodrigues Nery
Duas imagens recentes nos chocaram por estampar uma realidade atual de aguda degradação moral e de um pragmatismo utilitário levado às últimas conseqüências, a tornar ainda mais perigoso o campo político em que se movem os tomadores de decisões do nosso País, no momento.
A primeira, de algumas semanas atrás, com a presidente Dilma Roussef (ventríloco de Lula) a abraçar Dom Paulo Evaristo Arns, que a recebeu de braços abertos, de modo efusivo.
Dilma Rousseff e o cardeal vermelho Evaristo Arns
Foto estampada na capa dos principais jornais brasileiros, a expressar que o projeto político do Partido dos Trabalhadores (PT), executado com eficácia pela presidente-burocrata, tem sintonia com as opções ideológicas favorecidas pelo cardeal Arns, especialmente durante sua gestão à frente da Arquidiocese de São Paulo.
Quanto joio foi espalhado por aquele imenso território arquidiocesano, e que o PT hoje faz de tudo por conquistar, como um último ato a preceder a dominação total no cenário nacional.
Por isso o afã de Lula em eleger Haddad prefeito da maior cidade do Brasil, e para isso não recusou protagonizar a segunda imagem impactante reproduzida pela imprensa em 19 de junho, do aperto de mão de Lula com Maluf, tendo Haddad ao meio, feito uma salsicha num sanduíche mal temperado, que poderá provocar uma má digestão, de graves consequências ao combalido sistema político instrumentalizado pelo PT para impor a sua ditadura.
Lula, Haddad e Maluf, em Sao Paulo
O último lance do macunaímaco Lula faz empalidecer Maquiavel, Gramsci e Goebbels. Quando Fernando Henrique Cardoso (FHC, o badalado príncipe dos sociólogos que encantava estudantes da Sorbonne em 1968) se aliou a Antonio Carlos Magalhães, muitos torceram o nariz. Depois se conformaram dizendo que era necessário "sujar as mãos" como ensinou Sartre, para garantir a governabilidade.
Na época FHC escandalizou com a sua frase "esqueçam o que escrevi". Aquilo foi café pequeno perto do que vemos hoje: Lula na casa de Maluf, no Jardim Europa, em São Paulo, apertando as mãos do anfitrião. Mais café pequeno ainda foi o que aconteceu com Celso Pitta (prefeito de São Paulo apadrinhado por Maluf), que não se cansou de repetir nos programas eleitorais para que o povo não votasse mais nele se Pitta fosse uma decepção.
Todos sabem o que aconteceu com Pitta, como ele terminou seus dias, depois de ser moído pelas moiras malufistas. Na realidade, quem mais ganhou neste acordo até então inimaginável, foi o próprio Maluf, pois quem sabe dão agora uma trégua a ele, depois de incomodá-lo tanto com os seus feitos passados. E Lula se mostra com tudo isso, ser também um títere de forças mais poderosas que estão manejando-o (de fora, do exterior) para acentuar ainda mais a revolução cultural em curso, cujas diretrizes estão explícitas no Plano Nacional de Direitos Humanos.

A subversão dos anos 70-80 fez de Lula um monstro político

Em 1981, em entrevista à Interview, FHC explicou a Oswaldo Martins: "A esquerda toda aqui em São Paulo tem votação nos bairros de classe média e classe média alta. Eu verifiquei os dados e descobri que os deputados mais combativos tem a grande votação aí, não na grande periferia" (1). E falando com Judith Patarra, o mesmo FHC foi bombástico em declarar que ser intelectual é "ser subservivo" (2). Tanto FHC quanto Lula vieram, portanto, do mesmo substrato ideológico: a subversão.
Fernando Henrique e Lula em 1978, panfletando juntos em Sao Bernardo do Campo
Afinal, FHC e Lula se conheciam desde 1972, em São Paulo, quando ele já atuava no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), financiado por recursos vindos da ONU. O mesmo FHC conta que na transição dos anos 70-80, no esforço de subverter e mudar a sociedade (e sua mentalidade), a Igreja Católica foi uma das esferas escolhidas para — de modo gramsciano, de infiltração lenta e cirúrgica — o germe da subversão agir.
E naquele contexto (início do processo de redemocratização), investimentos foram feitos para transformar Lula no monstro político que é hoje. O que esteve em jogo nas greves do ABC, onde despontou Lula no cenário brasileiro, foram os primeiros experimentos do amálgama de forças para subverter o Brasil e chegar ao caleidoscópio que primeiro iludiu, e depois absorveu e fez a substância pastosa que hoje transformou a política num jogo de frankesteins.
De "estranhos morais" que se chocaram naqueles tempos sedutores, chegamos à amoralidade perigosa, preparando terreno para uma ditadura muito mais corrosiva, porque sem rosto, que age por dentro do sistema, manipulando, enganando, destruindo almas, despessoalizando e tornando a sociedade palco de um show bizarro, como indivíduos sem vida dançam narcotizados, os embalos de thriller.
Naquele período, a Igreja Católica começou então a ser instrumentalizada, e muitos contribuíram para isso.  Talvez daí a importância do abraço de Dilma Roussef no Cardeal Arns, justamente no período pré-eleitoral, de uma disputa em São Paulo, onde o PT quer fincar de vez lá, no território governado Dom Paulo, nos anos estratégicos da ascensão de Lula. FHC relembra dizendo que foi "no ABC, e especialmente em São Bernardo" (3), que se deu "o nascimento do espírito da comunitas de modo muito vivo." E acrescenta: "e é isso que dá à presença da Igreja o fulgor inegável". Então, a eleição do candidato do PT ou do PSDB representa apenas dois lados de uma mesma moeda.
Mas, de novo, enganam-se os que pensam que o bispo instiga e o cardeal comanda. A Igreja Católica fornece apenas a moldura; dentro desta o espírito que frutifica é o da igualdade mística num nós coletivo que dissolve momentaneamente hierarquias" (4). O fato é que, desde aqueles tempos em que FHC e Lula panfletavam juntos nas ruas, a Igreja no Brasil foi instrumentalizada para viabilizar um projeto político que tanto FHC quanto Lula estiveram comprometidos desde o início, e que agora a adesão a Maluf significa o passo decisivo "para fortalecer o projeto político, que está dando certo", conforme afirmou Haddad em entrevista coletiva nos jardins da mansão de Maluf (5). O que antes era perspectiva, hoje é projeto político que está dando certo.

A influência vem de fora

Numa conversa que tive com Fernando Henrique, em sua casa, em 1988, ele me disse que trabalhou nos Estados Unidos "num local chamado Institute for Advanced Study (Instituto de Estudos Avançados)". E explicou: "Este instituto foi criado na década de 30 para Albert Einstein, por ocasião de sua estada lá, e hoje é um grande instituto de estudos avançados (...) com uma pequena seção de Ciências Humanas, cujo estimulador naquela época era o professor Albert Goldsmidt, que é muito amigo meu, e o José Serra (que trabalhava conosco).
Prof. Hermes Nery e FHC
Fui lá então duas vezes. Passei dois períodos da minha vida lá, no que eles chamam de think bank (Banco do pensamento). Você fica lá, não tem nada a fazer, a não ser uma vez por semestre uma palestra na hora do almoço. Isso supõe que eles recrutam pessoas que tenham capacidade de elaboração intelectual" (6). O processo não é muito diferente do que aconteceu na Europa, por exemplo, quando também lá as instituições acadêmicas foram tomadas, ainda no início do século XX para a difusão do marxismo.
Foi assim que FHC foi recrutado por um think bank, para gestar a subversão que anos depois ajudaria a promover, primeiramente via CEBRAP (que "começou fazendo pesquisas sobre a população" (7), depois como senador, ministro e, enfim, presidente da República, até entregar muito satisfatoriamente o poder ao presidente-operário, transformado em raposa das raposas, em lobo blindado pela imprensa. E, aos poucos, o lobo foi engolindo, um a um, as víboras da arena política, até chegar aonde está hoje, como uma (ainda faminta por mais poder) ratazana de esgoto.
Hoje, às vésperas do julgamento do mensalão, a ratazana se move pelos esgotos escuros da política moralmente nocauteada, que ele ajudou a obscurecer até chegar ao câncer de um gangsterismo que toma conta assustadoramente, sem que saibam os como conter ou mesmo erradicar. Sem desmerecer a ameaça do candidato do PSDB, que não é menos esquerdista, a eleição de Haddad é favorecer ainda mais este gangsterismo, de que Lula é hoje o chefe. É um títere de forças internacionais, mas como um cabeça de um esquema que a muitos favorece. Resta apenas conquistar São Paulo, para tornar de vez a política no Brasil, inteiramente amoral e instrumento de uma barbárie de conseqüências imprevisíveis.
Hermes Rodrigues Nery é especialista em bioética, pós-graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, professor, escritor e jornalista, coordenador do Movimento Legislação e Vida, da Diocese de Taubaté.

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